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Crítica
Pernas fazem a graça da "Bela do Bas-Fond"
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Talvez o que haja de mais encantador em "A Bela do Bas-Fond" (TCM, 23h15) sejam as
evidências físicas que nos fornece Nicholas Ray, diretor deste filme de 1958. Robert Taylor
é um advogado de gângsteres.
Está afundado até o pescoço
nas sujeiras dos patrões. Ele se
apaixona por uma "party girl",
na pessoa de Cyd Charisse.
O que tem de mais nisso? É
que Taylor é manco (no filme),
enquanto Cyd tinha as mais belas pernas do mundo (no filme
ou em qualquer outro lugar). O
defeito físico de Taylor é o lado
visível de sua fraqueza moral.
Daí que, em contato com as
pernas de Cyd Charisse, que é
uma mulher com posição infinitamente mais frágil ("party
girl" é garota de programa, no
fundo), Taylor descobre na força moral da mulher a força para
se opor a seus patrões e tentar
mudar de vida.
O melhor cinema é assim:
sempre arruma um jeito de trazer as coisas mais profundas
para a superfície, o território
das evidências, mas também o
do acontecer.
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