São Paulo, segunda-feira, 06 de agosto de 2001

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ARTES PLÁSTICAS

Coleção particular exposta no Centro Cultural Light, no Rio, reúne 300 peças de arte popular brasileira

Exposição retrata o "fim de um ciclo"

RODRIGO MOURA
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Enquanto ainda se discute o que é arte popular e o que é arte erudita, o primeiro campo vem ganhando, pelo menos, novos esforços de sistematização.
Depois do módulo na Mostra do Redescobrimento e de uma exposição atualmente em cartaz na Fundação Cartier, em Paris, é a vez de uma coleção particular vir à tona. "Expressão Popular" reúne 300 peças de um total de mil do acervo do carioca Cesar Aché, 48, constituído nos anos 70 e mostrado pela primeira vez agora, no Centro Cultural Light, no Rio.
A exposição traz a reboque uma hipótese a respeito do assunto: a arte popular acabou no Brasil.
"O ciclo histórico que permitiu o surgimento dos artistas que nós consagramos acabou. Hoje não existe renovação", diz Aché, que emprestou 130 peças ao módulo de arte popular da Mostra do Redescobrimento, ano passado.
Segundo o colecionador, a indústria cultural tem sua parcela de responsabilidade no processo de extinção. "As feiras onde antes havia brinquedos artesanais só têm, hoje, bonequinho japonês."
São sobretudo os artistas do apogeu da arte popular, nos anos 70, que constituem a exposição. Em torno de três pólos -Vale do Jequitinhonha (MG), Caruaru (PE) e Juazeiro do Norte (CE)-, desfilam nomes como Ulisses Chaves, Zé Caboclo e Nino. Ou artistas isolados, caso do escultor de madeira Artur Pereira, 82, de Cachoeira do Brumado (MG).
"Esse ciclo começa com Vitalino e seu grupo", conta Aché, que excluiu as peças do pernambucano por considerar seu trabalho bem representado em museus cariocas. "Depois essas obras conquistam alguns setores artísticos eruditos e representam o Brasil em embaixadas pelo mundo."
Madalena Reinbolt é uma feliz exceção entre o conjunto por não pertencer a nenhum grupo regional. Cozinheira da paisagista Lota Macedo de Soares e da poeta Elizabeth Bishop em sua casa de Petrópolis, começou a fazer tapeçarias inteiramente por acaso.
De tanto pintar as pedras do jardim, ganhou de Lota agulhas e linhas de lã. O resultado do que fez -obras de grande liberdade cromática- pode ser visto na exposição em quatro tapeçarias, adquiridas nos anos 70 da amiga de Lota Mary Morse.
Na galeria menor, será mostrada uma série de 152 brinquedos de barro, colhidos em feiras do Nordeste. Guardado desde 1977, o mais interessante nesse conjunto é que as peças foram feitas na hora para consumo local das crianças das comunidades.
Entre aquisições recentes, há a escultura de acento fantástico de Lafaete Rocha (PR) e os bordados da Vila Mariquinhas (MG), uma das raras novidades no assunto.
Na outra ponta dessa balança, "Art Populaire", a exposição inaugurada dia 22 de junho na Fundação Cartier, de Paris, quer mostrar como a arte de extração popular vem dialogando com a produção contemporânea -tirando sua pecha de "menor".
Com 13 artistas brasileiros (entre 37), ela coloca nomes como Vitalino e Arthur Bispo do Rosário ao lado dos artistas badalados no circuito internacional Chris Burden e Mike Kelley, entre outros.


EXPRESSÃO POPULAR - COLEÇÃO CESAR ACHÉ - Exposição com 300 peças de arte popular. Onde: Centro Cultural Light (av. Marechal Floriano, 168, Rio, 0/ xx/21/2211-2921). Quando: de hoje a 30 de setembro; de seg. a sex., das 10h às 19h; sáb. e dom., das 14h às 18h. Quanto: entrada franca.


O jornalista Rodrigo Moura viajou a convite do Centro Cultural Light



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