São Paulo, segunda-feira, 06 de maio de 2002

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6ª CULTURA INGLESA FESTIVAL

Performance "Urban Dream Capsule" é destaque de evento que começa amanhã, em SP

Austrália num pulo

Maurício Piffer/Folha Imagem
Da esq. para a dir., Nick Papas, Andrew Morrish, Neil Thomas e David Wells, que viverão em vitrine


LEANDRO FORTINO
ENVIADO ESPECIAL À AUSTRÁLIA

Uma boa amostra do cotidiano da avenida mais famosa de São Paulo passará diante dos olhos de quatro atores australianos a partir das 17h de amanhã, quando Neil Thomas, Andrew Morrish, David Wells e Nick Papas carregarão as malas para um espaço de 60 m2, situado no número 1.500 da avenida Paulista (zona sul), onde permanecerão, atrás de uma vitrine, pelas próximas duas semanas.
Lá estará montado o palco da performance "Urban Dream Capsule", destaque do 6º Cultura Inglesa Festival, dedicado à Austrália, e que levará a vários espaços da cidade outras atrações.
O diretor e ator Neil Thomas teve a idéia do "Urban Dream Capsule", em Melbourne, em 96. "Começamos a fazer essas apresentações em vitrines, em 92, e, gradualmente, desenvolvemos a performance. A primeira vez em que ficamos morando numa vitrine foi em uma grande loja de departamentos. Fazíamos coisas engraçadas, mímicas", explica.
Segundo Thomas, conseguir patrocínio para a empreitada, que não cobra ingresso, não foi difícil. "A loja estava muito satisfeita em bancar o espetáculo, pela propaganda que recebia em troca, com reportagens em jornais e TVs."
A performance no Brasil será a oitava apresentação da "Urban Dream Capsule", que, além da Austrália, passou pela Bélgica, Canadá, Austrália, Inglaterra, EUA e Nova Zelândia.
"A primeira vez foi assustadora, pois não tínhamos idéia do que aconteceria: se nos mataríamos, se teríamos problemas psicológicos ou mesmo se seria interessante para o público", conta Thomas.
Sem roteiro a seguir, o espetáculo dependerá da reação do público que passar pela avenida Paulista e se interessar em parar para ver o que quatro australianos de cabeça raspada estão fazendo.
"Uma das partes mais importantes é o fato de as pessoas não poderem falar com a gente. Quem passar na rua pode, claro, conversar com os outros, mas nós não ouviremos. Assistir às pessoas do lado de fora é como um teatro para nós", diz David Wells.
"E as pessoas podem escolher o nível de comunicação que terão conosco, como ficar parado olhando, fazer gestos, escrever bilhetes e até mandar e-mail e fax", completa Thomas. Para esses dois últimos itens, foram providenciados um endereço eletrônico (udc@culturainglesasp.com.br) e um fax (0/xx/11/3285-3305).
Serem observados 24 horas por dia não será problema para esses quatro atores. Ao contrário. "É o paraíso dos performers. Você se diverte muito com os outros atores e com a platéia. O único jeito de sobreviver é se divertindo. De certo modo, atrás da vitrine eu não tenho de tomar nenhuma decisão sobre a minha vida, o que é bastante confortável", diz Wells.
E o que é vida real e o que não é atrás da vitrine? "Tudo é vida real. É, de fato, uma fantasia real. A única pessoa que posso ser lá dentro sou eu mesmo", diz Thomas.
Nick Papas tenta explicar o nome da performance em português, "Cápsula do Sonho Urbano": "Isso pode ser visto como um sonho. Eu sonho ser eu mesmo. Você acaba descobrindo quem você realmente é lá dentro. Pode parecer que o vidro é uma barreira, mas seria mais uma lente de aumento. Você enxerga melhor as pessoas em vez de fingir que elas não estão lá".
Diferentemente dos "reality shows" televisivos, na "Urban Dream Capsule" não há regras preconcebidas. Os atores terão computador e telefone dentro da vitrine. Só não podem sair de lá.



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