São Paulo, terça-feira, 06 de abril de 2004

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ERUDITO

Portuguesa se apresenta hoje no teatro Cultura Artística em duo com o baiano radicado na Suíça Ricardo Castro

Maria João Pires toca sua poesia ao piano

IRINEU FRANCO PERPETUO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Ela é baixinha, tem mãos pequenas (com um golfinho tatuado na destra), enfurnou-se na zona rural portuguesa e é avessa a entrevistas. Às vésperas de completar 60 anos, a lisboeta Maria João Pires está longe de corresponder aos estereótipos que cercam pianistas de concerto. Contudo, é uma das artistas de teclado mais conceituadas da atualidade e abre hoje a temporada de assinaturas da Sociedade de Cultura Artística, em duo com o pianista baiano radicado na Suíça Ricardo Castro, 40.
A carreira e a vida de Pires começam praticamente juntas: dedilha o teclado pela primeira vez aos três anos, faz a aparição pública inicial aos quatro, debuta como recitalista aos cinco e interpreta concertos de Mozart aos sete. Estuda em Portugal e na Alemanha e estoura internacionalmente ao ficar em primeiro lugar no Concurso Bicentenário de Beethoven, em Bruxelas, em 1970.
A partir daí, vem sendo amplamente aclamada por sua interpretação de um repertório que se concentra basicamente em Bach, Mozart, Beethoven, Schubert, Schumann e Chopin. Profundidade e poesia são os termos mais freqüentemente usados para descrever o estilo de Maria João Pires. Não veremos aqui uma pianista que esmurra o teclado ou que faz da velocidade do dedilhado um fim em si mesmo, muito embora as maiores dificuldades técnicas não estejam fora de seu alcance.
Normalmente econômica no emprego do pedal, Pires é conhecida pelo detalhismo de suas interpretações, fazendo um trabalho de joalheria na articulação do fraseado e privilegiando a clareza de expressão. Nos últimos anos, seus recitais solo constituem ocasiões cada vez mais raras e disputadas. A artista vem privilegiando aparições com orquestra (como no Rio, no ano passado, com a OSB) ou de música de câmera.
Seria equivocado definir o Centro para o Estudo das Artes de Belgais, localizado em uma granja na região da Beira Baixa, em Portugal, próximo à cidade de Castelo Branco, como um projeto paralelo à sua carreira como pianista.
É mais do que isso. Na verdade, nos últimos anos, Maria João Pires, ecologista e vegetariana, tem desacelerado as atividades concertísticas para se concentrar em Belgais, conforme retratado no documentário "A Passionate Lesson: A Visit to Maria João Pires", de Roel van Dalen (Holanda, 2001). Têm aparecido na imprensa internacional acerbas críticas da pianista ao governo de seu país e queixas de falta de apoio ao centro, que realiza atividades artísticas e pedagógicas, tendo sido agraciado, em 2002, com o Prêmio Internacional do Conselho Musical da Unesco.
Belgais abrigou a primeira apresentação a quatro mãos de Pires com Ricardo Castro, em 2002. A parceria vai render um disco para a multinacional Deutsche Grammophon, da qual Pires é artista exclusiva desde 1989.
Em SP, eles dividem o mesmo piano e banquinho para programas concentrados em Schubert, cuja tocante "Fantasia em Fá Menor" fecha ambas as apresentações. Hoje, os itens solo são sonatas de Chopin, ficando a opus 35 para Castro e a opus 58 para Pires. Amanhã, o brasileiro sola nos "Estudos Sinfônicos op. 13", de Schumann, enquanto a lusa interpreta, de Schubert, o "Improviso op. 142 n.1" e a "Sonata D. 664".


MARIA JOÃO PIRES E RICARDO CASTRO. Quando: hoje e amanhã, às 21h. Onde: teatro Cultura Artística (r. Nestor Pestana, 196, tel. 0/xx/11/3256-0223). Quanto: de R$ 110 a R$ 220 (R$ 10 para estudantes até 30 anos, meia hora antes dos concertos). Patrocinadores: banco Safra, Bovespa, Telefônica, Votorantim.


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