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LIVROS/LANÇAMENTOS
HISTÓRIA
Obra do engenheiro baiano, que viveu em SP na virada do século 20, ajudou Euclydes da Cunha em "Os Sertões"
Teodoro Sampaio traça o Brasil em diário
SYLVIA COLOMBO
EDITORA-ADJUNTA DA ILUSTRADA
"Estávamos de fato num mundo estranho. Como estavas longe,
oh, civilização." Colhidas do diário de viagem do engenheiro Teodoro Sampaio (1855-1937) pelo
rio São Francisco e a Chapada
Diamantina, as palavras acima
sintetizam a ânsia pela modernização do Brasil e o embate das
idéias de civilização e barbárie
que dominavam o debate intelectual nos grandes centros urbanos
na virada para o século 20.
Publicado pela coleção Retratos
do Brasil, da Companhia das Letras, o diário permite investigar o
pensamento desse intelectual
baiano que teve importante papel
nas transformações pelas quais
passou a produção de conhecimento no país no período.
Filho de uma escrava e um padre, Teodoro Sampaio amadureceu profissionalmente em São
Paulo na época em que esta, com
os lucros do café, tentava a todo o
custo deixar para trás os costumes, a economia e a imagem coloniais. É dessa época a fundação de
várias instituições científicas,
consideradas peça importante
desse processo modernizante.
Sampaio participou da criação de
duas delas, a Escola Politécnica
(1893) e o Instituto Histórico e
Geográfico de São Paulo (1894).
Sampaio chegou à capital paulista como renomado conhecedor
do sertão baiano. Entre 1879 e
1880, o engenheiro participou da
Comissão Hidráulica, que estudou os portos e a navegação pelo
país. É o relato do trajeto percorrido entre a foz do São Francisco até
a cidade de Pirapora (MG), e depois de Carinhanha até São Félix
(BA), pela Chapada Diamantina,
que chega agora às livrarias.
A organização é do historiador
José Carlos Barreto de Santana, da
Universidade Estadual de Feira de
Santana, que está escrevendo
uma biografia de Sampaio.
Leia abaixo trechos da entrevista que o pesquisador deu à Folha
sobre o personagem, hoje talvez
mais famoso por dar nome a uma
das principais ruas comerciais de
SP e ao município no Pontal do
Paranapanema, base para a ação
dos sem-terra no Oeste paulista.
Folha - Quais as diferenças entre
o olhar de viajante de Teodoro
Sampaio e o dos viajantes do começo do século 19?
José Carlos Barreto de Santana -
Existem antes certas semelhanças. O relato de Teodoro Sampaio
é ainda o da abrangência, representado pela presença de uma variedade de conhecimentos (geologia, botânica, história, etnografia, geografia). Convivem descrições do meio físico com momentos de encantamento com a natureza. Teodoro fez uma espécie de
inventário das paisagens e populações de uma parte do país que é
mais habitado do que se pensa,
menos rico do que se presume e
mais belo do que se imagina.
Folha - Como era a relação do autor com Euclydes da Cunha?
Santana - Euclydes da Cunha
frequentava a casa de Teodoro
Sampaio. Este foi, junto com o
geólogo Orville Derby e o botânico Albert Loefgren, responsável
pela indicação do nome de Euclydes para compor o quadro de sócios do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e um de seus
mais importantes colaboradores
na elaboração de "Os Sertões".
Folha - De que maneira se deu essa colaboração?
Santana - Euclydes tratou pela
primeira vez da Guerra de Canudos nos artigos "A Nossa Véndeia" (1897), motivados pela derrota da expedição do coronel Moreira César no enfrentamento
com os seguidores de Antonio
Conselheiro. Chama a atenção a
abordagem de aspectos do meio
físico daquela região do interior
baiano que Euclydes não conhecia. Euclydes obteve notas e até
um mapa inédito do local, que, divulgado sem autorização de Teodoro, criou constrangimentos,
pois este foi chamado a uma conferência com o então governador
de SP, Campos Sales.
Folha - Quais aspectos observados no livro colaboram para o entendimento da atual configuração
humana e geográfica da região?
Santana - A leitura do diário de
Teodoro permite entender como
a diminuição da importância do
rio São Francisco enquanto sistema de viação interior e a decadência da mineração redefiniram a
importância de suas vilas e cidades. Os grupamentos humanos
desenvolviam características diferenciadas dos habitantes do litoral e que ainda hoje são associadas
ao sertanejo. Muito do que foi
descrito ainda se encontra sem
grandes modificações, como, por
exemplo, os deslocamentos populacionais regidos pelas secas.
O RIO SÃO FRANCISCO E A CHAPADA
DIAMANTINA -
De: Teodoro Sampaio.
Organização: José Carlos Barreto de
Santana. Editora: Companhia das Letras.
Quanto: R$ 31,50 (351 págs.).
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