São Paulo, terça-feira, 06 de fevereiro de 2007

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Varejão mostra novas obras em Tóquio

Individual da artista carioca reúne 24 trabalhos, entre eles pinturas inéditas tematizando piscinas

RAQUEL WAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE TÓQUIO

Ao ver pela primeira vez um quadro da série "Saunas", da carioca Adriana Varejão, a curadora Yoko Uchida, do Museu de Arte Contemporânea Hara, de Tóquio, não se deu conta de que estava diante do trabalho de uma artista que já conhecia.
O quadro em questão -um cômodo azulejado, vazio e silencioso- aparentemente em nada lembrava as telas com pedaços de carne e vísceras brotando de azulejos portugueses. "Já tinha visto obras dela antes, mas não percebi que a autora daquela pintura serena era a mesma das peças grotescas e políticas que eu conhecia", explica Uchida.
Dois anos depois, a serenidade de "Saunas" e os trabalhos feitos por Adriana na década de 90 e no final de 2006 estão na primeira exposição individual da artista no Japão, aberta no último dia 27, no Hara.
São 24 obras, entre pinturas, desenhos, fotografias e uma instalação, que mostram a passagem da fase histórica -na qual usava a estética barroca para abordar a colonização e a formação da identidade brasileira- para a fase atual, em que dialoga com a arquitetura, explora a geometria e introduz o elemento água na pintura.
As seis telas mais recentes ainda não tinham sido expostas. "Praticamente todas as piscinas foram feitas para a exposição. Essa série é tão nova que a tinta está quase fresca", diz Varejão, que deu as últimas pinceladas em novembro.
Nelas, a artista cria ambientes tridimensionais com banheiras e piscinas e, do mesmo modo que em "Saunas", batiza os quadros atribuindo a eles uma personalidade: "O Húngaro", "A Princesa", "O Perverso", "O Virtuoso", "O Sonhador", "O Voyeur".
A intenção, conta Adriana, era criar um ambiente psicológico. "É como se existisse um personagem dono daquele ambiente", diz ela. "Acho que esses ambientes também têm um certo erotismo, estava lendo muito Sade, Bataille."
Além das telas expostas dentro do museu, no jardim foi "plantado" um muro de azulejos, o mesmo feito em tamanho maior para o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) e reproduzido no MAM de Recife e na Bienal de Liverpool, no ano passado. No muro, Adriana faz uma taxonomia de 50 tipos de plantas alucinógenas.
O muro vai entrar também para a coleção permanente do museu, que recentemente adquiriu uma obra de Varejão, a tela "Swimming Pool" (2005). Segundo a curadora Yoko Uchida, o quadro era cobiçado pela Fundação Cartier, de Paris.

Várias fases
Quem visita a exposição sem conhecer a trajetória da artista pode ter dificuldade em perceber como se deu a transição entre a fase "política", mais visceral, para a fase geométrica e arquitetônica. Isso porque faltaram as pinturas em três dimensões que não se apoiavam em suporte algum e mostravam pedaços de parede azulejada. No interior deles, havia carne -como em "Ruína de Charque" e em "Linda da Lapa".
Foi o trabalho de fotografar azulejaria que levou Varejão a ambientes como botequins do Rio e banheiros. DE início, apenas os azulejos a interessavam, mas depois se viu fotografando também os ambientes. "Foi uma mudança natural. O trabalho virou uma pintura totalmente no espaço e começou a copular com a arquitetura."
A direção da pintura também mudou. Se antes as peças de carne faziam a obra transbordar e invadir o espaço, agora o espaço tridimensional toma forma dentro da pintura e "captura" o espectador.


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