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FILOSOFIA
Com nomes ligados ao PT, como Fernando Haddad, "O Silêncio dos Intelectuais" acontece em meio à turbulência política
Seminário discute a crise do pensamento
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
O filósofo Adauto Novaes atirou
no que pensou e acertou no que
não imaginava. Ao conceber, há
quase dois anos, o seminário "O
Silêncio dos Intelectuais", ele não
podia prever que as conferências
fossem acontecer no auge da crise
do governo Lula. A série começa
no dia 22, e as inscrições estão
abertas a partir desta segunda-feira, em São Paulo, Rio, Belo Horizonte e Salvador.
Tão involuntária quanto a data
do seminário foi a cronologia das
palestras. Mas o acaso fez com
que, entre os primeiros conferencistas, estivessem a filósofa Marilena Chauí (intelectual de proa do
PT), o sociólogo Francisco de Oliveira (um dos primeiros intelectuais a romper com o PT no governo Lula) e o economista Fernando Haddad (atual ministro da
Educação).
"Foi pura coincidência. Haddad
nem ministro era. Acho que eles
vão falar de algo mais geral, mas,
nas perguntas da platéia, certamente surgirão temas atuais. E isso é bom, para que eles elaborem
alguns pensamentos [sobre a crise]", afirma Novaes.
Chauí, Oliveira e Haddad estão
no primeiro bloco imaginado por
Novaes, em que se pretende refletir sobre "o papel e a função do intelectual hoje em contraponto ao
intelectual clássico".
"Depois de Sartre, não houve
mais uma figura que galvanizasse
a idéia do intelectual clássico,
aquele que luta pelos ideais universais, que não defende interesses específicos. Vamos discutir as
razões pelas quais o intelectual
saiu de cena", diz o organizador.
O segundo bloco, que começará
com Sérgio Paulo Rouanet, pretende enfocar a crise do papel dos
intelectuais a partir da "crise dos
universais", expressão que dá título à palestra do filósofo.
"Universais são idéias como razão, justiça e liberdade. Hoje há o
predomínio do relativismo na
cultura, no pensamento e na política", explica Novaes.
O eixo final trata de outra crise,
a da palavra. Participam dele, entre outros, os compositores Antonio Cícero e José Miguel Wisnik.
Em um época em que o presidente dos Estados Unidos utiliza um
argumento sem comprovação para desencadear uma invasão ao
Iraque, fica nítido que as palavras,
arma principal dos intelectuais,
estão desvalorizadas.
"Hoje, as palavras perdem o
sentido e passam a ser tratadas
como um valor como outro qualquer. Quase se reduzem a um valor mercadológico", diz Novaes.
Para ele, essa crise da palavra
ajuda a explicar por que os intelectuais se sentem impotentes
diante da crise nacional, ainda
não assumindo posições públicas
mais firmes. "Defender que se punam os responsáveis é pouco, é
lugar-comum. O intelectual tem
que buscar o futuro, apontar caminhos. Mas, como a palavra está
sem valor, qualquer coisa que se
diz pode ser interpretada de maneira conveniente", afirma.
O problema se une a outro: será
que é possível a existência de um
"intelectual midiático", que consiga refletir dentro dos meios de
comunicação de massa?
"Nas mídias, especialmente a
eletrônica, a tendência é substituir
o pensamento pela opinião. Mas
uma opinião é expressão de interesse, paixão ou capricho. E, em
um círculo vicioso, uma opinião
se contrapõe a outra, fica algo vazio. O tempo do intelectual não é
o da mídia", diz Novaes.
Ainda segundo ele, não faz sentido dizer que nos últimos anos
houve intelectuais no poder no
Brasil. Fernando Henrique Cardoso, ao ser presidente não atuava como intelectual, "porque as
coisas não se misturam"; e Lula,
apesar da história do PT, não está
cercado de pensadores.
"Pessoas, por exemplo, como
Antonio Candido e Marilena
Chauí não estão lá [no poder].
Não sei se seria melhor, mas algumas coisas não teriam acontecido", afirma o filósofo.
Viabilizado pela Petrobras e pelo Fundo Nacional de Cultura, "O
Silêncio dos Intelectuais" abre
uma trilogia de seminários, que
será completada em 2006 por "O
Esquecimento da Política" e "A
Política do Espírito". Durante a
série deste ano, serão lançados livros que resultaram de duas séries anteriores: "Poetas que Pensaram o Mundo" (Companhia
das Letras) e "Muito Além do Espetáculo" (Senac).
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