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"Não sou apegado a bens materiais", diz Edemar
Ex-banqueiro costuma visitar mostras que tragam obras de sua coleção de arte
Condenado por fraude e formação de quadrilha, ex-controlador do Banco Santos teve 12 mil obras apreendidas pela Justiça
DA REPORTAGEM LOCAL
Toda vez que vai aparar os cabelos no Jassa, o ex-banqueiro
Edemar Cid Ferreira tem de
encarar duas esculturas do italiano Galileo Emendabili
(1898-1974) que pertenceram a
sua coleção, mas que hoje estão
expostas na praça Luís Carlos
Paraná, no Itaim Bibi, zona
oeste de São Paulo.
São duas das cerca de 12 mil
peças que compunham a célebre (e bilionária) coleção de arte do ex-controlador do Banco
Santos.
Condenado sob acusação de
fraude e formação de quadrilha, ele teve parte da coleção sequestrada pela Justiça Federal
em 2005 e colocada sob guarda
provisória de diversos museus
de São Paulo, entre eles, o Museu de Arte Contemporânea
(MAC) -que exibe 83 obras de
sua coleção desde janeiro- e o
Museu de Arte Sacra.
Desde que deixou a prisão,
em agosto de 2006, após 89 dias
encarcerado, Edemar mantém
uma rotina de visitas às exposições em que figuram obras da
coleção que mantém em nome
da empresa Cid Collections.
"Visitei todas, menos esta de
agora, porque não sabia que ela
existia", disse, por telefone, à
Folha.
(FERNANDA MENA)
FOLHA - Como são suas idas a museus para ver obras da sua coleção?
EDEMAR CID FERREIRA - Eu sinto
um prazer imenso em vê-las
expostas. Primeiro porque não
sou um colecionador que tem
sentimento de propriedade. Segundo porque sempre quis
mostrar a cultura brasileira.
FOLHA - Então não sente falta de
tê-las em sua casa?
EDEMAR - Não. Não tenho saudades de nenhuma. Não sou
apegado a bens materiais. Sou
desprendido. Tenho apego apenas por um quadro da minha
mãe, que, mesmo amadora,
pintava bem. Embora essas
obras sejam minhas -minhas
não, das empresas que eu administrava-, desde que estejam
sendo expostas, está ótimo.
FOLHA - O sr. não se importaria se
as obras fossem mantidas nos museus onde estão hoje?
Edemar - Não! Mas acho que
tem um aspecto jurídico: a decisão está errada porque não
devo esse dinheiro que dizem
que eu devo. Se elas ficarem nos
museus, não tem o menor problema. Se forem a leilão, acho
que as coleções de mapas, de
cerâmica etc. não deveriam ser
fracionadas porque elas perdem o valor do conjunto.
FOLHA - O mercado de arte serve
para lavagem de dinheiro?
EDEMAR - Não vejo assim! Desde que tenha origem, recibo,
não tem lavagem. Mas obra de
arte, em geral, não exige recibo.
Cadê o recibo? Cadê a declaração? Não se faz! Talvez venhamos a fazer por uma questão de
educação fiscal. Mas essa história de lavagem de dinheiro é
uma grande besteira. Nunca tinha ouvido falar disso daí. Não
acho que o Naji nem o Abadía
nem eu fizemos isso. O Naji é
um homem "clean".
FOLHA - Por que, então, suas obras
estão expostas com as deles?
EDEMAR - Acho que é um trabalho político, no sentido de mostrar que a justiça está sendo
cumprida eficazmente.
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