São Paulo, sexta-feira, 06 de julho de 2007

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Cinema/estréias - Crítica/"Paris, Te Amo"

Filme coletivo sobre Paris tem altos e baixos, mas agrada

Em "Paris, Te Amo", que estréia hoje, destacam-se curtas de Alfonso Cuarón, Gérard Depardieu e Wes Craven

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Ver um filme de duas horas com 18 episódios é como encarar uma sessão de curtas: saímos com a impressão de que é impossível avaliar o talento dos realizadores em tão pouco tempo e nos vemos jogados de um universo a outro inteiramente diferente, com a obrigação de compreendê-los o melhor possível.
No caso de "Paris, Te Amo", existe um tema unificador, é verdade. Mas o tema é amplo e, como os diretores vêm de várias partes do mundo, pode ser vivenciado de maneiras muito diferentes.
O resultado, de todo modo, é previsível: altos e baixos por todas as partes. Para ficar com uma escolha muito pessoal, o mais forte me pareceu "Père-Lachaise", de Wes Craven, talvez porque cemitérios me pareçam desinteressantes, mesmo os que abrigam muitos cadáveres ilustres, como o Père Lachaise. Craven desmentiu essa crença, ao dar sentido, poesia e, por assim dizer, vida a uma visita ao túmulo de Oscar Wilde.
A maior surpresa foi "Parc Monceau", de Alfonso Cuarón, onde dois personagens passeiam conversando apaixonadamente. Em poucos minutos, e com muita felicidade, Cuarón nos põe diante das complexidades da família contemporânea.
"Quartier Latin" vale sobretudo pelo encontro entre dois atores americanos fabulosos, Gena Rowlands e Ben Gazzara, coadjuvados pelo também diretor do episódio, Gérard Depardieu. O menos interessante vem do vampirismo de Vincenzo Natali em "Quartier de la Madeleine",
O episódio brasileiro, de Walter Salles e Daniela Thomas, "Loin du 16ème", narra o dia de Ana (a colombiana Catalina Sandino Moreno), que deixa seu filho onde mora, em um subúrbio distante, para cuidar do filho de uma ricaça no bairro mais chique da cidade.
A impressão deixada foi de que, se ela tivesse percorrido o caminho inverso, o episódio teria sido mais bem-sucedido. Como está, mostra uma moça preocupada em não perder a hora. Feita a inversão, o filme poderia mostrar as transformações da paisagem e, com isso, a distância (geográfica, mas não só) entre o 16º e um subúrbio.
Entre perdas e ganhos, "Paris, Te Amo" realiza a pretensão de trazer visões de uma Paris contemporânea, sem nostalgias, sem lamentos sobre o passado. Não desagradará a quem ama Paris.

PARIS, TE AMO


Produção: Alemanha, França, Liechtenstein, Suíça, 2006
Direção: vários
Com: Catalina Sandino Moreno, Maggie Gyllenhaal, Sergio Castellitto
Quando: em cartaz nos cines Bristol, Reserva Cultural e circuito
Avaliação: regular



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