São Paulo, sábado, 06 de junho de 2009

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LIVROS

Em contos, Vila-Matas investiga o suicídio

Catalão diz que "Suicídios Exemplares", escrito em 1991, têm visão "otimista"

Autor de "Bartleby e Companhia" afirma que seu próximo livro, que tem publicação prevista para 2010, se passará em Dublin


DENISE MOTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Pela janela do apartamento, Barcelona se estende à sua frente, mas ele há anos quase não põe os pés nas ruas da cidade. É que o catalão Enrique Vila-Matas, quando está em casa, escreve. E, nas viagens que se sucedem quase semanalmente, não leva computador. Respira o mundo, conversa, toma notas. Assim, metódica e descontraída, é a rotina do autor de "Suicídios Exemplares", que chega às livrarias brasileiras.
Lançado originalmente em 1991, "Suicídios Exemplares" nasceu do interesse do escritor à época por temas como a morte e o "estupor diante da vida". "Não gosto de fragmentar as coisas, utilizo um tema para costurar a construção de um livro. Mas é verdade que os assuntos sobre os quais escrevi compõem uma biografia literária, na qual podem ser vistas como foram transcorrendo etapas da minha vida por meio dessas obsessões, preocupações", afirma à Folha. "Escrever tem sido muito bom porque é uma forma curiosa de comunicação com os outros, um lento processo de reconhecimento dos leitores, que me levou a reconsiderar minha posição sobre o que escrevo e minha relação com quem me lê."
A série de relatos em torno de pulsões como a "tentação do salto", segundo descreve no conto que dá início à obra, é considerada por Vila-Matas um de seus melhores livros. "Creio que resistiu perfeitamente ao tempo e é uma das obras mais apreciadas pelos leitores. Pertence a uma etapa em que eu era muito narrativo, nesse sentido é um livro fresco, de matizes jovens", analisa.
"Suicídios" também funcionou como ferramenta de autoconhecimento: "Durante o livro, corria o risco de ser tentado pela sedução que poderia me oferecer não só o tema, mas o ato em si. E, quando o terminei, o que comprovei é que havia escrito algo enormemente vital e otimista. No livro quase ninguém se mata, é curioso. Descobri que tinha uma visão de mundo negra no sentido do humor, mas pouco negativa".

O novo livro
Quase duas décadas depois, a individualidade permanece sob a mira do catalão, autor de mais de duas dezenas de livros. O homem, frente ao vazio e a seus limites, é um dos temas que ocupam a pena de Vila-Matas hoje e não vai deixar de estar presente no livro que acaba de concluir. A história se passa em Dublin e tem publicação prevista para 2010.
Além da Irlanda, para onde tem ido com frequência por conta da nova obra, o próximo destino do escritor é Palermo, cidade que lhe entrega neste mês o Prêmio Mondello por "Doutor Pasavento", ainda sem data de publicação no Brasil.
Grave e a um só tempo bem-humorado, Vila-Matas ainda aproveita as longas temporadas fora da Espanha para, além de inspiração, encontrar momentos para empreender, segundo conta, exercícios lúdicos consigo mesmo. "Escrevo o que me acontece nas viagens antes mesmo de viajar, por vezes. E, quando faço a viagem, tento realizar algumas das coisas que contei para que se cumpra o que escrevi", conta, sobre os textos que publica aos domingos no jornal "El País".
"No ano passado, tive que ir a Cartagena de Índias, na Colômbia, e precisava entregar o artigo antes. Vendo o hotel, a piscina e as palmeiras que rodeavam meu quarto, pude contar como alguém me pedia um cigarro na beira da piscina. Quando cheguei a Cartagena, pedi que me pedissem um cigarro nessas circunstâncias", descreve. "É um jogo, claro. Não podemos esquecer, goste-se ou não, que a literatura é um jogo constante."


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