São Paulo, sábado, 06 de junho de 2009

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O abrigo da intelligentsia

O Cebrap, um dos principais núcleos de pesquisa e debate intelectual do Brasil, faz 40 anos e celebra a "perícia política" de seu "fundador", Fernando Henrique Cardoso

RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Fernando Henrique Cardoso gosta de dizer que sempre se considerou "mais professor e intelectual do que político". De fato, ele nunca abdicou de fazer considerações sociológicas, mesmo quando o objeto da análise era o próprio governo.
Foi no entanto mais como político do que como sociólogo que dele se recordaram, há uma semana, quase uma centena dos mais importantes intelectuais brasileiros.
Eles se reuniram no último dia 29 de maio no casarão que abriga o Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), numa rua arborizada da Vila Mariana, em São Paulo, para comemorar os 40 anos de criação da instituição, desde então um dos mais importantes centros de pesquisa e "think tanks" brasileiros.
Fundado em maio de 1969 por um grupo de ex-professores da USP recém-aposentados da universidade -compulsoriamente- pela ditadura militar, o Cebrap cumpriu um papel importante para a sociedade brasileira antes mesmo que qualquer pesquisa fosse feita, ou estudo, publicado.
"Sua existência permitiu que uma geração intelectual não fosse cortada; não precisamos ir todos para o exílio, que foi o que aconteceu na Argentina e no Chile, por exemplo", disse o filósofo José Arthur Giannotti.
Eram dele e da demógrafa Elza Berquó, ambos integrantes do grupo de fundadores do centro, as palestras de comemoração, que terminaram se convertendo na celebração de outro colega, segundo eles o herói dessa história de salvação de parte da intelligentsia nacional: Fernando Henrique.
A ideia do instituto e as condições materiais e políticas para sua existência foram obra do sociólogo, disseram seus colegas. Foi FHC quem negociou com a Fundação Ford o investimento financeiro inicial e, com os militares, as garantias mínimas para o seu funcionamento. O ex-presidente diz que não "negociava" com a ditadura. "Eu protestava."
Antes que Giannotti e Berquó chegassem ao fim de seu discurso, a cientista política Maria Hermínia Tavares de Almeida pediu a palavra na plateia e relatou, emocionada, o impasse com que se defrontaram muitos estudantes e professores em 1969.
"O Cebrap foi fundamental. Soubemos que podíamos ficar aqui, que não precisávamos ir para a guerrilha ou para o exílio, e que podíamos ser intelectuais decentes."


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