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POESIA/"ESSA LOUCURA ROUBADA"
Antologia compila lirismo boêmio de Charles Bukowski
JOCA REINERS TERRON
ESPECIAL PARA A FOLHA
Os romances e contos de Charles Bukowski obtiveram repercussão no Brasil à revelia do veio
central de sua produção, a poesia,
que somente há pouco começou a
ser descoberta por aqui.
Autor de mais de 40 títulos do
gênero, o escritor nascido na Alemanha e morto em 1994 foi descoberto pelo editor John Martin
em 1965. Em pouco tempo, as
vendas permitiram a Martin pagar uma mesada a Bukowski, que
pôde deixar seu emprego e se dedicar de fígado e alma à literatura
e à boemia.
Desde o início conhecido por
sua poética, apenas tardiamente
Bukowski experimentou os rigores da prosa. Autor de seis novelas
superestimadas por seu público
fiel, o legendário bêbado de Los
Angeles sempre se saiu melhor
nos textos de menor fôlego. Pudera: fôlego não é lá coisa que se exija de um notório pau d"água.
E em uma análise justa, boa parte de seus "poemas" não deixa de
ser anotações em diários com as
linhas quebradas. Porém, quando
o velho bardo supera a ressaca e
com mão firme acerta o alvo, ah,
aí então se tem a mais pura e destilada poesia, envelhecida no coração e na mente. Destoando do
niilismo de seus romances, que
exploram à exaustão o submundo
de prostitutas e bêbados, a melhor
poesia de Bukowski é lírica e trata
de temas caros ao gênero, como
solidão, morte, amor e sexo. Sua
maior qualidade, no entanto, reside numa característica rara na
poesia contemporânea: pode ser
lida e -o principal- ser compreendida, sem que o leitor tenha
uma vasta bagagem de leituras.
Devido à sua enorme produção,
o trabalho mais complicado para
o leitor de Bukowski sempre foi
separar o joio do trigo, uma preocupação presente nesta antologia.
Centrada na produção inicial do
escritor, a seleção é um dos pontos fortes do livro, além da tradução de Fernando Koproski, que se
esforça por manter o coloquialismo tão fundamental para a beleza
dos originais. Poderia ser difícil
identificar a beleza na literatura
desse repórter do mundo cão, não
fossem versos como "Não se esqueça:/ o tempo existe é para ser
desperdiçado,/ o amor fracassa/ e
a morte é inútil". Afinal a poesia
de Bukowski obtém a atenção
merecida num livro que é, desde
já, referencial.
Joca Reiners Terron é escritor, autor de
"Hotel Hell" (Livros do Mal), entre outros
Essa Loucura Roubada Que Não Desejo a Ninguém a Não Ser a
Mim Mesmo
Autor: Charles Bukowski
Editora: 7 Letras
Quanto: R$ 39 (256 págs.)
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