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Cinema/estréias - Crítica/"Paris, Te Amo"
Filme coletivo sobre Paris tem altos e baixos, mas agrada
Em "Paris, Te Amo", que estréia hoje, destacam-se curtas de Alfonso Cuarón, Gérard Depardieu e Wes Craven
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Ver um filme de duas horas com 18 episódios é
como encarar uma sessão de curtas: saímos com a impressão de que é impossível
avaliar o talento dos realizadores em tão pouco tempo e nos
vemos jogados de um universo
a outro inteiramente diferente,
com a obrigação de compreendê-los o melhor possível.
No caso de "Paris, Te Amo",
existe um tema unificador, é
verdade. Mas o tema é amplo e,
como os diretores vêm de várias partes do mundo, pode ser
vivenciado de maneiras muito
diferentes.
O resultado, de todo modo, é
previsível: altos e baixos por todas as partes. Para ficar com
uma escolha muito pessoal, o
mais forte me pareceu "Père-Lachaise", de Wes Craven, talvez porque cemitérios me pareçam desinteressantes, mesmo
os que abrigam muitos cadáveres ilustres, como o Père Lachaise. Craven desmentiu essa
crença, ao dar sentido, poesia e,
por assim dizer, vida a uma visita ao túmulo de Oscar Wilde.
A maior surpresa foi "Parc
Monceau", de Alfonso Cuarón,
onde dois personagens passeiam conversando apaixonadamente. Em poucos minutos,
e com muita felicidade, Cuarón
nos põe diante das complexidades da família contemporânea.
"Quartier Latin" vale sobretudo pelo encontro entre dois
atores americanos fabulosos,
Gena Rowlands e Ben Gazzara,
coadjuvados pelo também diretor do episódio, Gérard Depardieu. O menos interessante
vem do vampirismo de Vincenzo Natali em "Quartier de la
Madeleine",
O episódio brasileiro, de
Walter Salles e Daniela Thomas, "Loin du 16ème", narra o
dia de Ana (a colombiana Catalina Sandino Moreno), que deixa seu filho onde mora, em um
subúrbio distante, para cuidar
do filho de uma ricaça no bairro
mais chique da cidade.
A impressão deixada foi de
que, se ela tivesse percorrido o
caminho inverso, o episódio teria sido mais bem-sucedido.
Como está, mostra uma moça
preocupada em não perder a
hora. Feita a inversão, o filme
poderia mostrar as transformações da paisagem e, com isso, a
distância (geográfica, mas não
só) entre o 16º e um subúrbio.
Entre perdas e ganhos, "Paris, Te Amo" realiza a pretensão
de trazer visões de uma Paris
contemporânea, sem nostalgias, sem lamentos sobre o passado. Não desagradará a quem
ama Paris.
PARIS, TE AMO
Produção: Alemanha, França, Liechtenstein, Suíça, 2006
Direção: vários
Com: Catalina Sandino Moreno, Maggie Gyllenhaal, Sergio Castellitto
Quando: em cartaz nos cines Bristol,
Reserva Cultural e circuito
Avaliação: regular
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