São Paulo, quinta-feira, 06 de julho de 2006

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Edino Krieger é homenageado em Campos do Jordão

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
O compositor Edino Krieger, 78, na praia de Botafogo, no Rio, onde mora


Atração do 37º Festival de Inverno, compositor fala sobre carreira e política cultural; obra inédita de sua autoria será regida por Roberto Minczuk, no dia 28

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Como Krzysztof Penderecki, ele foi um compositor de vanguarda na juventude. E, a exemplo do badalado compositor polonês, adotou nas últimas décadas uma linguagem mais "acessível". Radicado no Rio de Janeiro há seis décadas, o catarinense Edino Krieger, 78, é o compositor residente do 37º Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão, que vai de sábado ao dia 30 de julho, tendo como eixos temáticos os 250 anos de nascimento de Mozart e a música russa.
Instituída pelo maestro Roberto Minczuk desde que este assumiu a direção artística do evento, em 2004, a figura do compositor residente é usual na Europa e nos EUA, mas rara por aqui. Escolhe-se um criador emblemático do cenário musical para passar o mês em Campos do Jordão, realizando tarefas pedagógicas com os alunos de composição do festival e assistindo à execução de obras suas, como a "Passacalha para o Novo Milênio", que a Osesp, sob a batuta de John Neschling, executa já no concerto de abertura, no sábado.
Além disso, Krieger compôs uma obra especialmente para a ocasião, para ser estreada e gravada pela Orquestra Acadêmica (formada por professores e alunos), sob regência de Minczuk, dia 28, em Campos do Jordão, e dia 30, na Sala São Paulo.
Trata-se de "Ritmetrias - Variações Rítmicas sobre um Metro Contínuo", na qual Krieger adota um padrão métrico mantido até o final da peça, à maneira de um metrônomo. Sobre este padrão, o compositor escreveu variações rítmicas que contemplam diversas danças brasileiras, como baião, valsa e jongo, terminando em uma fanfarra à moda de frevo.
Relativamente fácil de ouvir e de executar, a peça teve, contudo, gênese dramática: o autor esforçou-se para terminá-la logo, à medida que sua vista piorava. "Estou com um problema na retina, que não tem tratamento nem reversão. Não consigo enxergar direito a pauta, o que dá irritação e desânimo."
Compondo com lápis, papel e borracha, ele agora tem que recorrer à lupa para escrever. O problema vem desde o ano passado, mas não o impediu de finalizar outras encomendas importantes, como uma "Suíte Concertante para Violão e Orquestra", recentemente gravada por Turíbio Santos e a Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, sob a batuta de Silvio Barbato; e um "Concerto para Violoncelo", requerido pelo maior astro brasileiro deste instrumento, o pernambucano radicado na Suíça Antonio Meneses, que também estará em Campos.
Ambas as peças estão vazadas no estilo neoclássico que o compositor tem adotado a partir de 1994. Aluno do maestro Koellreuter, Krieger chegou a empregar o serialismo em suas obras de juventude, teve uma fase nacionalista nos anos 50, empregando, entre 1965 e a década de 90, um interessante idioma eclético, com elementos vanguardistas, em obras como "Ludus Symphonicus" (1965) e "Canticum Naturale" (1972).
O autor catarinense não repudia sua fase "radical". "A música não se faz por eliminação do que foi feito, e sim por adição de coisa nova", teoriza. "Mesmo sendo pouco tocada, a vanguarda teve o mérito de ensinar ao público uma nova escuta do material sonoro."
Com algumas curiosidades, como as trilhas sonoras dos filmes "O Meu Pé de Laranja Lima" (1970), de Aurélio Teixeira, e "O Trapalhão na Ilha do Tesouro" (1975), de J. B. Tanko, o catálogo de Edino Krieger tem pouco mais do que cem itens -quantidade considerada modesta. "Como a gente não consegue viver disso, o trabalho de criação sempre foi uma coisa periférica", diz o catarinense radicado há seis décadas no Rio. "Eu não tive carreira acadêmica e sempre me dediquei mais à administração às vezes, tendo que atuar em mais de um emprego. Por isso acabei compondo menos do que outros colegas."
Criador das Bienais de Música Contemporânea do Rio de Janeiro, o compositor já ocupou uma série de cargos administrativos, como a presidência da Funarte e da Academia Brasileira de Música.
O último deles foi a direção do MIS (RJ), onde ele atuou de março de 2004 até abril deste ano, quando ficou sabendo pelos jornais que Noca da Portela, recém-empossado como secretário da Cultura, resolveu substituí-lo por Nilcemar Nogueira, neta do sambista Cartola.
Na segunda, ele leva ao Senado, em Brasília, reivindicações da área de música erudita, como uma revisão da Lei Rouanet. "Gostaríamos de ter critérios mais adequados, para valorizar o trabalho do músico brasileiro", diz, referindo-se ao fato de a lei permitir patrocínio de estrangeiros.
Em agosto, a Camerata Florianópolis deve lançar CD com as "Imagens de Santa Catarina", feitas por Krieger. Em 2008, ele deve compor uma obra visando às comemorações do bicentenário da chegada da corte portuguesa ao Brasil.


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