São Paulo, segunda-feira, 06 de abril de 2009

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CCBB de Brasília mostra coleção de vanguarda russa

Com obras de museu de São Petersburgo, exposição "Virada Russa" começa amanhã

Mostra reúne nomes como Marc Chagall, Vassili Kandinski, Kazimir Maliévitch, Natalia Gontcharova e Pavel Filónov


JOHANNA NUBLAT
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Marc Chagall, Vassili Kandinski, Kazimir Maliévitch, Natalia Gontcharova e Pavel Filónov integram uma exposição inédita de obras do Museu Estatal Russo de São Petersburgo que chega agora ao Brasil.
"Virada Russa" começa amanhã para o público no Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília e depois segue para o Rio e São Paulo. A mostra busca traçar uma genealogia da vanguarda russa das duas primeiras décadas do século 20, sob impacto dos movimentos revolucionários de 1905 e 1917, até o realismo socialista.
Trabalhos importantes do movimento já foram trazidos ao Brasil, mas é a primeira vez que o país recebe uma exposição com esse conjunto de 123 obras. O único a merecer uma sala própria na exposição é Kazimir Maliévitch (1878-1935), apresentado em suas diversas fases e com uma de suas obras mais marcantes: a trilogia de 1923 em que se insere o "Quadrado Negro".

Suprematismo
Esse quadrado negro com um fundo branco "abriu um novo conceito de pintura" e representa "a essência da vanguarda e o suprematismo radicalizado", diz o idealizador da exposição, Rodolfo de Athayde.
O chamado suprematismo é uma das correntes dentro do movimento de ruptura, criada pelo próprio Maliévitch e que tirou a arte russa da expressão figurativa, usando novas relações de espaço e dimensão.
Segundo Athayde, talvez por trabalhar com arte conceitual, Maliévitch seja o menos conhecidos dos três russos que integram em geral a lista dos grandes artistas do século 20 -junto com Chagall e Kandinski.
A tentativa de Maliévitch de se aproximar do público foi feita em momento posterior, com a volta a um certo figurativismo que o manteve, no entanto, ainda na arte abstrata. Essas peças podem ser vistas na mesma sala que exibe a trilogia: quadros coloridos, com figuras de pessoas não identificadas e de certa forma desumanizadas.
Outra artista que pode ganhar um olhar mais apurado é Gontcharova (1881-1962), apresentada na sala dedicada ao início da "Virada". Nas telas da artista, incluindo a polêmica série de apóstolos, está condensada uma das características desse momento inicial: a influência do camponês e das artes populares. Outra presença forte é a do ícone bidimensional, figura forte na arte russa que mostra a influência do místico e do religioso.
Na mesma sala, em destaque, estão telas de Filónov (1883-1941), uma boa surpresa na exposição, com suas cenas de sofrimentos cotidianos e graus diferentes de abstracionismo.
Divide o espaço com Filónov o "Contra-Relevo de Esquina" (1914), de Vladimir Tátlin (1885-1953), nome central do construtivismo.
Aleksandr Rodtchenko (1891-1956) também pode ser visto em telas e em um vídeo que reconstrói objetos do artista não preservados.
Misturadas entre as obras que podem ser menos conhecidas para o público estão as populares telas de Vassili Kandinski (1866-1944) e "Passeio", de Marc Chagall (1887-1985).

Pressão do totalitarismo
A rápida transformação da arte nas duas primeiras décadas do século 20 foi rejeitada com a emergência do stalinismo e o fortalecimento do realismo socialista, nos anos 30.
"Os artistas sentem a pressão do totalitarismo. Todas as tendências formalistas são excluídas de forma radical. São obrigados a voltar de forma brutal ao figurativismo e à aplicação industrial", diz Petrova.
No realismo socialista, o entendimento do que deveria ser a arte se torna "limitado", salienta Evandro Salles, curador de uma exposição de cartazes russos em 2001. "Queriam instrumentalizar a arte, transformar o artista em publicitário."
A exposição retrata o início desse período, com obras que mostram experiências em cartazes, louças, roupas e tecidos e que trazem incrustadas as inovações das vanguardas -postas a serviço do Estado totalitário soviético. Os artistas que não seguiram a nova linha acabaram sumindo para o grande público. As vanguardas só viriam a ser "redimidas" nos anos 80.
No fim do mês, em Brasília, o CCBB também vai exibir filmes de cineastas envolvidos na vanguarda, como Dziga Vertov. Não há confirmação se os filmes seguem também para o Rio e São Paulo.


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