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CRÍTICA DVDS
"A Conversação" e "Eva" retratam visões de mundo opostas
Fora do mercado há tempos, filmes de Francis F. Coppola e Joseph Losey renascem em lançamentos
CRÍTICO DA FOLHA
Alguns filmes renascem.
Quem lembrava de "Eva",
exceto os fanáticos por Joseph Losey? Há séculos não
aparecia nem em televisão. E
"A Conversação"? Bem, este,
de vez em quando, se podia
ver numa cópia imprecisa.
São filmes bem diferentes.
"Eva" é Veneza. Desde o plano inicial, o que vemos é uma
imagem que parece querer
escapar aos olhos, a Veneza
evanescente, em meios-tons
desesperados como o amante que aos poucos descobre a
mulher que o fascina, Eva.
Ou antes, que o que o fascina
é o mistério da mulher.
Depois, há o jogo da dominação: o sedutor incontrolável, infalível (Stanley Baker),
topa com a mulher que lhe
adverte: "Não me ame".
Amá-la significa submeter-se. E submeter-se... Isso é
o que o filme mostrará. Digamos que Eva (Jeanne Moreau) corresponde à ideia de
mulher fatal a que se referia
Jean Renoir: não muito bela,
mas profissional.
SEM SEGREDOS
"A Conversação" é o oposto. Nenhuma dissimulação.
Nenhum ocultamento. Afinal, o filme de Francis F. Coppola é sobre escuta.
E a primeira cena, genial,
dá conta disso: há o casal, alvo da ação, os microfones. O
homem que os segue, o que
passa por eles. Aquele colocado à distância, no alto de
um prédio. Cada microfone é
como um atirador.
Por mais que fuja, que ande, o casal não escapa à escuta. Entramos em um mundo
sem segredos.
São dois mundos diversos.
Eva não tem escrúpulos nem
dúvidas (assim como o escritor, aliás). Já o mestre das escutas começa a tê-los. Pergunta-se: qual a minha responsabilidade sobre as vidas
que podem ser arruinadas?
Ao existencialismo (a responsabilidade por seus atos)
junta-se a religião (a culpa). É
um outro caminho para o inferno neste filme de 1974, isto
é, é do Watergate que falamos, em princípio, mas, mais
do que isso, de um mundo
em que todos seremos, o tempo inteiro, vigiados.
Se Eva, ao contrário, ainda
fala de um mundo fugidio, de
imagens e seres que escapam
aos olhos, o Al Capone de "O
Massacre de Chicago" tudo
vê. Roger Corman fez aqui
seu filme mais bem produzido (e o de que mais gosta).
Uma magnífica reconstituição jornalística da sangueira promovida por Al Capone contra Bugs Moran.
Desta vez, no entanto, a
ClassicLine presta um desserviço ao editar o filme em
tela cheia em vez de respeitar
o formato Panavision original. Parece uma doença incurável: acham que o enquadramento é uma coisa feita
meio que ao acaso.
"O Massacre..." ainda é
um filme por renascer. E que,
como os dois outros, merece
renascer.
(INÁCIO ARAUJO)
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