São Paulo, sábado, 06 de agosto de 2005

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Walter Salles é escolhido para dirigir versão no cinema do marco "On the Road", de Kerouac

Pé brasileiro na estrada

Allen Ginsberg/Corbis
Jack Kerouac passeia pela Tompkins Square, em Nova York, em setembro de 1953; seu "On the Road" ganha versão para o cinema


SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL

Tem pé brasileiro na estrada. Desta vez, sai a versão para o cinema do marco da literatura beatnik "On the Road", de Jack Kerouac, que no Brasil ganhou o nome de "Pé na Estrada". É o que diz à Folha o diretor Walter Salles. Os direitos para cinema estão nas mãos de Francis Ford Coppola desde 1979, quando o diretor já tinha fama, Oscar e fortuna trazidos pelos dois primeiros "O Poderoso Chefão" e se preparava para queimar tudo isso com "Apocalipse Now".
A princípio, o roliço americano de origem italiana planejava levar ele mesmo a versão às telas. Com o tempo, desistiu -ele não dirige desde 97 e hoje é mais conhecido das novas gerações como o "pai de Sofia", de "Encontros e Desencontros"-, e uma fila de cineastas, atores e roteiristas bateu em sua porta nas últimas décadas.
Foram nomes como o diretor Joel Schumacher ("O Fantasma da Ópera"), os atores Brad Pitt e Billy Cudrup ("Quase Famosos") e o roteirista Russell Banks ("O Doce Amanhã"), entre outros. (Antes que alguém faça a ilação, não, Guilherme Fontes, de "Chatô", que chegou a trazer um desavisado Coppola ao Brasil para uma temporada de legitimação de seu filme inacabado que terminou em samba e caipirinha, nunca foi cogitado para a tarefa.)
Até que Coppola, 66, assistiu a "Diários de Motocicleta" (2004), a leitura do brasileiro Salles com roteiro do porto-riquenho Jose Rivera para o rito de passagem de Ernesto "Che" Guevara (1928-1967) de jovem médico a aspirante a revolucionário em viagem pela América Latina. Foi então marcado um encontro do trio.
A esse encontro seguiram-se outros, alguns no vinhedo Niebaum-Coppola, no Vale do Napa, no norte da Califórnia, onde o cineasta norte-americano passa a maior parte do tempo hoje em dia e de cujo solo sai um zinfandel bastante decente. Selou-se no ano passado o acordo, que vinha sendo mantido em sigilo até agora.
Antes, porém, Salles, 49, terá de acabar o lançamento de "Água Negra", terror psicológico com Jennifer Connelly, que chega ao Brasil na próxima sexta; filmar o episódio do coletivo "Paris, Je t'Aime" e dirigir a quatro mãos "Linha de Passe", com Daniela Thomas, a mesma parceira de "Terra Estrangeira" (1996).
Só então coloca literalmente o pé na estrada. Primeiro, encontrando sobreviventes do movimento beatnik, contemporâneos de Kerouac (1922-1969) e pessoas que conviveram com o autor quando este escrevia sua autobiografia ficcional, lançada em 1957. Depois, talvez fazendo um documentário a respeito. Por fim, o filme propriamente dito. Ou seja, algo para entre 2007 e 2008.
Sobre a escolha de Salles e Rivera, Coppola disse ao periódico "Hollywood Reporter": "O livro é intrinsecamente difícil de adaptar para a tela e nunca encontramos de verdade a combinação certa entre diretor e roteirista que o fizessem justiça. Até hoje".


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