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ARTES PLÁSTICAS
Coleção particular exposta no Centro Cultural Light, no Rio, reúne 300 peças de arte popular brasileira
Exposição retrata o "fim de um ciclo"
RODRIGO MOURA
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Enquanto ainda se discute o que
é arte popular e o que é arte erudita, o primeiro campo vem ganhando, pelo menos, novos esforços de sistematização.
Depois do módulo na Mostra
do Redescobrimento e de uma exposição atualmente em cartaz na
Fundação Cartier, em Paris, é a
vez de uma coleção particular vir
à tona. "Expressão Popular" reúne 300 peças de um total de mil do
acervo do carioca Cesar Aché, 48,
constituído nos anos 70 e mostrado pela primeira vez agora, no
Centro Cultural Light, no Rio.
A exposição traz a reboque uma
hipótese a respeito do assunto: a
arte popular acabou no Brasil.
"O ciclo histórico que permitiu
o surgimento dos artistas que nós
consagramos acabou. Hoje não
existe renovação", diz Aché, que
emprestou 130 peças ao módulo
de arte popular da Mostra do Redescobrimento, ano passado.
Segundo o colecionador, a indústria cultural tem sua parcela
de responsabilidade no processo
de extinção. "As feiras onde antes
havia brinquedos artesanais só
têm, hoje, bonequinho japonês."
São sobretudo os artistas do
apogeu da arte popular, nos anos
70, que constituem a exposição.
Em torno de três pólos -Vale do
Jequitinhonha (MG), Caruaru
(PE) e Juazeiro do Norte (CE)-,
desfilam nomes como Ulisses
Chaves, Zé Caboclo e Nino. Ou artistas isolados, caso do escultor de
madeira Artur Pereira, 82, de Cachoeira do Brumado (MG).
"Esse ciclo começa com Vitalino e seu grupo", conta Aché, que
excluiu as peças do pernambucano por considerar seu trabalho
bem representado em museus cariocas. "Depois essas obras conquistam alguns setores artísticos
eruditos e representam o Brasil
em embaixadas pelo mundo."
Madalena Reinbolt é uma feliz
exceção entre o conjunto por não
pertencer a nenhum grupo regional. Cozinheira da paisagista Lota
Macedo de Soares e da poeta Elizabeth Bishop em sua casa de Petrópolis, começou a fazer tapeçarias inteiramente por acaso.
De tanto pintar as pedras do jardim, ganhou de Lota agulhas e linhas de lã. O resultado do que fez
-obras de grande liberdade cromática- pode ser visto na exposição em quatro tapeçarias, adquiridas nos anos 70 da amiga de
Lota Mary Morse.
Na galeria menor, será mostrada uma série de 152 brinquedos
de barro, colhidos em feiras do
Nordeste. Guardado desde 1977, o
mais interessante nesse conjunto
é que as peças foram feitas na hora para consumo local das crianças das comunidades.
Entre aquisições recentes, há a
escultura de acento fantástico de
Lafaete Rocha (PR) e os bordados
da Vila Mariquinhas (MG), uma
das raras novidades no assunto.
Na outra ponta dessa balança,
"Art Populaire", a exposição
inaugurada dia 22 de junho na
Fundação Cartier, de Paris, quer
mostrar como a arte de extração
popular vem dialogando com a
produção contemporânea -tirando sua pecha de "menor".
Com 13 artistas brasileiros (entre 37), ela coloca nomes como
Vitalino e Arthur Bispo do Rosário ao lado dos artistas badalados
no circuito internacional Chris
Burden e Mike Kelley, entre outros.
EXPRESSÃO POPULAR - COLEÇÃO
CESAR ACHÉ - Exposição com 300 peças
de arte popular. Onde: Centro Cultural
Light (av. Marechal Floriano, 168, Rio, 0/
xx/21/2211-2921). Quando: de hoje a 30
de setembro; de seg. a sex., das 10h às
19h; sáb. e dom., das 14h às 18h. Quanto:
entrada franca.
O jornalista Rodrigo Moura viajou a
convite do Centro Cultural Light
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