|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CCBB de Brasília mostra coleção de vanguarda russa
Com obras de museu de São Petersburgo, exposição "Virada Russa" começa amanhã
Mostra reúne nomes
como Marc Chagall, Vassili Kandinski, Kazimir Maliévitch, Natalia Gontcharova e Pavel Filónov
JOHANNA NUBLAT
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Marc Chagall, Vassili Kandinski, Kazimir Maliévitch, Natalia Gontcharova e Pavel Filónov integram uma exposição
inédita de obras do Museu Estatal Russo de São Petersburgo
que chega agora ao Brasil.
"Virada Russa" começa amanhã para o público no Centro
Cultural Banco do Brasil de
Brasília e depois segue para o
Rio e São Paulo. A mostra busca
traçar uma genealogia da vanguarda russa das duas primeiras décadas do século 20, sob
impacto dos movimentos revolucionários de 1905 e 1917, até o
realismo socialista.
Trabalhos importantes do
movimento já foram trazidos
ao Brasil, mas é a primeira vez
que o país recebe uma exposição com esse conjunto de 123
obras. O único a merecer uma
sala própria na exposição é Kazimir Maliévitch (1878-1935),
apresentado em suas diversas
fases e com uma de suas obras
mais marcantes: a trilogia de
1923 em que se insere o "Quadrado Negro".
Suprematismo
Esse quadrado negro com
um fundo branco "abriu um
novo conceito de pintura" e representa "a essência da vanguarda e o suprematismo radicalizado", diz o idealizador da
exposição, Rodolfo de Athayde.
O chamado suprematismo é
uma das correntes dentro do
movimento de ruptura, criada
pelo próprio Maliévitch e que
tirou a arte russa da expressão
figurativa, usando novas relações de espaço e dimensão.
Segundo Athayde, talvez por
trabalhar com arte conceitual,
Maliévitch seja o menos conhecidos dos três russos que integram em geral a lista dos grandes artistas do século 20 -junto com Chagall e Kandinski.
A tentativa de Maliévitch de
se aproximar do público foi feita em momento posterior, com
a volta a um certo figurativismo
que o manteve, no entanto, ainda na arte abstrata. Essas peças
podem ser vistas na mesma sala
que exibe a trilogia: quadros coloridos, com figuras de pessoas
não identificadas e de certa forma desumanizadas.
Outra artista que pode ganhar um olhar mais apurado é
Gontcharova (1881-1962),
apresentada na sala dedicada
ao início da "Virada". Nas telas
da artista, incluindo a polêmica
série de apóstolos, está condensada uma das características
desse momento inicial: a influência do camponês e das artes populares. Outra presença
forte é a do ícone bidimensional, figura forte na arte russa
que mostra a influência do místico e do religioso.
Na mesma sala, em destaque,
estão telas de Filónov (1883-1941), uma boa surpresa na exposição, com suas cenas de sofrimentos cotidianos e graus
diferentes de abstracionismo.
Divide o espaço com Filónov
o "Contra-Relevo de Esquina"
(1914), de Vladimir Tátlin
(1885-1953), nome central do
construtivismo.
Aleksandr Rodtchenko
(1891-1956) também pode ser
visto em telas e em um vídeo
que reconstrói objetos do artista não preservados.
Misturadas entre as obras
que podem ser menos conhecidas para o público estão as populares telas de Vassili Kandinski (1866-1944) e "Passeio",
de Marc Chagall (1887-1985).
Pressão do totalitarismo
A rápida transformação da
arte nas duas primeiras décadas do século 20 foi rejeitada
com a emergência do stalinismo e o fortalecimento do realismo socialista, nos anos 30.
"Os artistas sentem a pressão
do totalitarismo. Todas as tendências formalistas são excluídas de forma radical. São obrigados a voltar de forma brutal
ao figurativismo e à aplicação
industrial", diz Petrova.
No realismo socialista, o entendimento do que deveria ser
a arte se torna "limitado", salienta Evandro Salles, curador
de uma exposição de cartazes
russos em 2001. "Queriam instrumentalizar a arte, transformar o artista em publicitário."
A exposição retrata o início
desse período, com obras que
mostram experiências em cartazes, louças, roupas e tecidos e
que trazem incrustadas as inovações das vanguardas -postas
a serviço do Estado totalitário
soviético. Os artistas que não
seguiram a nova linha acabaram sumindo para o grande público. As vanguardas só viriam a
ser "redimidas" nos anos 80.
No fim do mês, em Brasília, o
CCBB também vai exibir filmes
de cineastas envolvidos na vanguarda, como Dziga Vertov.
Não há confirmação se os filmes seguem também para o
Rio e São Paulo.
Texto Anterior: Crítica: Pop e nervoso, disco é o mais coeso do grupo Próximo Texto: Intercâmbio com europeus é marcante Índice
|