São Paulo, domingo, 06 de fevereiro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MÔNICA BERGAMO

Movida a dendê

Ana Ottoni/Folha Imagem
A cantora costuma jogar buraco e ler revistas enquanto faz massagem e até um tipo de drenagem linfática nas cordas vocais com Janaína Pimenta dentro do seu avião, avaliado em US$ 5 milhões


Em uma terra onde o que não falta é gente tratando o outro por "meu rei", ela é cortejada como se portasse cetro e coroa. Ivete Sangalo parece rainha na Bahia. Há sempre um séquito à sua volta, principalmente durante o Carnaval, quando ela sobe numa espécie de carruagem moderna para cantoras baianas -o trio elétrico- e canta para cerca de 1 milhão de pessoas por noite. Ela tem quem cuide do seu corpo, da sua voz, da sua segurança, dos seus contratos e até da chave do carro. A cada passo, cinco pessoas, no mínimo, estão ao seu lado. Todos filtram qualquer inconveniente que possa atrapalhar sua performance. Ivete é uma mulher rica: mora num condomínio de luxo perto de Salvador, dirige uma caminhonete escoltada por seguranças e tem até avião particular.
 

A Folha acompanhou Ivete Sangalo por 12 horas na semana pré-carnavalesca, antes de ela seguir para um show em Juazeiro (BA), onde nasceu há 32 anos. A coluna viajou em seu avião modelo Citation, assistiu a uma sessão de ginástica e aos preparativos vocais aos quais ela se submete, antes e depois das quatro horas em que canta 60 músicas em cima de um trio elétrico. Ivete não bebeu álcool, não fumou e quase não comeu durante todo o tempo. Seis quilos mais magra depois de uma dieta que começou em agosto, ela garantiu a performance no interior da Bahia à base de banana, açúcar mascavo e frutas, além de beber muita água.
 

Caçula de cinco irmãos, Ivete nasceu em família de classe média que perdeu tudo depois da morte do patriarca -a mãe morreu há poucos anos. Quando adolescente, a cantora chegou a vender "quentinhas", mas hoje emprega boa parte da família e garante salário para 300 funcionários. A carreira começou há 11 anos, quando assumiu o posto de vocalista da Banda Eva. Cinco anos depois estreou como cantora independente e tornou-se hóspede periódica dos rankings de discos e DVDs mais vendidos no Brasil - no total, 8 milhões de cópias. O último CD, "Ivete Sangalo - MTV ao Vivo", vendeu 500 mil cópias. O DVD, 300 mil em quatro meses, é o mais vendido da América Latina.
 

Ivete costuma receber convidados em sua casa somente após as 14h, já que seu "expediente" segue pela madrugada. Em Salvador, é vizinha de celebridades como o casal Carla Perez-Xanddy e o pugilista Popó, mas diz que eles não costumam se visitar. "Margareth Menezes é a mais próxima de mim, dentre todos os artistas baianos", diz. A casa que ela comprou há cinco anos tem dois pavimentos e não chega a ser luxuosa. Tem piscina, churrasqueira, academia com 15 aparelhos e um minicampo de futebol. Atualmente solteira, Ivete vive com cinco empregados domésticos e quatro labradores. A casa nunca fica vazia por causa das visitas dos irmãos e de assessores.
 

"Eu odeio quando ela volta de viagem com uma barriguinha e dizem que ela está grávida", afirma o assessor especial Dito Espinheira, 39, um dos mais próximos, enquanto assiste a uma sessão de ginástica da amiga. Ivete malha uma hora e meia, diariamente, na academia caseira. "Sempre peguei pesado. Eu nunca fiz lipo e tenho receio de qualquer tipo de cirurgia. Fazer exercício é necessidade." Ela empurra 120 quilos nos exercícios com as pernas. Na esteira, passa 40 minutos. O esforço junta-se ao que ela perde durante um show: dois quilos, em média.
 

A cantora também faz exercícios no minicampo de casa: corre, salta, desvia de obstáculos. Depois, treina boxe. Para cada etapa, uma trilha sonora. Para os abdominais, ouve Jackson do Pandeiro. Durante a corrida, Stevie Wonder. No alongamento, Jack Johnson. No seu iPod ela armazena, ainda, Prince, Menudo e a própria voz. "Eu me ouço, mas não é toda hora. Minha onda é o funk", garante. Quantas músicas ela tem gravada no iPod? "Aí você me apertou sem me abraçar", afirma a cantora. Pós-treino, Ivete come iogurte e toma água-de-coco. Na folga, carrega no dendê. "Meu prato predileto é qualquer coisa com bode."
 

O cuidado com a voz é outro item de luxo. Um mês antes do Carnaval ela hospeda a fonoaudióloga mineira Janaína Pimenta, 30, que sai de casa só por causa de Ivete, levando na bagagem um programa de análise acústica da voz. "Se ela perde graves, fazemos exercícios para a recuperação deles. O mesmo serve para os agudos", diz Janaína, que faz plantão no trio elétrico. A fonoaudióloga usa aparelhos que fazem uma espécie de drenagem linfática nas pregas das cordas vocais. Depois do show, ela impede que a cantora fale qualquer coisa por mais de uma hora. "O desaquecimento pós-show é pouco comum entre as cantoras. Por causa da disciplina, Ivete pode cantar seis horas seguidas, enquanto a maioria não agüenta duas."
 

A única coisa que Ivete faz questão de fazer sozinha é dirigir. "Meus bíceps eu desenvolvi dentro de um Lada. Hoje eu gosto de dirigir jipes", diz. O avião que ela comprou é brinquedo novo. Quanto gastou nele? "Três sacos de babalu e um copo de mingau", brinca. Ele está avaliado em US$ 5 milhões (cerca de R$ 13 mi). No aeroporto de Salvador, fica estacionado perto do avião do senador Antonio Carlos Magalhães. "ACM é homem forte, determinado. Quando o conheci, ele disse: "O que você precisar na sua carreira, pode contar comigo'", conta Ivete. "Nunca precisei." E o presidente Lula? "Está cumprindo suas promessas paulatinamente. Só acho que a saúde do brasileiro está bem precária."
 

No avião cabem sete pessoas e a autonomia de vôo é de três horas e meia. A banda de 17 músicos segue em ônibus. Para o show em Juazeiro, foram 40 minutos de vôo contra oito de estrada. No avião, Ivete costuma jogar buraco, ler revistas de celebridades e telefonar. Na viagem, falou com a cantora Sandy, que fazia aniversário. Quando chegou ao trio elétrico Maderada -um dos três que ela administra-, por volta das 22h, a banda já estava a postos. "Ai, meus amigos estão todos velhos! Casaram, tiveram filhos e eu tô encalhada. Quem quer casar comigo?", gritava, do trio. "Tento viver uma vida normal. Sou notada, me assediam. Fazer um programa a dois é que é difícil." Ivete reclama que não pode ir a festas porque sempre tem de dar canja. "Mas eu eu me aproveito muito do fato de ser famosa para paquerar todo mundo." E é bom estar solteira no Carnaval? "Nem me fale..."


Texto Anterior: O despertar de um HOMEM
Próximo Texto: Carnaval: Repórter Vesgo será porteiro no Gala Gay
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.