São Paulo, sexta-feira, 06 de julho de 2007

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5ª Flip

"Booker Prize é uma loteria", ironiza Kiran Desai em retorno a Paraty

MARCOS STRECKER
ENVIADO ESPECIAL A PARATY

Não é a primeira vez da indiana Kiran Desai em Paraty. Quando passou alguns meses no Rio escrevendo "O Legado da Perda", entre 2001 e 2002, a escritora já tinha conhecido a cidade. A viagem deu sorte. O livro que trata de personagens indianos herdeiros de um mundo pós-colonial em crise, que vivem entre Nova York e a região indiana próxima ao Nepal e ao Himalaia, fez dela mais jovem escritora a ganhar o Booker Prize, um dos mais importantes prêmios literários.
"O Brasil foi fundamental para o meu livro, a vida tem aqui um ritmo próprio que é parecido com a Índia", disse. Nem toda a história foi escrita no Rio. Seu "retiro criativo" para escrever o segundo livro envolveu vários países, incluindo os EUA -o Brooklyn, onde mora, virou refúgio "in" de escritores de Nova York, como Paul Auster.
Ela cita diversas vezes a influência que recebeu do Prêmio Nobel V.S. Naipaul, que é de Trinidad e Tobago, por levar ao limite a experiência solitária de escrever, mimetizando na produção literária identidades em crise, mundos em desaparição e culturas forçadas a encontrar novas expressões.
O Brasil foi uma conseqüência lógica, portanto, ao optar pela experiência solitária de viver em uma cultura que não conhecia, confrontada com uma língua que não dominava.
Seu livro, lançado pela Objetiva/Alfaguara, tem como personagens um juiz aposentado e desiludido, sua neta órfã, um cozinheiro que acompanha ansiosamente seu filho emigrado em Nova York e um jovem professor de matemática, seduzido por movimentos separatistas.
"Apadrinhada" por Salman Rushdie ("quando era criança ele freqüentava a casa da minha mãe"), ela diz que a "moda" de escritores de seu país, solicitados em feiras literárias e disputados por editoras européias e americanas, acabou criando uma pressão para que recorressem sempre aos mesmos temas. "Eu não conseguiria escrever sobre casamentos arranjados", citou como exemplo. Ela também foge da pressão pela produção, que "exige um novo livro a cada dois anos".
Essa forma "zen" de encarar o ofício também faz Kiran Desai ter uma visão crítica e irônica sobre o Booker Prize. "É uma loteria, posso dizer agora com toda a certeza;" Depois de ganhar a distinção, ela não dá conta de atender as solicitações de entrevistas e compromissos de divulgação. Mas a vinda à Flip foi um convite recebido com prazer: "Meus amigos estão morrendo de inveja por eu estar aqui, assim como eu já tinha sentido antes". Entre os "invejosos", segundo ela, está o Prêmio Nobel Orhan Pamuk, autor de "Neve" e "Istambul", que já esteve na Flip em 2005.


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