São Paulo, sexta, 6 de fevereiro de 1998

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MÚSICA
Cantora veterana lança disco novo no Brasil e prepara homenagem ao centenário do poeta García Lorca
Ana Belén revela nova safra espanhola

SYLVIA COLOMBO
Editora-assistente interina da Ilustrada

"A Espanha fica ao lado dos Estados Unidos". A frase, da cantora espanhola Ana Belén, vem carregada da insatisfação que ela professa com o que chama de "regras do mercado".
Belén, que está lançando seu novo disco no Brasil, falou à Folha por telefone, de Madri, pouco antes de iniciar uma turnê latino-americana que, segundo ela, não virá ao Brasil porque "quem manda na indústria de discos tem mais interesse em divulgar a música norte-americana e britânica do que em promover intercâmbio entre os países de língua portuguesa e espanhola".
A angústia de Belén tem sua razão de ser. Enquanto para os espanhóis ela é uma espécie de Caetano Veloso, no que diz respeito à atuação política e cultural, no Brasil seu nome surge apenas esporadicamente e ainda assim como figurante em algum projeto -como o papel de líder de uma milícia durante a Guerra Civil Espanhola em "Liberdade" (96), de Vicente Aranda.
A intérprete aproveita "Mírame" para lançar novos compositores espanhóis. André Molina, Pedro Guerra e o grupo de mambo/salsa/jazz (e talvez axé) Ketama -este último dividiu com os brasileiros Jorge Ben Jor e André e Zé Gomes a noite latina do último Festival Midem em Cannes- têm composições gravadas por Belén.
"É uma nova safra de bons compositores espanhóis, gostaria de vê-los fazendo sucesso, pois suas canções fazem com que se respire a música de uma outra maneira." Ela destaca nesses trabalhos a força da "canção de texto".
Também ela se dedica a procurar "bons textos". Seu próximo trabalho, em fase de gravação, reúne alguns poemas de García Lorca (1898-1936) para a comemoração do seu centenário, que acontece em toda a Espanha neste ano. A vida e a obra do escritor granadino serão celebradas também em exposições, ciclos cinematográficos e reedição de obras. "É um marco em nossa literatura e em nossa vida política", diz Belén.
Ao falar de política, Belén relembra os anos em que militou ao lado dos comunistas na Espanha. "É fácil se envolver em causas que são óbvias, significa simplesmente enxergar o que está na frente de nossos olhos", completa.
"Mírame" traz ainda uma composição de Chico Buarque, "Mar y Luna". "Chico é importantíssimo em minha vida, é mais que um cantor, é um poeta inspirado." Sua canção, entretanto, contrasta com peças de gosto duvidoso, como aquela em que divide os vocais com Antonio Banderas.


Disco: Mírame Artista: Ana Belén
Lançamento: BMG
Preço: R$ 18 (em média, o CD)



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