São Paulo, quarta-feira, 06 de junho de 2007

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Lista da Bienal cita dívida de R$ 2,9 mi

Presidente da fundação diz que documento "é um mero relatório gerencial" e não reflete a contabilidade da instituição

A maior dívida, de acordo com a planilha, é com uma empresa de Manoel Pires da Costa, a TPT Comunicações -são mais de R$ 840 mil


MARIO CESAR CARVALHO
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Fundação Bienal deve R$ 2,9 milhões, segundo documento da instituição obtido pela Folha. Batizado de "planilha para baixa de contas a pagar", ele tem 29 páginas, lista 432 itens a serem pagos e traz a data de 14 de maio.
Três conselheiros da fundação aos quais a Folha mostrou o documento disseram não entender por que a dívida da Bienal cresceu tanto num período tão curto. O balanço da Bienal do ano passado, de 31 de dezembro, citava um déficit de R$ 1,08 milhão. Em cinco meses, esse valor quase triplicou.
O presidente da Bienal, Manoel Pires da Costa, diz que o documento obtido pela Folha "é um mero relatório gerencial" e não reflete a contabilidade da fundação (leia ao lado).
Há dívidas de todos os gêneros e valores na lista da Bienal: com artistas, museus internacionais, advogados, escritórios de contabilidade, transportadoras, arquitetos e curadores brasileiros e estrangeiros.
Estão na lista instituições como a Bienal de Veneza (R$ 45.696), a National Gallery of Canada (R$ 16.932) e o Moderna Musset de Estocolmo (R$ 450). A Bienal deve para a crítica francesa Catherine David (R$ 4.272), que foi curadora da Documenta de Kassel e é uma das vozes mais influentes na arte contemporânea.
A maior parte das dívidas venceu entre o segundo semestre do ano passado, quando aconteceu a Bienal, e os primeiros meses deste ano. Há, no entanto, dívidas de 2005 ainda não pagas. Duas são com Alfonsus Hug (R$ 11.350), curador da 26ª edição da Bienal.
Há mais de 30 artistas na lista, entre eles as brasileiras Lucia Koch (R$ 4.300), Mabe Bethônico (R$ 1.469) e Rivane Neuenschwander (R$ 1.242). Entre os estrangeiros estão o argentino Jorge Macchi (R$ 1.242 ), o mexicano Hector Zamora (R$ 4.300) e o australiano Shaun Gladwell (R$ 4.320)
A maior dívida, segundo a lista, é com uma empresa do próprio Pires da Costa, a TPT Comunicações. A Bienal deve R$ 840.697,50 para a empresa que edita a revista "Bien'art". A fundação paga R$ 140 mil por mês para a TPT: R$ 125 mil pela revista e R$ 15 mil por serviços de assessoria de imprensa.
A TPT recebeu R$ 470 mil para fazer o projeto da "Bien'art" e cerca de R$ 2 milhões pelas 30 edições já feitas.
O estatuto da Bienal proíbe o presidente de realizar negócios com a entidade por razões mais ou menos óbvias: há risco de corrupção. Além da revista feito por uma empresa dele, Pires da Costa contratou sua mulher para fazer o paisagismo do pavilhão e uma corretora do genro para cuidar do seguro.
Empresas que prestaram serviços para a 27ª Bienal ameaçam ir à Justiça para receber. É o caso da Metro 2, que fez a montagem. A Bienal gastou cerca de R$ 800 mil com a Metro 2, a maior parte já paga. Mas R$ 270 mil combinados verbalmente não foram pagos.
Por causa das dívidas da fundação, os artistas que vão para a Bienal de Veneza (José Damasceno, Angela Detanico e Rafael Lain) foram bancados pelas galerias. Desde 1993 era a Bienal que pagava essa conta.
O tamanho da dívida também coloca em xeque o argumento com que o presidente da Bienal defendeu a violação do estatuto da fundação no episódio em que uma empresa dele descontou duplicatas da instituição. Ele disse que violou o estatuto para salvar a fundação que, segundo ele, estava quebrada desde 2002, com uma dívida de R$ 4,5 milhões.
Como a dívida atual beira R$ 3 milhões, há conselheiros como o advogado Manoel Whitaker Salles que consideram o discurso da salvação uma cortina de fumaça: "Isso parece conversa de político mentiroso".


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