São Paulo, terça-feira, 06 de julho de 2004 |
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Homens em tempos sombrios
Folha reúne Martin Amis, Ian McEwan e Paul Auster para discutir livros e política Folha - Existem coisas em comum
entre a literatura de vocês três? Ian McEwan - Fazemos a escadinha, 1947, 1948, 1949. Auster - Fora isso, vejo muito
poucas conexões, a não ser o fato
de escrevermos em inglês. Martin Amis - Escritores não tentam fazer a mesma coisa. E, quando tentam, o resultado é artificial.
Não estamos tentando escrever o
livro um do outro. A única obra
que todos tentamos escrever tem
o título "O Jeito que Vivemos Hoje". Buscamos esse romance por
caminhos diferentes. Auster - Boa resposta. O principal motivo porque nós três estamos aqui é que não escrevemos o
livro dos outros. E a única razão
pela qual escritores querem escrever, e leitores querem ler, é achar
coisas que são diferentes de todo
o resto. Para o bem ou para o mal,
isso se aplica a nós. Ninguém escreve como Ian, ou como Martin. Folha - Como vocês imaginam
que a ficção de hoje, em inglês, vai
ser conhecida daqui a 40 anos? Auster - Na América sempre tivemos o vigor da literatura dos
imigrantes. Agora vivemos uma
onda de autores americanos de
origem russa. Os imigrantes russos dos anos 80 estão escrevendo
sobre sua experiência americana. Amis - No século 19, quando a
Inglaterra era o centro do mundo,
nossa ficção predominou. É isso
que está acontecendo agora na
América, desde a segunda metade
do século 20. A ficção americana
reflete a confiança, a luz do país. Folha - Queria lembrar um texto
de Auster no qual ele fala que os escritores que o interessam são os
mesmos que ele admirava quando
era jovem. Vocês sentem o mesmo? Auster - O que quis dizer é que
você se forma como escritor muito jovem e os autores que te marcam são mais velhos; aí você atinge um determinado estágio em
que pouca coisa que você lê pode
mudar sua relação com sua obra. Amis - Também é mais difícil ler
os jovens. Os mais velhos tiveram
sua reputação provada pelo tempo. O tempo é o único juiz. Os jovens ainda não foram testados. Folha - Vocês lêem os jovens? Auster - A América segue produzindo bons poetas. É uma pena
que sejam marginalizados, como
a boa poesia dos Estados Unidos
sempre foi. Ezra Pound teve edições de apenas 57 cópias. Amis - Não há Pounds por aí. McEwan - E Seamus Heaney? Amis - Sim, mas ele tem uns 60
anos. O mundo hoje está muito
acelerado, e o que o poeta faz é parar um pouco o mundo, como faz
o jogador de xadrez ao acionar o
relógio. Como se dissesse: "Espere, agora vamos examinar isso". |
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