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RETROSPECTIVA
O mais importante arquiteto de casas dos EUA vem pela primeira vez ao Brasil e dá aula magna na Faap
Jacobsen expõe 40 anos de trabalho
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
de Washington
Hugh Newell Jacobsen, o mais
importante arquiteto de casas dos
EUA, faz sua primeira viagem ao
Brasil, para inaugurar em São
Paulo, na Faap, no dia 12, a primeira retrospectiva de seus 40
anos de trabalho.
No dia 13, às 16h, dá aula magna
para professores, alunos de arquitetura e convidados da Faap.
No seu elegante escritório em
Georgetown, na capital dos EUA,
Jacobsen passou as últimas semanas devorando livros a respeito do
Brasil. "É constrangedor como
nós, gringos, conhecemos pouco
sobre o seu país", disse ele em entrevista exclusiva à Folha.
Após desfiar alguns dos conhecimentos adquiridos, como o fato
de o território brasileiro ser maior
do que o dos EUA continentais
(sem incluir o Alasca), Jacobsen se
diz "muito honrado" com a distinção que a Fundação Armando
Álvares Penteado lhe fez (Faap).
Preocupado com a proximidade
do vernissage e com o pouco tempo que terá para pôr tudo em ordem, Jacobsen não perde o otimismo: "Nós produzimos uma mostra muito bonita, variada, para ser
uma exposição arquitetônica, não
apenas fotográfica. Espero que
funcione e o público goste".
A retrospectiva de São Paulo
(que depois será mostrada em
Washington) é a primeira exibição
do trabalho de Jacobsen fora dos
EUA. Antes, ele fez três mostras
bem-sucedidas, todas nos EUA.
Jacobsen, 69, faz parte do que os
críticos chamam de "constelação
de archestars" (constelação de arquitetos-estrelas) do país, ao lado
de outros como Peter Eisenman,
Frank O. Gehry e Jordan Mozer.
Todos eles têm em comum, além
do talento, uma preocupação social, que os fez ajudar um colega,
Stanley Tigerman, a fundar uma
escola sem fins lucrativos em Chicago, onde estudantes de arquitetura tentam conhecer e resolver
problemas ligados a habitações
populares e casas equipadas para a
moradia de pessoas idosas e doentes.
Embora nunca tenha estado no
Brasil e diga conhecer tão pouco
sobre o país, Jacobsen é há muito
um admirador da arquitetura brasileira, com a qual tomou contato
no início da década de 50, quando
fazia pós-graduação.
"Quando vi aquelas fotos, senti
que uma flor, repentina e fascinante, estava desabrochando na
América Latina. Meu Deus, como
aquilo era lindo!", diz ele, em referência ao trabalho de Oscar Niemeyer e Roberto Burle Marx.
Jacobsen disse que a arquitetura
brasileira daquela época teve
"uma profunda influência sobre o
mundo inteiro, que jamais irá
morrer", similar à da arquitetura
sueca da década de 30.
Para Jacobsen, não há uma explicação econômica ou social para
o surgimento dessas escolas arquitetônicas tão marcantes em dois
ambientes tão distintos quanto
Brasil e Suécia.
"Eu não posso explicar por que
essas coisas acontecem ou por que
elas deixam de acontecer", disse,
sobre o declínio criativo da arquitetura brasileira verificado nos últimos anos.
Mas ele arrisca um palpite: "As
coisas começam a andar mal
quando uma sociedade resolve se
grudar a alguma coisa assim chamada de estilo. Estilo não tem nada a ver com arquitetura. Uma boa
arquitetura nunca se preocupa em
estilo, mas sim em como resolver
problemas. Estilo é coisa criada
por críticos para impressionar".
Embora boa parte das 200 casas
que construiu tenha sido muito
cara, Jacobsen acha que "quando
você tem menos dinheiro, você
tem melhor arquitetura porque é
necessário mais talento para conseguir superar as dificuldades".
Há exceções, quando dinheiro
resulta em bom gosto. Uma delas,
na sua opinião, é a Inglaterra vitoriana, onde "um bando de novos
ricos precisou construir uma imagem positiva e investiu muito,
com resultados estéticos".
As casas de Jacobsen são sempre
simples e originais. Ele se dá ao luxo de escolher clientes. "Quando
você tem um cliente ruim, você
não vai se divertir, a coisa não vai
dar certo. Você não pode conceber
uma casa boa para um rato".
Para Jacobsen, a escolha de um
arquiteto deve ser tão cuidadosa
quanto a de um médico. "Construir uma casa é muito mais difícil
do que construir uma torre."
Exposição: Hugh Newell Jacobsen
Quando: dia 12, 20h (para convidados); de
13 a 31 de maio, das 10h às 20h
Onde: Salão Cultura da Faap (r. Alagoas,
903, Higienópolis, São Paulo, tel.
011/3662-1662); grátis
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