São Paulo, sexta-feira, 06 de março de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O texto abaixo contém um Erramos, clique aqui para conferir a correção na versão eletrônica da Folha de S.Paulo.

Última Moda

ALCINO LEITE NETO em Nova York e Londres - ultima.moda@grupofolha.com.br

Semana de moda de Milão reage à crise com imagens femininas vigorosas

Um clima tenso se espalhou já no início da temporada de Milão, com o cancelamento do desfile da Just Cavalli, devido ao pedido de concordata da holding Ittierre, dona da marca (e não da Roberto Cavalli, que desfilou no evento).
As notícias também não eram boas para outras grifes.
Os estilistas Domenico Dolce e Stefano Gabbana contaram que a frequência em sua principal loja, em Milão, caiu 40%, e as suas vendas, 20%, no conjunto de seus negócios, no último mês. "Respira-se um ar de incerteza. Inclusive os nossos clientes ricos estão gastando com parcimônia", afirmaram.
Estimativas oficiosas na imprensa comparavam o impacto da crise em relação à temporada anterior: 20% a menos de compradores, 40% menos corridas de táxi no período e 10% menos hóspedes nos hotéis.
Com tudo isso, era de se esperar que a temporada milanesa do outono-inverno 2009/10, que terminou na quarta-feira, viesse com um programa de moda mais modesto e que a incerteza do momento marcasse as coleções, certo? Errado.
Ao contrário, o que se viu nas passarelas das melhores grifes foram uma alta aposta na continuidade do requinte à italiana e a construção bem definida de imagens de mulheres fortes ou que portam uma feminilidade dramática e impositiva.
Como na Prada, que recorreu aos gladiadores romanos e também às camponesas (inclusive as do cinema, como Sophia Loren, de shortinho e galochas, em "Arroz Amargo"), para inventar suas mulheres guerreiras e destemidas.
Ou na Missoni, que fez uma coleção excepcional, com referências aos árabes nômades, como se preparasse as garotas para uma longa travessia do deserto. Ou ainda na DSquared2, com suas garotas abusadas, que misturam sem dar satisfação a ninguém o luxo e o streetwear.
Outras marcas recorreram ao estilo audacioso, sexy e cheio de brilhos da década de 80 -nostalgia que tem embalado as últimas temporadas- para insuflar um certo fôlego divertido na atualidade mal-humorada. Foi o que ocorreu nas coleções certeiras de Giorgio Armani e Versace. Brilhos não faltaram na segunda (e melhor) parte do desfile da Gucci.
A Dolce & Gabbana e a D&G propuseram silhuetas muito dramáticas, nascidas sobretudo dos contrastes das peças. Na primeira coleção -com referências a Salvador Dalì-, blusas com enormes ombros abalonados contrapunham-se a calças bem justas, por exemplo. Na D&G, temas do figurino operístico fixaram um toque passional no guarda-roupa.
A dramaticidade também operou com força na bela coleção da Marni, mas na direção de um barroquismo ultramoderno, com seus contrastes de cores, formas e texturas -tricôs, peles, jacquards brocados e, sobretudo, maravilhosos xadrezes metálicos e vastas incrustações de brilhos.

Formas esculturais
Outras marcas miraram nas formas arquitetônicas e esculturais, para dar mais envergadura ao look, como na Salvatore Ferragamo. Ou na Jil Sander, cujo estilista, Raf Simons, fez a melhor e mais radical coleção, inspirada no trabalho do ceramista e escultor francês Pol Chambost (1906-1983).
Certos críticos chamaram-na de "futurista", mas o termo virou um clichê no meio da moda. Não há nada de futurista na coleção de Raf Simons: há apenas uma ousada experimentação com formas circulares, o tratamento hiperbólico das dobras e ondas das roupas, o desejo de desafiar a fixidez da silhueta.
Milão não se fiou apenas no preto e no cinza, mas evocou uma variedade de cores (destaque para o rosa). As calças skinnies e cigarettes se impuseram, bem como as saias curtas. Os ombros se alargaram, e os casacos apareceram amplos.
Em pleno torvelinho financeiro, a semana de moda italiana buscou criar signos de segurança, força e poder para as mulheres. Só resta saber se, até o próximo inverno, ainda haverá dinheiro na praça para que elas possam comprar as preciosas roupas "made in Italy".

com VIVIAN WHITEMAN


Texto Anterior: Mônica Bergamo
Próximo Texto: Ponte aérea
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.