|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Comentário
Eles são mesmo os melhores do mundo?
CRITICO DA FOLHA, EM LONDRES
Quando o chef dinamarquês
René Redzepi recebeu para o
restaurante Noma, dia 26, em
Londres, o número um no prêmio S.Pellegrino World's 50
Best Restaurants, ecoaram perguntas como: "Ele é mesmo o
melhor?". Mesma questão colocada no Brasil: o D.O.M., do
chef Alex Atala, sagrado 18, é
realmente melhor que as feras
europeias que ficaram atrás?
Dois dias antes, eu estive no
Noma, em Copenhague. Sua
ousadia em tratar com leveza e
surpresa os ingredientes nórdicos (sim, existem) valem a
atenção mundial que está angariando. Assim como são brilhantes os segundo e terceiro
lugares (El Bulli, onde atestei
em novembro a incrível vitalidade do chef Ferran Adrià, e o
londrino Fat Duck, do provocativo Heston Blumenthal).
Mas serão necessariamente
os melhores do mundo? E nessa ordem? Dezenas de jornais
-e milhares de blogs- puseram-se a comentar os resultados deste ano e a fazer suas próprias classificações. Da mesma
forma que todos comparam -e
contestam e cotejam- os resultados do guia "Michelin", ou
dos rankings das revistas do
Brasil e do mundo.
Eu mesmo, que pertenço ao
comitê organizador do prêmio
londrino (e também voto), posso afirmar que minha lista pessoal não seria exatamente essa.
Ainda assim, a lista tem grande importância, menos por fixar taxativamente quem é o
melhor e mais por mostrar as
tendências que se descortinam.
Por mostrar para onde está
olhando a elite da gastronomia
do mundo (da qual é composta
o júri de 806 votantes, distribuído entre chefs, donos de restaurante e críticos).
E, nesse aspecto, por mais
que surpreenda a assunção de
um restaurante de Copenhague, a mudança não foi tão radical: os cinco primeiros continuam representando uma cozinha de vanguarda (René, aliás,
trabalhou no El Bulli, ex-número 1). Assim como o D.O.M.,
que subiu de 24º para 18º.
O que aparece não é, obviamente, o império da cozinha
nórdica, mas, sim, o fato de o
Noma, sem abrir mão da inventividade e ousadia técnica, se
debruçar radicalmente sobre
os ingredientes locais da mesma forma que o D.O.M. encanta
pela dedicação aos produtos
brasileiros.
Essa liga entre arte, técnica
moderna e terroir parece ser a
pegada que o mundo da gastronomia representado em Londres sentiu.
(JOSIMAR MELO)
Texto Anterior: Bom e barato: Massas caseiras são o ponto forte do Biondella Próximo Texto: Tentações: Cervejas ganham versão reduzida Índice
|