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São Paulo, quinta-feira, 06 de fevereiro de 2003

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TEATRO

Marcelo Marcus Fonseca dirige texto de Eduardo Ruiz sobre amor proibido do soberano da Inglaterra no século 14

"Eduardo 2º" recria paixões do rei inglês

Lenise Pinheiro/Divulgação
Os atores Gabriela Flores e Marat Descartes em cena de "Eduardo 2º", que estréia amanhã em SP


DA REPORTAGEM LOCAL

As tramas palacianas costumam ser marcadas pela imponência dos integrantes da corte, pela grandiloquência dos interesses do reino. Em "Eduardo 2º", o autor Eduardo Ruiz (de "A Casa Antiga") desce ao rés-do-chão das paixões para reinventar as vicissitudes provocados pelo amor homossexual do rei da Inglaterra.
O personagem-título, que já foi revisitado no teatro pelos dramaturgos Christopher Marlowe (1564-1593), inglês, e Bertolt Brecht (1898-1956), alemão, menospreza a rainha Isabella (Gabriela Flores) e mobiliza a todos, subalternos e povo, por causa da relação com Gaveston (Gustavo Machado), um plebeu.
O espetáculo estréia amanhã no porão do Centro Cultural São Paulo, espaço Ademar Guerra, sob direção de Marcelo Marcus Fonseca. O elenco é caracterizado pela junção de atores vindos de outras companhias.
Tomado por seu amor proibido, Eduardo 2º (Elcio Nogueira Seixas) vai contra tudo e todos. "Ele vê a vida de uma forma que é condenada pela humanidade. Não separa a alma da carne, ao contrário do que ocorria na Idade Média. Faz do seu amor algo concreto, não uma utopia", afirma Seixas, 30, que pertence ao grupo Teatro Promíscuo, da Mostra de Dramaturgia Contemporânea.
Diante do quadro, a rainha Isabella luta em vão, boa parte da peça, por um aceno de sentimento amoroso por parte do homem com quem viveu anos. Mas Eduardo, depois de Gaveston, nunca mais foi o mesmo.
"Nada me interessa em sua vida; só quero o coração do homem que amo", ouve, prostrada, da boca do rei que diz ser tomado por um "ódio lúcido" diante da prisão do seu amante.
"Sua relutância em rogar pelo amor de Eduardo é porque ela se acha predestinada a um homem só, como rainha-mãe. A Isabella tem uma crença forte nos valores do Estado, de Deus", afirma Gabriela Flores, 28, ex-integrante do Centro de Pesquisa Teatral do Sesc (foi Hécuba em "Fragmentos Troianos", sob direção de Antunes Filho).
Gaveston, o pivô da tragédia, aparece como um intruso. Além da origem plebéia, é um hedonista convicto. Atiça os desejos inconscientes de Isabella e provoca seus detratores, como Mortimer (Marat Descartes), espécie de braço-direito de Eduardo 2º, e o bispo conspirador (Caco Mattos).
"Ele é um marginal à moda de Jean Genet", diz Gustavo Machado, 30, citando o escritor francês autor de "Querelle".
Eduardo 2º chega a delegar o poder da coroa ao amante, instaurando de vez o caos. Mortimer e o bispo tramam o assassinato de Gaveston. De roldão, o soberano também morre.
"Consegui não deixar uma visão única de encenador. Está tudo nas mãos dos atores, que vieram de escolas diferentes", afirma Marcelo Marcus Fonseca, 31.
Além dos preconceitos, segundo o diretor, o texto coloca em xeque a hipocrisia da igreja e do Estado "que ainda impera nos dias de hoje". (VALMIR SANTOS)

EDUARDO 2º - De: Eduardo Ruiz. Direção: Marcelo Marcus Fonseca. Com Wanderley Martins, Alexandre Piccini, Ricardo Neves e outros. Onde: Centro Cultural São Paulo - espaço Ademar Guerra (r. Vergueiro, 1.000, Paraíso, tel. 0/xx/11/3277-3611). Quando: estréia amanhã; sex. e sáb., às 20h; dom., às 20h. Quanto: R$ 10. Patrocínio: Lucky Salgadinhos.


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