São Paulo, quinta-feira, 06 de julho de 2006

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Sennett quer expor problemas e soluções de SP

Sociólogo virá à cidade em 2007 como parte do programa Urban Age, que estuda e formula propostas para metrópoles

Nova rodada de discussões do projeto, organizado pela London School of Economics, vai de hoje a sábado, em Johannesburgo

SYLVIA COLOMBO
RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL

Richard Sennett está de olho em São Paulo. O sociólogo britânico prepara para 2007 uma viagem para colher informações sobre a capital paulista e integrá-la às discussões do Urban Age (leia ao lado), projeto organizado pela London School of Economics para o estudo de programas para as cidades contemporâneas. A quinta rodada de discussões do Urban Age, que contará com a presença de Sennett, começa hoje em Johannesburgo. Leia abaixo trechos da entrevista que o sociólogo, autor do clássico "O Declínio do Homem Público", concedeu à Folha, por telefone, de Londres.  

FOLHA - O que a comparação entre cidades como Xangai e São Paulo pode oferecer como soluções?
RICHARD SENNETT
- A China está sendo muito comparada ao Brasil nessa sua fase de crescimento. Só que é uma comparação que sempre favorece a China, porque os argumentos se baseiam apenas em análises econômicas. Nesse sentido, a China é vista como um país mais compromissado com o crescimento. Mas eu, particularmente, acredito que a realidade seja outra. É preciso olhar a situação de forma mais ampla, para além dos argumentos econômicos. E tenho certeza de que São Paulo, por exemplo, terá mais soluções para indicar para Xangai do que vice-versa.

FOLHA - Que desafios representam cidades que estão crescendo e se desenvolvendo rápido demais?
SENNETT
- Geralmente, elas têm um crescimento não sustentável e pouco ecológico. O desafio é pensar em não continuar se desenvolvendo com os mesmos equívocos do passado.

FOLHA - A China está repetindo esses erros cometidos por grandes cidades da América Latina?
SENNETT
- Sim, na verdade, isso já aconteceu. A China cresceu tão rápido e de uma forma tão desesperada para alcançar o mundo ocidental que tomou o modelo americano e construiu tudo de uma vez só. Só que essas cidades ficaram muito parecidas com as dos EUA de 50 anos atrás. E, agora, os chineses estão percebendo que o modelo americano, neste momento do capitalismo, é um erro.

FOLHA - Eles podem agora buscar o modelo europeu?
SENNETT
- Sim, o modelo europeu é o mais sustentável e eles já entenderam isso. Sabem que fizeram um gasto não necessariamente correto. Com isso, prédios enormes para escritórios estão vazios, porque não há negócios para sustentá-los.

FOLHA - Você vive entre Londres e Nova York, como as compara hoje?
SENNETT
- Londres está se acertando com seu passado. Muitos imigrantes que vêm para cá são de ex-colônias e têm uma relação cultural específica com o país. Já grande parte dos imigrantes de Nova York não tinham ligações culturais com os EUA antes e, por isso, são mais isolados. A sua relação com o país é mais de ordem material. Em Londres, há uma longa história de séculos de conflitos culturais que os imigrantes trazem na memória quando vêm e fazem dessa questão algo mais complexo, um problema bastante peculiar a essa cidade.


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