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MÚSICA
Fellini, Mercenárias e Akira S & as Garotas que Erraram estão nos álbuns que saem na Alemanha e no Reino Unido
Selos europeus lançam discos de pós-punk brasileiro
RODRIGO CARNEIRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Duas décadas após ter passado
desapercebido pelo grande público, o pós-punk brasileiro é tema
de duas compilações internacionais: "Não Wave - Brazilian Post
Punk 1982-1988", que acaba de ser
lançada na Alemanha pelo selo
Man Recordings, e "The Sexual
Life of the Savages - Underground
Post-Punk from Brazil", da gravadora inglesa Soul Jazz, que chega
às lojas do Reino Unido no dia 9.
A gravadora preparou ainda
uma edição limitada em vinil de
sete polegadas com "Pânico", das
Mercenárias, e "Rock Europeu",
do Fellini. Em julho, as Mercenárias farão o show oficial de lançamento do álbum na Inglaterra.
"Fui correndo comprar o sete
polegadas. Foi a realização de um
sonho antigo, o de ter um disco
lançado na Inglaterra", diz Thomas Pappon, 44, integrante do Fellini, do Voluntários da Pátria e do
Smack, que vive em Londres desde meados da década de 90.
Os discos têm diferenças sutis
entre si. "Não Wave", por exemplo, traz em seu repertório uma
música inédita do Ira!, "Lá Fora
Pode até Morrer"; o punk funk
dos cariocas do Black Future;
"Prince no Deserto Vermelho",
da "superbanda underground"
AKT, formada por integrantes
dos grupos De Falla (Porto Alegre), R. Mutt (Belo Horizonte),
Mercenárias e Bruhaha Babélico
(SP); e "Agentss", do Agentss.
"The Sexual Life of the Savages"
é mais paulistana e tem a dissonância dark do Smack; "Madame
Oráculo do Nau", que revelou
Vange Leonel; o groove inventivo
do Gueto; dois momentos robustos da Patife Band; a new wave
tropical da Gang 90 & Absurdettes; Cabine C, de Ciro Pessoa, um
dissidente dos Titãs; e a eletrônica
santista do Harry. Akira S & as
Garotas que Erraram, Fellini,
Mercenárias, Chance e Muzak são
onipresentes nos dois registros.
"Selecionamos músicas de que
gostamos. É lógico que muita coisa legal ficou de fora", diz Bruno
Verner, 33, do Tetine, que assina,
ao lado de Eliete Mejorado, a curadoria do projeto.
A idéia surgiu em 2004, depois
de um especial das Mercenárias
feito no programa de rádio Slum
Dunk, que o Tetine mantém na
Resonance FM de Londres. Segundo Verner, a gravadora adorou as composições, entrou em
contato, e as conversas resultaram no álbum que tem como título uma das frases da canção "Nosso Louco Amor", de Júlio Barroso
e Herman Torres.
"Escolhemos "The Sexual Life of
the Savages" [a vida sexual dos selvagens] primeiro para homenagear o Júlio, pois o começo dessa
história no Brasil se deve muito a
ele e à Gang 90. Segundo, porque
queríamos brincar com a imagem
selvagem que o Brasil tem para o
mundo com ironia e ao mesmo
tempo celebratória", diz Verner.
O produtor inglês Andy Comming, 40, seis anos de Brasil, foi o
responsável pela concepção de
"Não Wave". Na seleção, teve o
auxílio de dois importantes personagens da cena: o jornalista,
músico e escritor Alex Antunes,
do Akira S, e o guitarrista Miguel
Barrella, do Agentss, Voluntários
da Pátria e Gang 90. "Reunimos o
material que foi masterizado em
Berlim", diz Comming.
Segundo o produtor, o lançamento já está repercutindo. "DJs
têm tocado as faixas, críticos como [o britânico] Simon Reynolds
[autor do livro "Rip It Up And
Start Again: Post-Punk 1978-1984'] ficaram surpresos, e a revista alemã De-Bug publicou uma
resenha bem positiva."
Para Alex Antunes, 45, as revisões internacionais servem de
alento psicológico aos envolvidos.
"Achávamos que toda aquela intensidade iria se perpetuar, mas
de certo modo o movimento se
perdeu. Isso deixou uma sensação
esquisita em muitos de nós. Os álbuns permitem que a cena, que
foi enterrada viva, dê uma respirada", diz Antunes.
Não Wave
Artistas: vários
Gravadora: Man Recordings
Quanto: 15,99 (R$ 51,55)
Onde encontrar: www.othermusic.com
The Sexual Life of the Savages
Artistas: vários
Gravadora: Soul Jazz
Quanto: 11,99 libras (R$ 56,77) ;vinil:
13,99 libras (R$ 66, 24)
Onde encontrar: www.amazon.co.uk
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