São Paulo, domingo, 06 de agosto de 2006

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Série investe na experiência das mães

Espécie de "Sex and the City" maternal, "Mothern" traz mulheres que tentam conciliar a vida descolada com choro, fraldas e vovós

Para criadoras do projeto, há excesso de "especialistas" palpitando a respeito da maternidade e quem tem filho é visto como incapaz

Bruno Magalhães/Folha Imagem
Laura Magalhães e Juliana Sampaio, do blog Mothern


LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Na vida real, partos não são cor-de-rosa, mas cheios de gosmas nojentas e malcheirosas, dignos dos mais assustadores episódios do "Plantão Médico". E aquelas regras "infalíveis" da babá da série "Supernanny" nem sempre funcionam.
Na contramão do "boom" de programas de nascimentos emocionantes, bebês fofos ou de "auto-ajuda" para pais desesperados, o GNT lança no próximo dia 19 "Mothern", seu primeiro seriado brasileiro.
Espécie de "Sex and the City" com mães, conta a história de quatro mulheres modernas e bem-sucedidas na profissão que têm de conciliar a vida descolada com fraldas, choradeira e vovós palpiteiras. Em diálogos sem rodeios, as amigas falam da barriga que não vai embora logo que o bebê nasce, gases, seios que diminuem e celulite que aumenta...
Mesmo antes da estréia, "Mothern" já é um fenômeno. Começou em 2002 como um despretensioso blog (http://mothern.blogspot.com) de duas publicitárias mineiras que tinham filhos pequenos. "Bombou" na internet com o boca-a-boca e em poucos meses se transformou em coluna na revista "TPM". Em 2005, foi lançado o livro "Mothern - Manual da Mãe Moderna", que ganha sua terceira edição.
Diretor da série do GNT, Luca Paiva Mello -pai de um menino de três anos e gêmeos de três meses- conheceu o blog e resolveu levá-lo à TV. "A idéia é fazer uma contraposição a esses programas que valorizam o agente externo à maternidade. É dizer à telespectadora: "Você é mãe, confie no seu taco"."
As criadoras do blog venderam os direitos de "Mothern" e se tornaram consultoras da série, que traz em seus diálogos grande parte do criativo texto da dupla (veja trechos acima).
Laura Guimarães e Juliana Sampaio defendem que a protagonista de programas de maternidade deve ser a mãe, e não um especialista, como é o caso do "Supernanny". "É muito fácil falar: "Deixe o bebê chorar por cinco minutos". O quê?! Você tem noção do que é uma criança chorando no seu ouvido por cinco minutos?! A diferença do "Mothern" é que a mãe não fica apenas absorvendo conselhos que vêm de fora", diz Juliana, 35, redatora de uma agência de publicidade de Belo Horizonte e mãe de Alice, 6.
"Para falar sobre maternidade, a TV costuma colocar nutricionista, pediatra, psicólogo, pedagogo. Pode ser homem e não precisa nem ter filho. A palavra quase nunca é da mãe."
Laura dá um exemplo do "saber de mãe" x "ciência": "Um nutricionista nunca vai falar da Festa da Barriga, por exemplo".
Festa do quê? "É um método que criei para fazer as crianças comerem legumes. Na barriga há uma festa, e todos precisam ser engolidos para entrar. A mãe diz a cada garfada: "Brócolis, que bom que veio'! [risos]", explica Laura, 35, mãe de Gabriela, 7, e Nina, 10, e professora de comunicação da UFMG.
Será que a Supernanny aprovaria ou iria preferir pôr o pequeno no "banco do castigo"?

Baladas
Além de contar "toda a verdade" sobre a maternidade e compartilhar esse tipo de dica, elas pretendiam mostrar que mães têm interesses além de seus rebentos. "Na mídia, a mulher que teve filho costuma ser tratada como doninha, como se só esse assunto fosse do interesse dela. Nós falamos da mãe que quer ir ao show bacana, mas tem de voltar cedo para amamentar", conta Juliana.
"Sabe a mãe com batinha xadrez amarela? Queríamos quebrar o mito da mãe perfeita, de que só o fato de ter filho já a faz realizada. Mas, é claro, também falamos do lado ternurinha da maternidade", diz Laura.
Afinal, como diz o blog, "o paraíso onde a mãe padece não é um lugar muito limpinho", mas não deixa de ser o paraíso.

NA INTERNET - Responda a teste e veja se você é uma mãe moderna
www.folha.com.br/062151


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