São Paulo, domingo, 06 de junho de 2010

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CRÍTICA DVDS

"A Conversação" e "Eva" retratam visões de mundo opostas

Fora do mercado há tempos, filmes de Francis F. Coppola e Joseph Losey renascem em lançamentos

CRÍTICO DA FOLHA

Alguns filmes renascem. Quem lembrava de "Eva", exceto os fanáticos por Joseph Losey? Há séculos não aparecia nem em televisão. E "A Conversação"? Bem, este, de vez em quando, se podia ver numa cópia imprecisa.
São filmes bem diferentes. "Eva" é Veneza. Desde o plano inicial, o que vemos é uma imagem que parece querer escapar aos olhos, a Veneza evanescente, em meios-tons desesperados como o amante que aos poucos descobre a mulher que o fascina, Eva. Ou antes, que o que o fascina é o mistério da mulher.
Depois, há o jogo da dominação: o sedutor incontrolável, infalível (Stanley Baker), topa com a mulher que lhe adverte: "Não me ame".
Amá-la significa submeter-se. E submeter-se... Isso é o que o filme mostrará. Digamos que Eva (Jeanne Moreau) corresponde à ideia de mulher fatal a que se referia Jean Renoir: não muito bela, mas profissional.

SEM SEGREDOS
"A Conversação" é o oposto. Nenhuma dissimulação. Nenhum ocultamento. Afinal, o filme de Francis F. Coppola é sobre escuta.
E a primeira cena, genial, dá conta disso: há o casal, alvo da ação, os microfones. O homem que os segue, o que passa por eles. Aquele colocado à distância, no alto de um prédio. Cada microfone é como um atirador.
Por mais que fuja, que ande, o casal não escapa à escuta. Entramos em um mundo sem segredos.
São dois mundos diversos. Eva não tem escrúpulos nem dúvidas (assim como o escritor, aliás). Já o mestre das escutas começa a tê-los. Pergunta-se: qual a minha responsabilidade sobre as vidas que podem ser arruinadas?
Ao existencialismo (a responsabilidade por seus atos) junta-se a religião (a culpa). É um outro caminho para o inferno neste filme de 1974, isto é, é do Watergate que falamos, em princípio, mas, mais do que isso, de um mundo em que todos seremos, o tempo inteiro, vigiados.
Se Eva, ao contrário, ainda fala de um mundo fugidio, de imagens e seres que escapam aos olhos, o Al Capone de "O Massacre de Chicago" tudo vê. Roger Corman fez aqui seu filme mais bem produzido (e o de que mais gosta).
Uma magnífica reconstituição jornalística da sangueira promovida por Al Capone contra Bugs Moran.
Desta vez, no entanto, a ClassicLine presta um desserviço ao editar o filme em tela cheia em vez de respeitar o formato Panavision original. Parece uma doença incurável: acham que o enquadramento é uma coisa feita meio que ao acaso.
"O Massacre..." ainda é um filme por renascer. E que, como os dois outros, merece renascer. (INÁCIO ARAUJO)


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