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CRÍTICA
Faltam pequenas ousadias
DA REPORTAGEM LOCAL
Não há nada de novo na horta de Nana Caymmi, para
início de conversa. Nana é cantora
muito ciente e orgulhosa de suas
próprias e cristalizadas características. Isso é vantagem e desvantagem, porque tanto demonstra
uma artista de convicções firmes
quanto a coloca constantemente à
beira da redundância.
"Desejo" é um disco firme que
não tira nada do lugar na mobília
desse impasse. A anedota da
aproximação com o pop gracejada por Nana é bem das tênues,
ainda que se possa perceber lá no
fundinho os tons "black pop" de
Lincoln Olivetti em "Lero do Bolero" e "Frases do Silêncio".
Essa última, inesperada parceria entre Marcos Valle e Erasmo
Carlos, é um dos destaques do
CD, até pelo canto irônico delatado pela tensão que Nana sempre
imprime às frases que canta -é,
talvez, o mais saboroso de seus
atributos artísticos.
A condução meio careta das
canções permanece, ainda que a
volta de Dori Caymmi em alguns
arranjos aproxime Nana do que
de melhor ela tem produzido.
Ajuda, também, a beleza jovem
da composição da sobrinha Juliana Caymmi ("Seus Olhos") e a
tristeza chorada ao violino de
"Marca da Paixão" (Márcio
Proença-Marco Aurélio).
Mas a pequena ousadia vem de
dentro de casa mesmo. Cantando
"Juliana", do pai Dorival, Nana
traz Zeca Pagodinho para um
dueto e reveste de sabedoria matreira o deslocamento musical.
"Juliana" é um pequeno e discreto
acontecimento. Falta Nana cometer essas pequenas ousadias e deslocamentos consigo própria.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Desejo
Artista: Nana Caymmi
Lançamento: Universal
Quanto: R$ 25, em média
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