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LIVROS
Em contos, Vila-Matas investiga o suicídio
Catalão diz que "Suicídios Exemplares", escrito em 1991, têm visão "otimista"
Autor de "Bartleby e Companhia" afirma que seu próximo livro, que tem publicação prevista para 2010, se passará em Dublin
DENISE MOTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Pela janela do apartamento,
Barcelona se estende à sua
frente, mas ele há anos quase
não põe os pés nas ruas da cidade. É que o catalão Enrique Vila-Matas, quando está em casa,
escreve. E, nas viagens que se
sucedem quase semanalmente,
não leva computador. Respira o
mundo, conversa, toma notas.
Assim, metódica e descontraída, é a rotina do autor de "Suicídios Exemplares", que chega às
livrarias brasileiras.
Lançado originalmente em
1991, "Suicídios Exemplares"
nasceu do interesse do escritor
à época por temas como a morte e o "estupor diante da vida".
"Não gosto de fragmentar as
coisas, utilizo um tema para
costurar a construção de um livro. Mas é verdade que os assuntos sobre os quais escrevi
compõem uma biografia literária, na qual podem ser vistas como foram transcorrendo etapas da minha vida por meio
dessas obsessões, preocupações", afirma à Folha. "Escrever tem sido muito bom porque é uma forma curiosa de comunicação com os outros, um
lento processo de reconhecimento dos leitores, que me levou a reconsiderar minha posição sobre o que escrevo e minha relação com quem me lê."
A série de relatos em torno
de pulsões como a "tentação do
salto", segundo descreve no
conto que dá início à obra, é
considerada por Vila-Matas
um de seus melhores livros.
"Creio que resistiu perfeitamente ao tempo e é uma das
obras mais apreciadas pelos
leitores. Pertence a uma etapa
em que eu era muito narrativo,
nesse sentido é um livro fresco,
de matizes jovens", analisa.
"Suicídios" também funcionou como ferramenta de autoconhecimento: "Durante o livro, corria o risco de ser tentado pela sedução que poderia
me oferecer não só o tema, mas
o ato em si. E, quando o terminei, o que comprovei é que havia escrito algo enormemente
vital e otimista. No livro quase
ninguém se mata, é curioso.
Descobri que tinha uma visão
de mundo negra no sentido do
humor, mas pouco negativa".
O novo livro
Quase duas décadas depois, a
individualidade permanece sob
a mira do catalão, autor de mais
de duas dezenas de livros. O homem, frente ao vazio e a seus limites, é um dos temas que ocupam a pena de Vila-Matas hoje
e não vai deixar de estar presente no livro que acaba de concluir. A história se passa em
Dublin e tem publicação prevista para 2010.
Além da Irlanda, para onde
tem ido com frequência por
conta da nova obra, o próximo
destino do escritor é Palermo,
cidade que lhe entrega neste
mês o Prêmio Mondello por
"Doutor Pasavento", ainda sem
data de publicação no Brasil.
Grave e a um só tempo bem-humorado, Vila-Matas ainda
aproveita as longas temporadas
fora da Espanha para, além de
inspiração, encontrar momentos para empreender, segundo
conta, exercícios lúdicos consigo mesmo. "Escrevo o que me
acontece nas viagens antes
mesmo de viajar, por vezes. E,
quando faço a viagem, tento
realizar algumas das coisas que
contei para que se cumpra o
que escrevi", conta, sobre os
textos que publica aos domingos no jornal "El País".
"No ano passado, tive que ir a
Cartagena de Índias, na Colômbia, e precisava entregar o artigo antes. Vendo o hotel, a piscina e as palmeiras que rodeavam
meu quarto, pude contar como
alguém me pedia um cigarro na
beira da piscina. Quando cheguei a Cartagena, pedi que me
pedissem um cigarro nessas
circunstâncias", descreve. "É
um jogo, claro. Não podemos
esquecer, goste-se ou não, que a
literatura é um jogo constante."
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