São Paulo, domingo, 06 de maio de 2007

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Fábrica do desespero

Com Sônia Braga, Brasil faz seu "Desperate Housewives" em Buenos Aires, sede da indústria de versões latinas da série

Divulgação
Lucélia Santos em cena da versão brasileira


LAURA MATTOS
LUCAS NEVES

DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de boa carne, bom vinho, alfajores, doces de leite inesquecíveis e jogadores de futebol com tiara na cabeça, a Argentina agora abre uma fábrica de donas de casa desesperadas.
Buenos Aires foi escolhida para sediar uma verdadeira indústria de produção de versões latinas da premiada série norte-americana "Desperate Housewives". O projeto tem investimento de US$ 50 milhões da Disney, detentora dos direitos do original. O programa, que está na terceira temporada nos EUA, conta a história de vizinhas que quase enlouquecem na tentativa de conciliar a vida doméstica, profissional e social. Mas vai além do drama cômico do dia-a-dia, ao inserir humor negro e uma trama policial a partir de um misterioso suicídio no primeiro episódio.
A versão brasileira, "Donas de Casa Desesperadas", começou a ser gravada há duas semanas e será exibida pela Rede TV! a partir de agosto com Sônia Braga, Lucélia Santos, Teresa Seiblitz e Isadora Ribeiro.
Terá os mesmos cenário e figurino de pelo menos outras duas adaptações: uma argentina e outra para Colômbia e Equador. Chile, México e Venezuela também negociam para levar as suas donas de casa ao mesmo pólo de 45 mil m2 da Pol-ka, uma produtora argentina bem-sucedida, parceira na realização de "O Filho da Noiva", indicado ao Oscar.
As casas e as roupas são também semelhantes às originais, com algumas adaptações para uma "cara latina", imaginada pela Disney. As construções, de madeira no original, como é comum em bairros dos EUA, são de alvenaria nas latinas.
Sônia Braga, que será a Mary Alice brasileira (que se suicida no primeiro capítulo e vira narradora da história) usa a mesma roupa trajada por Cecilia Roth, consagrada atriz argentina, musa do cineasta espanhol Pedro Almodóvar. Foi dela o papel de Alicia Olviedo, a Mary Alice da versão argentina, "Amas de Casa Desesperadas".
A atriz Teresa Seiblitz, que fará Lynette (Lígia para o Brasil), a desesperada mãe de quatro filhos, achou o sistema esquisito: "Quando experimentei o figurino que havia sido usado pela atriz argentina, estranhei. Depois pensei: "Estamos fazendo um clássico'", disse, na apresentação oficial do projeto, em São Paulo, na semana passada.
O sistema de franquia teledramatúrgica é visto como um modo de diminuir custos e melhorar a qualidade a partir do know-how norte-americano em série. À Rede TV!, que entra como co-produtora e exibidora, caberá um investimento de US$ 5 milhões, orçamento que seria insuficiente se a emissora, crua na teledramaturgia, estivesse sozinha na empreitada.
Há, contudo, desvantagens na padronização. A filha da divorciada atrapalhada Susan, que no Brasil é Susana (Lucélia), vai à escola com saia de prega xadrez, malha com gola "V" sobre camisa branca, sapato de couro e meia curta, uniforme tipicamente argentino.
Outro grande perigo: o maquiador, assim como todos da produção, é da Argentina, onde a mulherada das novelas não economiza em sombras. Ficará a cargo de Fábio Barreto ("O Quatrilho"), diretor de "Donas de Casa", a missão de garantir que as atrizes tenham o visual mais natural, comum na teledramaturgia brasileira.
Ele terá também de realizar pequenas adaptações nos roteiros, trocando hábitos norte-americanos por brasileiros. Já no primeiro episódio, as donas de casa levam comida ao velório da amiga Mary Alice. O rega-bofe foi eliminado na versão do Brasil, onde isso não é habitual.
Qualquer alteração, contudo, tem de ser aprovada pela Disney. Para Barreto, não há mesmo tanto o que mudar."O texto é muito rico e a sua eficiência já está comprovada", afirmou.
Se "Donas de Casa Desesperadas" conseguirá chegar aos pés de "Desperate", isso só saberemos em agosto, quando estréia a primeira temporada (23 episódios). Mas o fato é que a TV brasileira começa a experimentar as fábricas internacionais de teledramaturgia, modelo que tende a crescer e pode conquistar espaço em um mercado no qual as redes ainda concentram a produção de quase toda a sua programação.


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