SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Não deixa de ser curioso, e talvez não seja fruto do acaso, que uma produção norte-americana com um grau de erotismo acima da média como "A Lista: Você Está Livre Hoje?" tenha o elenco recheado de atores estrangeiros: o australiano Hugh Jackman e o escocês Ewan McGregor nos papéis centrais, além da inglesa Charlotte Rampling e da canadense Natasha Henstridge em pontas de cama.
Certo moralismo de fachada, associado com freqüência à escalada conservadora da era Bush, orienta esse suspense ambientado no mundo corporativo. Quem leva o espectador até lá é um contador (McGregor) que faz auditorias em empresas de Nova York. Certa noite, enquanto imagina por que um casal de faxineiros foi ao banheiro com a empresa deserta, ele recebe a visita de um advogado (Jackman) que também fazia serão e que logo se estabelece como o seu inverso: mais bonito, extrovertido, experiente (inclusive com mulheres) e bem-sucedido.
Envaidecido pela amizade com figura tão sedutora e movido pela perspectiva de escapar à sua aborrecida circunstância, o contador vive, por acidente, alguns dias na pele do advogado e conhece tanto a "lista" do título brasileiro quanto o torpedo de celular que gerou o subtítulo (o original é apenas "Deception", engano ou trapaça).
Sexo e dinheiro, não necessariamente nessa ordem, governam a partir daí o pesadelo, em teia de ilusões que o roteirista Mark Bomback ("Duro de Matar 4.0") já havia utilizado em "O Enviado" (2004): as coisas não são o que parecem, exceto se o espectador já viu tantos filmes que se tornou capaz de enxergar além dos truques.
Embora o clima de suspense seja caprichado (o diretor é o estreante Marcel Langenegger) e os atores correspondam ao jogo de contrastes e incertezas, o fascínio por reviravoltas rocambolescas quase ridiculariza o contador, por mais que haja a apologia dos "certinhos".