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Última Moda
ALCINO LEITE NETO em Nova York e Londres - ultima.moda@grupofolha.com.br
Semana de moda de Milão reage à crise com imagens femininas vigorosas
Um clima tenso se espalhou
já no início da temporada de
Milão, com o cancelamento do
desfile da Just Cavalli, devido
ao pedido de concordata da
holding Ittierre, dona da marca
(e não da Roberto Cavalli, que
desfilou no evento).
As notícias também não
eram boas para outras grifes.
Os estilistas Domenico Dolce e
Stefano Gabbana contaram que
a frequência em sua principal
loja, em Milão, caiu 40%, e as
suas vendas, 20%, no conjunto
de seus negócios, no último
mês. "Respira-se um ar de incerteza. Inclusive os nossos
clientes ricos estão gastando
com parcimônia", afirmaram.
Estimativas oficiosas na imprensa comparavam o impacto
da crise em relação à temporada anterior: 20% a menos de
compradores, 40% menos corridas de táxi no período e 10%
menos hóspedes nos hotéis.
Com tudo isso, era de se esperar que a temporada milanesa do outono-inverno 2009/10,
que terminou na quarta-feira,
viesse com um programa de
moda mais modesto e que a incerteza do momento marcasse
as coleções, certo? Errado.
Ao contrário, o que se viu nas
passarelas das melhores grifes
foram uma alta aposta na continuidade do requinte à italiana e
a construção bem definida de
imagens de mulheres fortes ou
que portam uma feminilidade
dramática e impositiva.
Como na Prada, que recorreu
aos gladiadores romanos e também às camponesas (inclusive
as do cinema, como Sophia Loren, de shortinho e galochas,
em "Arroz Amargo"), para inventar suas mulheres guerreiras e destemidas.
Ou na Missoni, que fez uma
coleção excepcional, com referências aos árabes nômades,
como se preparasse as garotas
para uma longa travessia do deserto. Ou ainda na DSquared2,
com suas garotas abusadas, que
misturam sem dar satisfação a
ninguém o luxo e o streetwear.
Outras marcas recorreram
ao estilo audacioso, sexy e cheio
de brilhos da década de 80
-nostalgia que tem embalado
as últimas temporadas- para
insuflar um certo fôlego divertido na atualidade mal-humorada. Foi o que ocorreu nas coleções certeiras de Giorgio Armani e Versace. Brilhos não faltaram na segunda (e melhor)
parte do desfile da Gucci.
A Dolce & Gabbana e a D&G
propuseram silhuetas muito
dramáticas, nascidas sobretudo dos contrastes das peças. Na
primeira coleção -com referências a Salvador Dalì-, blusas com enormes ombros abalonados contrapunham-se a
calças bem justas, por exemplo.
Na D&G, temas do figurino
operístico fixaram um toque
passional no guarda-roupa.
A dramaticidade também
operou com força na bela coleção da Marni, mas na direção
de um barroquismo ultramoderno, com seus contrastes de
cores, formas e texturas -tricôs, peles, jacquards brocados
e, sobretudo, maravilhosos xadrezes metálicos e vastas incrustações de brilhos.
Formas esculturais
Outras marcas miraram nas
formas arquitetônicas e esculturais, para dar mais envergadura ao look, como na Salvatore
Ferragamo. Ou na Jil Sander,
cujo estilista, Raf Simons, fez a
melhor e mais radical coleção,
inspirada no trabalho do ceramista e escultor francês Pol
Chambost (1906-1983).
Certos críticos chamaram-na
de "futurista", mas o termo virou um clichê no meio da moda.
Não há nada de futurista na coleção de Raf Simons: há apenas
uma ousada experimentação
com formas circulares, o tratamento hiperbólico das dobras e
ondas das roupas, o desejo de
desafiar a fixidez da silhueta.
Milão não se fiou apenas no
preto e no cinza, mas evocou
uma variedade de cores (destaque para o rosa). As calças skinnies e cigarettes se impuseram,
bem como as saias curtas. Os
ombros se alargaram, e os casacos apareceram amplos.
Em pleno torvelinho financeiro, a semana de moda italiana buscou criar signos de segurança, força e poder para as mulheres. Só resta saber se, até o
próximo inverno, ainda haverá
dinheiro na praça para que elas
possam comprar as preciosas
roupas "made in Italy".
com VIVIAN WHITEMAN
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