São Paulo, terça-feira, 06 de julho de 2004

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Brasileiros relativizam idéias de mexicano

DA REDAÇÃO

Ao mostrar uma série de fotomontagens, muitas das quais difíceis de serem percebidas, durante sua exposição no Artefoto 2004, em Brasília, e fazer a defesa do livre uso desse artifício, Meyer causou um certo alvoroço na platéia, sobretudo entre as pessoas ligadas ao fotodocumentário.
O fotógrafo, antropólogo e professor do Instituto de Humanidades da Universidade Cândido Mendes Milton Guran, presente na palestra de Meyer, acredita que as digitais e as novas mídias representam uma verdadeira revolução cultural com impacto na vida das pessoas ainda difícil de ser mensurado.
Mas relativiza os caminhos apontados por Meyer: "É por ter certeza de que uma fotografia representa algo que efetivamente existe no mundo visível, e que se fez representar daquela maneira naquele momento, que uma foto é para nós suporte da memória e instrumento do conhecimento e da fantasia. É nesse ponto que a manipulação digital da fotografia ou da imagem a ela assemelhada deve ser cuidadosamente considerada: quando a imagem opera no campo da imaginação, da arte, tudo é válido, ao contrário do que deve ocorrer quando a foto tem por função informar, o mais literalmente possível, sobre fatos e atos do mundo visível, compartilhado por todos. No fundo, a questão dos limites à manipulação das imagens é sobretudo ética, o que torna também válida para a digital a centenária afirmação de Lewis Hine de que "fotografias não mentem, mas mentirosos fotografam'", conclui.
Para Boris Kossoy, professor titular do departamento de jornalismo e editoração da ECA/USP, Meyer realiza um jogo de palavras inteligente, mas que deve ser desconstruído. "Toda e qualquer imagem fotográfica seja ela analógica ou digital sofre algum tipo de manipulação. Isso é inerente ao sistema de representação visual pelo qual a foto é gestada. Nesse sentido não é o real na sua concretude que temos diante de nós quando apreciamos uma fotografia. Temos, isto sim, uma segunda realidade, a realidade da representação, que tomamos como um documento. São as representações fotográficas tornadas documentos que moldam nossa percepção e conhecimento sobre os fatos de hoje. São também os documentos que se prestarão no futuro para as reconstituições históricas. Aceitando passivamente qualquer tipo de interferência na produção dos registros fotográficos, estaremos convalidando o falseamento da memória. Uma coisa é a representação do mundo, e a outra é o mundo da representação. Não podemos deixar que a representação se torne mais importante que os fatos", finaliza Kossoy. (EC)


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