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O abrigo da intelligentsia
O Cebrap, um dos principais núcleos de pesquisa e debate intelectual do Brasil, faz 40 anos e celebra a "perícia política" de seu "fundador", Fernando Henrique Cardoso
RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Fernando Henrique Cardoso
gosta de dizer que sempre se
considerou "mais professor e
intelectual do que político". De
fato, ele nunca abdicou de fazer
considerações sociológicas,
mesmo quando o objeto da
análise era o próprio governo.
Foi no entanto mais como
político do que como sociólogo
que dele se recordaram, há
uma semana, quase uma centena dos mais importantes intelectuais brasileiros.
Eles se reuniram no último
dia 29 de maio no casarão que
abriga o Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), numa rua arborizada da Vila Mariana, em São Paulo, para
comemorar os 40 anos de criação da instituição, desde então
um dos mais importantes centros de pesquisa e "think
tanks" brasileiros.
Fundado em maio de 1969
por um grupo de ex-professores da USP recém-aposentados
da universidade -compulsoriamente- pela ditadura militar, o Cebrap cumpriu um papel importante para a sociedade brasileira antes mesmo que
qualquer pesquisa fosse feita,
ou estudo, publicado.
"Sua existência permitiu que
uma geração intelectual não
fosse cortada; não precisamos
ir todos para o exílio, que foi o
que aconteceu na Argentina e
no Chile, por exemplo", disse o
filósofo José Arthur Giannotti.
Eram dele e da demógrafa
Elza Berquó, ambos integrantes do grupo de fundadores do
centro, as palestras de comemoração, que terminaram se
convertendo na celebração de
outro colega, segundo eles o
herói dessa história de salvação
de parte da intelligentsia nacional: Fernando Henrique.
A ideia do instituto e as condições materiais e políticas para sua existência foram obra do
sociólogo, disseram seus colegas. Foi FHC quem negociou
com a Fundação Ford o investimento financeiro inicial e,
com os militares, as garantias
mínimas para o seu funcionamento. O ex-presidente diz que
não "negociava" com a ditadura. "Eu protestava."
Antes que Giannotti e Berquó chegassem ao fim de seu
discurso, a cientista política
Maria Hermínia Tavares de Almeida pediu a palavra na plateia e relatou, emocionada, o
impasse com que se defrontaram muitos estudantes e professores em 1969.
"O Cebrap foi fundamental.
Soubemos que podíamos ficar
aqui, que não precisávamos ir
para a guerrilha ou para o exílio, e que podíamos ser intelectuais decentes."
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