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São Paulo, sexta-feira, 06 de junho de 2003

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ERIKA PALOMINO

MODA SE RENOVA COM ELECTRO + ROCK

Fotomontagem Ricardo Athayde
A linda Roberta, um dos novos personagens da cena electro-rock de São Paulo


Oiê! Estou em Londres, aproveitando o finzinho das minhas férias para checar as últimas... Resolvi me jogar na cena do electro, de onde percebo o frescor desse movimento da música influenciando a moda. O visual dessa tendência se encaixa dentro da cultura do hi & lo, justamente o ponto de partida da nova elegância. "A maior parte dos artistas do Electroclash é reconhecida por um estilo individual. O uniforme do Ladytron, as roupas feitas a mão da Chicks on Speed, o look rocker babe da Peaches e a couture undergound da W.I.T têm pouca coisa em comum, a não ser a vontade de expressar um estilo único", diz Larry Tee, mentor do Electroclash. Pois é assim, tudo misturado, a melhor maneira de interpretar a moda agora. Electro + rock + fashion = hoje. O despojado é o novo chique. Para entender na fonte essa deliciosa confusão, me joguei na Nag Nag Nag, principal noite de electro em Londres, no clube Ghetto. Aqui, o mix é total, e criaturas andróginas se juntam a meninos incrivelmente lindos, jogados em jeans e camisetas. O som segue o estilo mais europeu do electro, mais pesado, sem a leveza de Nova York, mais debochada e fashion. O tom é mais sério, apesar de, na cabine do DJ Jonny Slut, reinar a saudável baderna do ambiente, num grande entra-e-sai. Nas três horas em que fiquei no clube não ouvi uma música conhecida nem as já tradicionais babas do electro que o povo anda tocando...

CULTO AO DJ ACABOU
E quer ver como tá tudo integrado? Hoje, quem se apresenta no Ghetto como DJ é o fotógrafo Wolfgang Tillmans e a DJ Princess Julia (ela tocou também no desfile da D&G). É a festa de lançamento do fanzine babado "Butt" e terá live p.a. do Synthetic Pleasures. É a confirmação da forte conexão do electro com a moda, consolidada por meio das coletâneas em CD da loja-mito Colette, de Paris. Com seleção de Michel Gaubert, que faz as principais trilhas dos desfiles na cidade, os discos trazem novos artistas e consolidam hypes como o 2ManyDJs, a dupla que mixou o último e tocou na festa do Y-3, linha esportiva da Adidas com Yohji Yamamoto. Eu fui à última festa da Colette em Paris, que teve apresentação do Fat Truckers (que é rock), set do Gaubert em si (que fez a pista rachar no meio com Blur) e um número de vogue com um absurdo negão de Nova York chamado Archie Burnett.
Ah, o 2Many DJs. Eles são os irmãos Dave e Steph Dewale e celebram o fundamento do bootleg, misturando faixas bizarras e acabando de vez com o culto ao DJ. A história é a seguinte: a técnica não importa mais, o que conta é o estilo e a seleção musical. Todo mundo pode ser DJ, não é mais para mixar e fazer acrobacias na cabine. "Mixing? Sooo last century", percebeu a revista especializada "Jockey Slut" em sua mais recente edição. Assim, o mais importante agora é criar uma atmosfera e marcar uma presença ali para o povo.
Quer saber mais nomes dessa nova onda? Decore o de Trevor Jackson, do Playgroup, e o de James Murphy (dono do descolado selo DFA Records e produtor do The Rapture, que parece que vem ao Brasil no final do ano, dentro do tal TIM Jazz Festival).
Incrível, quase não dá para acreditar nisso...

EGG TRAZ MONTAÇÃO GARANTIDA
Outro fundamento fortíssimo é o novo Egg, aberto agorinha em 16 de maio, em King's Cross, em Londres. O Egg chega para reforçar o fim da era dos superclubes e a valorização de espaços menores e diferentes, onde as pessoas podem se expressar livremente. E é de expressão pessoal que estamos falando aqui... De fato é um dos lugares do momento e pertence a Lawrence Malice, que era dono do famoso afterTrade, que já fechou (já não era sem tempo). Montação garantida ou seu dinheiro de volta.

LOJA KOKON TO ZAI REINA
O fundamento do estilo electro é a loja Kokon To Zai, no Soho, onde é possível adquirir ítens para a tombação electro: os looks são ultra-femininos, como microssaias e calças skinny. Quanto mais exótico melhor.

SÃO PAULO TEM TAMBÉM!!!!!
Cansou de ouvir falar de Londres? Pois São Paulo tem também. O clubinho Xingu apareceu como o primeiro lar de tudo isso, nas enfumaçadas noites de sexta e sábado, regadas a muito champanhe. É lá que rolam, por exemplo, as apresentações do No Porn, projeto de Liana Padilha e Luca Lauri. Com ares de popstar, Liana virou celebrity. "Fico feliz com o reconhecimento pois sei que vem totalmente da música que fazemos", diz. E, com ares de nova musa, a bela Roberta reina nas performances pé no chão (literalmente) do projeto Plitzie. Roberta é atriz e nunca tinha cantado antes. Conheceu Ricardo Athayde, mentor do Plitzie e ilustrador desta coluna, através do Zeh, assim mesmo, com H, seu namorado e integrante da banda de Supla. "É mais uma forma de expressão, uma brincadeira, assim como atuar. O que vale é a diversão", explica, definindo, sem querer, todo o espírito da coisa. Faz parte da banda também o Boris, tipo irmão do Zeh, e eles têm ainda uma banda de punk rock juntos, o Borderlinerz, que toca amanhã no Juke Joint (r. Frei Caneca, 304). São os mais fashion e os mais montados, lindos. Sempre com olho pintado e cabelo no rosto. Todos eles estavam na última segunda na nova noite de Vivi Flaksbaum no D-Edge, não por acaso uma festa de electro e rock com João Gordo como residente. "As festas de electro acabam proporcionando um ambiente perfeito para essa conjunção. Só o fato de você pensar no seu outfit com alguma antecedência dá prazer e atitude", diz Emy Pimenta, promoter da Horny Bunny, nova noite de tudo isso no Brahminha. Bases sujas, som cru. Maquiagem e picumã dramáticos. Listras, gravatas, perneiras e polainas, meia arrastão, luvas, chapéus, boinas. Detone.


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