São Paulo, domingo, 06 de julho de 2008

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Mônica Bergamo

@ - bergamo@folhasp.com.br

Alex Almeida/Folha Imagem
Luana Piovani vestida de Jennifer


Luana, costela de Adão

A atriz, que fará papel de submissa e traída no cinema, diz que "jamais conseguiria viver à sombra", mas respeita "mulher de malandro" que "gosta de apanhar"

"Se Deeeeus quiser! Se Deus quiser! Eu sempre tive vontade de ir para lá." Luana Piovani, 32, acha que, desta vez, vai dar para ir ao Festival de Cinema de Cannes. São 7h30 de quarta-feira e ela sonha -estimulada, é bem verdade, pelo diretor Alain Fresnot - com uma trajetória internacional para o filme "Família Vende Tudo", dirigido por ele e com estréia prevista para 2009. "Mas comédia é difícil, viu?", pondera Fresnot. Luana faz biquinho: "É, né? Tem que ser [filme] "cabeça", né? Ai, que chatice!".

 

Luana faz o papel de Jennifer, mulher submissa do ator Caco Ciocler -os dois são cantores bregas. "Ela é completamente o oposto de mim", diz a atriz, franja enrolada com bobe, Rolex falsificado no pulso e um roupão cor-de-rosa por cima do figurino. Ela topou falar com a coluna, "sem problemas", no intervalo das filmagens. Mas fez exigências, repassadas pela assessoria:

"A entrevista dura dez minutos e só fala sobre o filme";
"Ela quer ver as respostas que você copiar e tirar uma xerox das suas anotações. Luana argumenta que pode sair algo que ela não falou, essa é uma segurança que ela tem."

 

A atriz acabou falando por 40 minutos, sobre filhos, casamento, plástica -e até sobre o filme. A reportagem não concordou em mostrar as anotações a ela. A conversa foi gravada e a atriz ficou com uma fita.  

FOLHA - Bom, vou colocar um gravador para você. Você pediu para gravar, né?
LUANA PIOVANI
- Iiiiisso... [fazendo lento sinal de afirmação com a cabeça]

FOLHA - Como é interpretar uma mulher submissa?
LUANA
- É algo que nunca pensei em ser convidada para fazer no cinema. Porque uma mulher submissa, vivendo à sombra e traída não é o que normalmente as pessoas me chamam para fazer. É pitoresco e saboroso.

FOLHA - É seu oposto?
LUANA
- Completamente o oposto! Não sou nada submissa. Jamais conseguiria viver à sombra, jamais conseguiria viver cuidando de dois filhos e de uma casa. E jamais conseguiria tomar porrada. Eu não vou dizer que eu jamais conseguiria perdoar uma traição. Eu acho que eu não conseguiria sobreviver a uma vida de traições.

FOLHA - O quanto você se considera mulherzinha?
LUANA
- Depende. Nos momentos em que não preciso ser mulherzona, até me permito. Acho que minha coisa mais mulherzinha, por exemplo, é que eu não dirijo. Não tenho habilitação, nunca tive a curiosidade de fazer 18 anos e querer tirar carta. Então passou, por falta de interesse, vontade, um pouco de insegurança. Tenho motorista. Acho que não precisa ser mulherzinha para ser carinhosa e dedicada.

FOLHA - Gosta de cozinhar?
LUANA
- Tsc, tsc, tsc. Não cozinho nada.

FOLHA - E a casa?
LUANA
- Eu tenho uma vaidade que vai além da minha pessoa. Eu gosto de flores em casa, tenho um aquário, gosto de dar comida pros peixes, de escolher a roupa de cama. Mas, assim, eu tenho que ter um staff. Se depender de mim arrumar uma cozinha, a pessoa tá na merda. Eu não lavo mesmo.

FOLHA - Você se vê como esposa?
LUANA
- Cara, me vejo mais como mãe. Não sei... o futuro é que vai me mostrar. Mas eu sempre gostei de criança.

FOLHA - Já fez plástica?
LUANA
- Nunca, mas farei no dia em que eu sentir que preciso. Quando meu peito cair, vou querer dar uma ajeitada, sim. Só que mais pra frente, depois que tiver uns dois filhos.

FOLHA - Como é, aos 32, aprender a cantar e a dançar balé [para o musical "O Soldado e a Bailarina"]?
LUANA
- Fiz jazz por dez anos. Sou muito alongada, tenho uma inteligência corporal muito boa e copio os movimentos direitinho. Na classe onde estudo, digo que são 11 bailarinas e uma recruta zero. O bom é ficar no quentinho, né? Mas, como gosto de desafio, para mim já estava sem graça.

FOLHA - Não tem medo do risco?
LUANA
- Morar no Brasil é um risco. É bala perdida, é gente que rouba o tempo todo e não é punido. Você pode votar numa pessoa e correr o risco de descobrir amanhã que ela é outra...

 

No set, Luana vai ouvir pela primeira vez a gravação da música brega de sua personagem. "Ai, gente, tô até com cólica de curiosidade!" Som no laptop. "Aaaaau... Você não me conhece por dentro/Eu sou mais que um rostinho bonito/ Minha vida é bem mais que uma cama". Luana reage: "Geeeente, o que é esse "Aaaau'?". O diretor Alain Fresnot aprova: "Está deliciosamente brega".  

FOLHA - Qual seu estilo musical?
LUANA
- Vou de A a Z. Só não curto punk rock e música sertaneja, nem axé "tira-o-pé-do-chão". Já gostei muito de micareta. É uma loucura aquilo ali. O Carnaval de Salvador tem toda a sua graça, agora uma micareta você tem que estar muito a fim de tumulto. E tem uma idade, né? Eu acho que já passei.

FOLHA - Te perguntaram se você preferia Chico ou Caetano e você disse Caetano...quer dizer, Chico.
LUANA
- Disse Chico. É impossíííível eu falar Caetano! É impossííível eu falar Caetano.

FOLHA - Quem é a inspiração para compor Jennifer?
LUANA
- É difícil. Como eu vou dizer em quem eu me inspirei para fazer uma corna submissa? É complicado dar nome aos bois. Mas, amor, não posso dizer! Imagine a pobre da pessoa abrindo a Folha de S.Paulo e eu chamando a mulher de corna? Já não basta ela ser? Mas assisti a "O Bom Pastor", com a Angelina Jolie fazendo uma corna submissa que é sensacional. Eu queria descobrir como é o olhar, como se abaixa a cabeça. Ficava muito em dúvida se ela era amarga, se ela gosta dele e tem ciúme, se é por causa dos filhos, ou se ela é mulher de malandro mesmo e gosta de apanhar. Porque tem gente que gosta de apanhar mesmo e a gente tem que respeitar.

 

Caco Ciocler negocia o cardápio com a produção. "Não tem barrinha de cereal hoje?" Luana reclama da comida de dieta, que ela mesma pediu: "Ai, não agüento mais eternos sanduíches de queijo branco com peito de peru! Queria poder pedir dois Big Macs e Habib's!".
 

Enquanto Luana se esparrama no sofá e brinca com um celular, Caco fala sobre a experiência de ser um cantor brega. "Eu sempre tive esse desejo de ser astronauta, bombeiro e de fazer um show no Maracanã. Agora eu tô em pânico com o show do filme. Vai ter público, vou ter que rebolar." Às 11 horas, os atores filmam dentro de um carro em movimento com atores mirins. Luana dá bronca. "Ai, ai, sem tapa na cabeça! Senão vai levar tapa no bumbum."

reportagem DÉBORA BERGAMASCO

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