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Brasileiros relativizam idéias de mexicano
DA REDAÇÃO
Ao mostrar uma série de fotomontagens, muitas das quais difíceis de serem percebidas, durante
sua exposição no Artefoto 2004,
em Brasília, e fazer a defesa do livre uso desse artifício, Meyer causou um certo alvoroço na platéia,
sobretudo entre as pessoas ligadas ao fotodocumentário.
O fotógrafo, antropólogo e professor do Instituto de Humanidades da Universidade Cândido
Mendes Milton Guran, presente
na palestra de Meyer, acredita que
as digitais e as novas mídias representam uma verdadeira revolução cultural com impacto na vida das pessoas ainda difícil de ser
mensurado.
Mas relativiza os caminhos
apontados por Meyer: "É por ter
certeza de que uma fotografia representa algo que efetivamente
existe no mundo visível, e que se
fez representar daquela maneira
naquele momento, que uma foto
é para nós suporte da memória e
instrumento do conhecimento e
da fantasia. É nesse ponto que a
manipulação digital da fotografia
ou da imagem a ela assemelhada
deve ser cuidadosamente considerada: quando a imagem opera
no campo da imaginação, da arte,
tudo é válido, ao contrário do que
deve ocorrer quando a foto tem
por função informar, o mais literalmente possível, sobre fatos e
atos do mundo visível, compartilhado por todos. No fundo, a
questão dos limites à manipulação das imagens é sobretudo ética, o que torna também válida para a digital a centenária afirmação
de Lewis Hine de que "fotografias
não mentem, mas mentirosos fotografam'", conclui.
Para Boris Kossoy, professor titular do departamento de jornalismo e editoração da ECA/USP,
Meyer realiza um jogo de palavras
inteligente, mas que deve ser desconstruído. "Toda e qualquer
imagem fotográfica seja ela analógica ou digital sofre algum tipo de
manipulação. Isso é inerente ao
sistema de representação visual
pelo qual a foto é gestada. Nesse
sentido não é o real na sua concretude que temos diante de nós
quando apreciamos uma fotografia. Temos, isto sim, uma segunda
realidade, a realidade da representação, que tomamos como um
documento. São as representações fotográficas tornadas documentos que moldam nossa percepção e conhecimento sobre os
fatos de hoje. São também os documentos que se prestarão no futuro para as reconstituições históricas. Aceitando passivamente
qualquer tipo de interferência na
produção dos registros fotográficos, estaremos convalidando o
falseamento da memória. Uma
coisa é a representação do mundo, e a outra é o mundo da representação. Não podemos deixar
que a representação se torne mais
importante que os fatos", finaliza
Kossoy.
(EC)
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