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Lista da Bienal cita dívida de R$ 2,9 mi
Presidente da fundação diz que documento "é um mero relatório gerencial" e não reflete a contabilidade da instituição
A maior dívida, de acordo com a planilha, é com uma empresa de Manoel Pires da Costa, a TPT Comunicações -são mais de R$ 840 mil
MARIO CESAR CARVALHO
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Fundação Bienal deve
R$ 2,9 milhões, segundo documento da instituição obtido pela Folha. Batizado de "planilha
para baixa de contas a pagar",
ele tem 29 páginas, lista 432
itens a serem pagos e traz a data de 14 de maio.
Três conselheiros da fundação aos quais a Folha mostrou
o documento disseram não entender por que a dívida da Bienal cresceu tanto num período
tão curto. O balanço da Bienal
do ano passado, de 31 de dezembro, citava um déficit de
R$ 1,08 milhão. Em cinco meses, esse valor quase triplicou.
O presidente da Bienal, Manoel Pires da Costa, diz que o
documento obtido pela Folha
"é um mero relatório gerencial" e não reflete a contabilidade da fundação (leia ao lado).
Há dívidas de todos os gêneros e valores na lista da Bienal:
com artistas, museus internacionais, advogados, escritórios
de contabilidade, transportadoras, arquitetos e curadores
brasileiros e estrangeiros.
Estão na lista instituições como a Bienal de Veneza
(R$ 45.696), a National Gallery
of Canada (R$ 16.932) e o Moderna Musset de Estocolmo
(R$ 450). A Bienal deve para a
crítica francesa Catherine David (R$ 4.272), que foi curadora
da Documenta de Kassel e é
uma das vozes mais influentes
na arte contemporânea.
A maior parte das dívidas
venceu entre o segundo semestre do ano passado, quando
aconteceu a Bienal, e os primeiros meses deste ano. Há, no
entanto, dívidas de 2005 ainda
não pagas. Duas são com
Alfonsus Hug (R$ 11.350), curador da 26ª edição da Bienal.
Há mais de 30 artistas na lista, entre eles as brasileiras Lucia Koch (R$ 4.300), Mabe Bethônico (R$ 1.469) e Rivane
Neuenschwander (R$ 1.242).
Entre os estrangeiros estão o
argentino Jorge Macchi (R$
1.242 ), o mexicano Hector Zamora (R$ 4.300) e o australiano Shaun Gladwell (R$ 4.320)
A maior dívida, segundo a lista, é com uma empresa do próprio Pires da Costa, a TPT Comunicações. A Bienal deve
R$ 840.697,50 para a empresa
que edita a revista "Bien'art". A
fundação paga R$ 140 mil por
mês para a TPT: R$ 125 mil pela revista e R$ 15 mil por serviços de assessoria de imprensa.
A TPT recebeu R$ 470 mil
para fazer o projeto da "Bien'art" e cerca de R$ 2 milhões
pelas 30 edições já feitas.
O estatuto da Bienal proíbe o
presidente de realizar negócios
com a entidade por razões mais
ou menos óbvias: há risco de
corrupção. Além da revista feito por uma empresa dele, Pires
da Costa contratou sua mulher
para fazer o paisagismo do pavilhão e uma corretora do genro para cuidar do seguro.
Empresas que prestaram
serviços para a 27ª Bienal
ameaçam ir à Justiça para receber. É o caso da Metro 2, que
fez a montagem. A Bienal gastou cerca de R$ 800 mil com a
Metro 2, a maior parte já paga.
Mas R$ 270 mil combinados
verbalmente não foram pagos.
Por causa das dívidas da fundação, os artistas que vão para
a Bienal de Veneza (José Damasceno, Angela Detanico e
Rafael Lain) foram bancados
pelas galerias. Desde 1993 era a
Bienal que pagava essa conta.
O tamanho da dívida também coloca em xeque o argumento com que o presidente da
Bienal defendeu a violação do
estatuto da fundação no episódio em que uma empresa dele
descontou duplicatas da instituição. Ele disse que violou o
estatuto para salvar a fundação
que, segundo ele, estava quebrada desde 2002, com uma dívida de R$ 4,5 milhões.
Como a dívida atual beira
R$ 3 milhões, há conselheiros
como o advogado Manoel Whitaker Salles que consideram o
discurso da salvação uma cortina de fumaça: "Isso parece conversa de político mentiroso".
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