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5ª Flip
"Booker Prize é uma loteria", ironiza Kiran Desai em retorno a Paraty
MARCOS STRECKER
ENVIADO ESPECIAL A PARATY
Não é a primeira vez da indiana Kiran Desai em Paraty.
Quando passou alguns meses
no Rio escrevendo "O Legado
da Perda", entre 2001 e 2002, a
escritora já tinha conhecido a
cidade. A viagem deu sorte. O livro que trata de personagens
indianos herdeiros de um mundo pós-colonial em crise, que
vivem entre Nova York e a região indiana próxima ao Nepal
e ao Himalaia, fez dela mais jovem escritora a ganhar o Booker Prize, um dos mais importantes prêmios literários.
"O Brasil foi fundamental para o meu livro, a vida tem aqui
um ritmo próprio que é parecido com a Índia", disse. Nem toda a história foi escrita no Rio.
Seu "retiro criativo" para escrever o segundo livro envolveu
vários países, incluindo os EUA
-o Brooklyn, onde mora, virou
refúgio "in" de escritores de
Nova York, como Paul Auster.
Ela cita diversas vezes a influência que recebeu do Prêmio
Nobel V.S. Naipaul, que é de
Trinidad e Tobago, por levar ao
limite a experiência solitária de
escrever, mimetizando na produção literária identidades em
crise, mundos em desaparição
e culturas forçadas a encontrar
novas expressões.
O Brasil foi uma conseqüência lógica, portanto, ao optar
pela experiência solitária de viver em uma cultura que não conhecia, confrontada com uma
língua que não dominava.
Seu livro, lançado pela Objetiva/Alfaguara, tem como personagens um juiz aposentado e
desiludido, sua neta órfã, um
cozinheiro que acompanha ansiosamente seu filho emigrado
em Nova York e um jovem professor de matemática, seduzido
por movimentos separatistas.
"Apadrinhada" por Salman
Rushdie ("quando era criança
ele freqüentava a casa da minha
mãe"), ela diz que a "moda" de
escritores de seu país, solicitados em feiras literárias e disputados por editoras européias e
americanas, acabou criando
uma pressão para que recorressem sempre aos mesmos temas. "Eu não conseguiria escrever sobre casamentos arranjados", citou como exemplo.
Ela também foge da pressão pela produção, que "exige um novo livro a cada dois anos".
Essa forma "zen" de encarar
o ofício também faz Kiran Desai ter uma visão crítica e irônica sobre o Booker Prize. "É uma
loteria, posso dizer agora com
toda a certeza;" Depois de ganhar a distinção, ela não dá
conta de atender as solicitações
de entrevistas e compromissos
de divulgação. Mas a vinda à
Flip foi um convite recebido
com prazer: "Meus amigos estão morrendo de inveja por eu
estar aqui, assim como eu já tinha sentido antes". Entre os
"invejosos", segundo ela, está o
Prêmio Nobel Orhan Pamuk,
autor de "Neve" e "Istambul",
que já esteve na Flip em 2005.
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