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LIVRO LANÇAMENTO
'Feliz 1958' é curioso e desapontador
DAVID DREW ZINGG
Colunista da Folha
Esse é um
grande e fascinante livro; esse
é um livro curioso e desapontador. Parte
do problema, é
claro, está nos
olhos de quem lê, no caso eu.
Este escritor viu o Rio pela primeira vez em 1959, um ano depois
do curto período de 1958 que o autor desse volume recheado de informações tomou por tema.
O final dos anos 50 era um período mágico para os viajantes. Este
jovem repórter voou de uma Nova
York frenética para a cultura estranha, assombrosa, que era o
Brasil de então.
Eu bem poderia ter pousado em
um planeta estranho e distante,
povoado por ETs tropicais pulsando de samba e esperança em
um futuro ainda intocado por
problemas desagradáveis como a
economia, a ditadura e as diferenças de classe.
O livro, que traz de volta à vida
essa terra estranha e distante, chama-se "Feliz 1958: O Ano que Não
Devia Terminar", do jornalista
Joaquim Ferreira dos Santos.
O Rio de Janeiro em 1958 era,
para os brasileiros, o centro do
mundo. Ainda era, afinal, o Distrito Federal. Senadores de ternos
brancos, desacompanhados de
"seguranças", fechavam acordos
políticos sentados nos bancos públicos que todo mundo usava, no
parque do Catete.
O único grupo organizado de invasores era o que invadia a praia
de Copacabana.
O livro, na verdade, é composto
por dois livros. Uma é uma coleção aparentemente infinita de curiosidades intrigantes. Há listas de
listas de listas sobre tudo o que você sempre quis saber sobre o Brasil
e o Rio, mas nunca teve coragem
de perguntar.
A segunda parte é um texto descritivo leve, às vezes divertido, às
vezes irritante. Os dois livros correm lado a lado nas páginas.
O grande defeito da obra jaz no
texto central que corre paralelo às
listas, muito mais dinâmicas e divertidas.
Um capítulo, por exemplo, é intitulado "Um Passeio com Carmen Mayrink Veiga". Trata-se
basicamente de uma longa e cansativa narrativa em primeira pessoa sobre a vida d'Ela.
Começa modestamente: "Meu
nome é Carmen Mayrink Veiga.
Fui uma das dez mais elegantes de
1958 e vou contar para vocês, com
a ajuda do meu álbum de recortes
das colunas sociais, o que era viver
na sociedade daquele ano".
Seguem-se então páginas e páginas da narrativa esbaforida de d.
Carmen sobre a vida nas alturas.
Eu não consegui deduzir, lendo o
livro, se a narrativa foi concedida
(sic) a Joaquim Ferreira dos Santos ou tirada de alguma publicação daquela época dourada.
"Feliz 1958" vem carregado de
informações úteis, esclarecedoras
e divertidas, mas a parte do texto
poderia ter sido melhorada pela
visão objetiva de um bom editor.
Joaquim Ferreira dos Santos
pesquisou até a última das cópias
amareladas e infestadas de cupins
do "Última Hora" e do "Diário
Carioca" em busca de pepitas como as que enchem essa cápsula do
tempo brasileira.
É mais ou menos como ler o
"Almanaque Abril" acompanhado de sua outra significante para
brincadeiras depois do jantar.
Jaguar indica os garçons do ano!
Descubra que carros importados
estavam nas ruas! Lembre-se dos
momentos do supercampeonato
de 1958! Descubra as vedetes namoradas de Jango!
Se você é um caco velho como
eu, e estava mesmo vivo 40 anos
atrás, esse fluxo interminável de
jingles de publicidade, gírias, listas de homens bem-sucedidos
com as mulheres, fatos da "ginecologia moderna" é mais divertido do que tentar segurar um porco ensebado.
Por outro lado, se você é um jovem membro da turma do final de
século, movida a MTV, não acredito que o livro vá desviar muito
sua atenção das atividades normais lá na terra dos clubs.
Tenho uma idéia que acho que
pode ser muito interessante para a
editora do livro. Por que não recolhê-lo e colocar todas as listas lotadas de detalhes do que era a vida
em 1958 em cartas de jogo?
Você (depois do jantar, para sua
namorada): "Quero os nomes e
números de todas as linhas de ônibus do Rio em 1958, começando
com a 1 (Mauá - Aeroporto) e terminando com a 102 (Saenz Peña -
Largo do Machado)".
Com um nome como "Master
Brasil 1958", aposto que eles ganhariam R$ 1 bilhão.
Livro: Feliz 1958: o Ano que Não Devia
Terminar
Autor: Joaquim Ferreira dos Santos
Lançamento: Record
Quanto: R$ 20 (190 págs.)
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