São Paulo, sexta, 6 de fevereiro de 1998

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Sarajevo constrói museu com solidariedade

Artistas do mundo inteiro doam obras e viabilizam a construção do museu de arte contemporânea da cidade, destruída por quatro anos de guerra

Reprodução
Obra do londrino Julian Opie, que foi doada ao futuro museu do projeto Sarajevo 2000


CELSO FIORAVANTE
enviado especial a Sarajevo

Um museu de arte contemporânea construído com solidariedade. Essa é a idéia básica do projeto Sarajevo 2000, passo importante na reabilitação cultural da cidade, destruída por quatro anos de cerco sérvio, que deixou 10 mil mortos na cidade (1.600 crianças). Ontem fez quatro anos que os sérvios realizaram o mais sangrento ataque a civis da cidade, ao explodir um morteiro em seu mercado central, que resultou em 68 mortos e 197 feridos.
O conceito do museu é bem simples. Artistas, curadores e cidades amigas de Sarajevo promovem mostras coletivas de doação ao museu, que deverá ser inaugurado no verão de 1999 com a exposição de todas as obras. Até lá, a cidade promotora deve também se comprometer a conservar sua parte do acervo. Até o momento, o museu já conta com obras de artistas como Anish Kapoor, Panamarenko, Bill Viola, Jannis Kounellis, Sophie Calle e Marina Abramovic (leia quadro nesta página).
Até o momento, já foram realizadas mostras na Itália (Milão, Prato e Veneza) e na Eslovênia (Liubliana). A próxima será inaugurada no museu Ludwig, de Viena, em 26 de outubro, com a curadoria de seu diretor, Lorand Hegyi, um especialista na arte contemporânea produzida no Leste Europeu. As cidades de Barcelona e Estocolmo também já demonstraram interesse em sediar as próximas mostras.
Segundo Ilija Simic, presidente do comitê-diretor do projeto, o fato de ser criado apenas com a solidariedade alheia não comprometerá a qualidade do acervo. "O projeto é concebido sim como de solidariedade, mas do mais alto nível. Somos protegidos pelo nosso conceito. Não teremos artistas menores, pois estamos trabalhando com os mais conceituados curadores e instituições culturais do mundo e eles estão por trás das escolhas. Sob a nossa coleção, assinam os mais importantes críticos, curadores e instituições do mundo", disse Simic à Folha.
A idéia surgiu de uma necessidade estratégica da cidade. Impossibilitada de realizar sua 3ª bienal, a "Documenta Yugoslavika", e de se comunicar com o exterior devido ao cerco sérvio, optou-se por se criar, a partir de uma sede no exterior, uma iniciativa que denunciasse a injustiça que a cidade estava sendo vítima e que envolvesse outras comunidades.
"Vivíamos em um período de sangue. Queríamos colaborar com o país de uma forma diferente, não com as armas. Estávamos seguros que a cultura tinha seu papel mesmo na guerra", disse Simic.
A sede provisória do museu em Saravejo é o Centro Skenderija, espaço que conta com 70 mil metros quadrados para diversas atividades, como shows, atividades esportivas, mostras de arte, congressos e feiras. Abriga ainda a galeria mais importante da cidade, o Colegium Artisticum.
Os interessados em obter mais informações ou colaborar com o projeto Sarajevo 2000 podem entrar em contato com Enver Hadziomerspahic, coordenador do projeto no exterior: piazza Ricasoli, 1, 50.020, Panzano, Greve in Chianti, Itália, tel./fax 00 39 55 852-814.



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