São Paulo, sexta-feira, 06 de julho de 2007

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Garotos tangerina

Trio Beastie Boys deixa o rap e faz CD instrumental influenciado por Mutantes e pelo suco de mexerica de um boteco do Rio

Vanya Edwards/Divulgação
Adam "MCA" Yauch, Mike D e Adam "Ad Rock" Horovits, os Beastie Boys, que lançam "The Mix-Up"


ADRIANA FERREIRA SILVA
EDITORA DO GUIA DA FOLHA

Nada de samples, toca-discos ou baterias eletrônicas. E, principalmente, nada de rap. Assim é "The Mix-Up", novo disco do Beastie Boys, que surpreende os fãs com um álbum instrumental do início ao fim.
Não bastasse a inusitada falta de rimas, "The Mix-Up" tem um algo a mais para os brasileiros. Uma das músicas se chama "Suco de Tangerina"-frutinha que está retratada também na capa do CD.
Marcada por riffs de guitarra e reverberações de dub, "Suco de Tangerina" ganhou este nome após o trio experimentar o tal refresco em uma lanchonete carioca durante sua passagem pelo Brasil, no ano passado.
A iguaria já havia sido exaltada por eles durante a apresentação no Tim Festival, mas há outros mistérios por trás da faixa do que só a fruta: "Essa música é dedicada à Brigitte Bardot e Jorge Ben", falou Adam "MCA" Yauch à Folha.
"Quando estávamos no Rio, fomos a um lugar chamado "BB Lanches" [casa de sucos em Ipanema], que fazia uns lanches enormes", lembra MCA. "Descobrimos que o lugar se chamava "BB" porque Brigitte Bardot costumava almoçar lá quando estava na cidade. E descobrimos também que ela teve um "affair" com Jorge Ben! Então, "Suco de Tangerina" foi feita para Bardot e Jorge Ben."
A empolgação com a "descoberta" foi tanta que, segundo MCA, eles pensaram até em batizar o disco de "BB Lanches", idéia abandonada posteriormente -mas que não seria nada mal...
"The Mix-Up" (leia crítica na pág. E2) traz outras referências nacionais que vão além da gastronomia. A composição "14th St. Break", por exemplo, tem uma pegada de bateria que lembra a percussão do samba.
"Ouvimos muita música brasileira", confirma MCA. "Há alguma influência de samba, mas o que mais escutamos foi bossa nova e canções antigas, lentas. E, claro, há a psicodelia dos Mutantes", diz ele.
Quando começou a gravar, há cerca de um ano, o trio não tinha a intenção de fazer um CD instrumental, afirma MCA.
"Nosso último lançamento, "To the 5 Boroughs" [2004] era totalmente hip hop, com samples, programações, seqüenciadores, sintetizadores, baterias eletrônicas", detalha. "Nesse, a primeira coisa que começamos a registrar foram os instrumentos. Queríamos fazer um mix entre eles e os beats."
No estúdio, os três rappers, Mike D (bateria), MCA (baixo) e Adam "Ad Rock" Horovitz (bateria), juntaram-se ao quarto Beastie Boys, o tecladista Mark Nishita, o Money Mark, e ao percussionista Alfredo Ortiz -ambos colaboradores de longa data-, iniciando sessões de improvisação marcadas por climas psicodélicos, rock e dub.
"A idéia era gravar as bases instrumentais e, depois, colocar os vocais", recorda MCA. "Mas, quando começamos a retrabalhar as músicas, achamos que elas estavam muito boas e decidimos terminar o disco sem as vozes."
Sétimo trabalho de estúdio da banda -que tem ainda uma leva de EPs, singles etc.-, "The Mix-Up" não é o primeiro disco instrumental do Beastie Boys. Em 1996, eles lançaram "The in Sound from Way Out!", coletânea que reunia faixas sem vocais retiradas dos álbuns "Check Your Head" (1992) e "Ill Communication" (1994).

Espírito retrô
Por trás de "The Mix-Up", no entanto, há um conceito que MCA define como "a falta de regras" e o "uso de equipamentos que marcaram os anos 70 e início dos 80". Assim, a maior parte das faixas foi feita ao vivo, em jam sessions, e, as interferências, resumem-se a "overdubs" (trechos de gravações incluídos após a música pronta).
A sonoridade, diz ele, tem influências dos já citados Mutantes, além do dub de Lee Perry e King Tubby, e de bandas como The Clash, The Specials, Silver Apes e Can, entre outros.
E eles voltarão a rimar? "Claro", garante MCA. "Finalmente colocamos esse álbum instrumental para fora de nossas cabeças. Voltaremos às rimas."


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