São Paulo, sábado, 06 de fevereiro de 2010

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"Não sou apegado a bens materiais", diz Edemar

Ex-banqueiro costuma visitar mostras que tragam obras de sua coleção de arte

Condenado por fraude e formação de quadrilha, ex-controlador do Banco Santos teve 12 mil obras apreendidas pela Justiça

DA REPORTAGEM LOCAL

Toda vez que vai aparar os cabelos no Jassa, o ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira tem de encarar duas esculturas do italiano Galileo Emendabili (1898-1974) que pertenceram a sua coleção, mas que hoje estão expostas na praça Luís Carlos Paraná, no Itaim Bibi, zona oeste de São Paulo.
São duas das cerca de 12 mil peças que compunham a célebre (e bilionária) coleção de arte do ex-controlador do Banco Santos.
Condenado sob acusação de fraude e formação de quadrilha, ele teve parte da coleção sequestrada pela Justiça Federal em 2005 e colocada sob guarda provisória de diversos museus de São Paulo, entre eles, o Museu de Arte Contemporânea (MAC) -que exibe 83 obras de sua coleção desde janeiro- e o Museu de Arte Sacra.
Desde que deixou a prisão, em agosto de 2006, após 89 dias encarcerado, Edemar mantém uma rotina de visitas às exposições em que figuram obras da coleção que mantém em nome da empresa Cid Collections.
"Visitei todas, menos esta de agora, porque não sabia que ela existia", disse, por telefone, à Folha. (FERNANDA MENA)

FOLHA - Como são suas idas a museus para ver obras da sua coleção?
EDEMAR CID FERREIRA - Eu sinto um prazer imenso em vê-las expostas. Primeiro porque não sou um colecionador que tem sentimento de propriedade. Segundo porque sempre quis mostrar a cultura brasileira.

FOLHA - Então não sente falta de tê-las em sua casa?
EDEMAR - Não. Não tenho saudades de nenhuma. Não sou apegado a bens materiais. Sou desprendido. Tenho apego apenas por um quadro da minha mãe, que, mesmo amadora, pintava bem. Embora essas obras sejam minhas -minhas não, das empresas que eu administrava-, desde que estejam sendo expostas, está ótimo.

FOLHA - O sr. não se importaria se as obras fossem mantidas nos museus onde estão hoje?
Edemar - Não! Mas acho que tem um aspecto jurídico: a decisão está errada porque não devo esse dinheiro que dizem que eu devo. Se elas ficarem nos museus, não tem o menor problema. Se forem a leilão, acho que as coleções de mapas, de cerâmica etc. não deveriam ser fracionadas porque elas perdem o valor do conjunto.

FOLHA - O mercado de arte serve para lavagem de dinheiro?
EDEMAR - Não vejo assim! Desde que tenha origem, recibo, não tem lavagem. Mas obra de arte, em geral, não exige recibo. Cadê o recibo? Cadê a declaração? Não se faz! Talvez venhamos a fazer por uma questão de educação fiscal. Mas essa história de lavagem de dinheiro é uma grande besteira. Nunca tinha ouvido falar disso daí. Não acho que o Naji nem o Abadía nem eu fizemos isso. O Naji é um homem "clean".

FOLHA - Por que, então, suas obras estão expostas com as deles?
EDEMAR - Acho que é um trabalho político, no sentido de mostrar que a justiça está sendo cumprida eficazmente.


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