São Paulo, domingo, 06 de agosto de 2006

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Mônica Bergamo

@ - bergamo@folhasp.com.br

João Sal/Folha Imagem
Bia e Pilico, que atendem dentro de casa


Baladas, bares e restaurantes "escondidos" na noite de São Paulo

Do lado de fora, portões discretos e fachadas neutras. Atrás dos muros, festas que avançam pela madrugada, com bebida, DJs ou forró, e que se proliferaram nos últimos anos. Há aqueles em que não basta descobrir o endereço: é preciso ser indicado por um freqüentador, como no Orkut. Alguns já atraíram descolados como Fernanda Lima e Ana Paula Arósio.

CASA DA BÁ
Acarajé no porão
Quem chega à Casa da Bá atraído pelo cheiro dos vatapás e moquecas, na Bela Vista, dá com a cara na porta: é preciso telefonar antes para reservar mesa. E citar qual freqüentador indicou o local. "Aqui não é bar. Nem restaurante. É o meu patuá", diz a dona, Hélia Bispo, a Bá. Pela fachada, o local parece uma casa comum. E é: Bá mora lá com a sobrinha. Paulo Vilhena e Luiza Possi já provaram os quitutes dela. "Fui levada por amigos. É ótimo, bem reservado", diz a cantora. Depois de passar pela sala e pela cozinha, chega-se ao porão, onde ficam as mesas, 25 cadeiras -e nem um banquinho a mais. "Não pode haver barulho. Afinal, estamos dentro da minha casa", diz Bá, que sonha em ter, um dia, um grande restaurante.

LAPEJU
Sem perder a ternura
O único indício de que atrás da casa azul com janela na altura da calçada funciona um barzinho é o segurança Marcelo Alves, que fica em frente ao portão. Fora isso, no Lapeju é tudo discreto -até demais. "Sempre tem alguém que bate a cabeça", diz, apontando o batente da porta. Pôsteres de Che Guevara e Marilyn Monroe se destacam na parede de tijolo aparente. Um mural de isopor ainda guarda recados de Laércio, pai dos donos Pedro e Julio, que já morreu. "Ele morava aqui", conta Pedro. O Lapeju reúne alternativos e descolados, que pagam R$ 5 de entrada para beber, petiscar, conversar -e, às vezes, dançar ao som de bandas que tocam ao vivo. Fernanda Lima já passou por lá. "Como é escondido, vão pessoas sossegadas. Gostei disso. O assédio é menor."

SAMBACANA
Samba no Copan
Luz negra e música brasileira -de funk à MPB: é a balada SamBaCana Groove, que acontece quinzenalmente em um salão de festas do edifício Copan e que já atraiu beldades como Ana Paula Arósio. "Gosto do clima de festa", diz ela. Para chegar ao local, é preciso atravessar um restaurante e subir uma escada de metal. Quem conseguir chegar e pagar R$ 15 está dentro. E na festa tem pipoca liberada a noite toda.

SARAJEVO
Quatrocentos atrás da porta
O endereço já tem quase cinco anos, mas muitos nem percebem que no número 1.385 da rua Augusta, na região da Consolação, funciona o Sarajevo. Por fora, é apenas uma portinha colorida; lá dentro, 400 pessoas dançam ao som da música, que varia de dub a funk.
Na casa, de estilo underground, há duas pistas e um palco, onde ocorrem shows todas as noites em que o local abre -de quarta a sábado.

PURI
Melhor no anonimato
Quando abriram o restaurante Puri, dentro de uma galeria na rua Augusta, há quatro meses, os amigos Thiago Marini e Alexandre Bispo nem pensavam em fazer do local uma balada discreta. "Tínhamos colocado a placa lá na frente, mas a dona do imóvel colocou outra de "aluga-se" no lugar. Acabou sendo melhor e preferimos continuar escondidos", diz Thiago. Na programação, DJs e shows de jazz e música francesa, saraus e performances de atores independentes.

PILICO E BIA
Uma vez ou outra
Um restaurante sem hora certa para funcionar. Assim é a casa de Pilico e Bia -José Salgueiro e Ana Beatriz Pereira-, em Pinheiros. "Quando não tem reserva, nem abrimos. Vamos descansar", diz Bia.

 

Não há garçom no local. Cada cliente que escolha sua mesa por conta própria e apanhe no armário os pratos, copos e talheres que vai usar durante a refeição. O item mais pedido do cardápio é a moqueca (R$ 39,50) e os preços não passam de R$ 89 (lagosta para duas pessoas). E como é ter um restaurante dentro casa? "Tirando o cheiro de comida e o de cigarro, que sobem nos quartos, é bem legal", define Bia.

FORRÓ SECRETO
Arrasta pé-maçônico
"Só topo aparecer na matéria se não sair nem endereço nem como chegar à minha balada", avisa o empresário Carlos Magno de Souza, organizador do Forró Secreto, que tem sedes variáveis e neste mês funciona em Perdizes.
 

"Aqui só entra com nome na lista", avisa. E como colocar o nome na lista? "Um amigo seu precisa mandar um e-mail para te indicar", explica. Tanta restrição, argumenta Magno, é para evitar problemas com "estranhos" na balada. Uma vez indicado por um amigo e vencido o bloqueio quase maçônico do local, os freqüentadores são informados, logo de cara, de uma regra básica:
 

Quem passar dos limites lá dentro será condenado à proibição eterna na festa. E também "desgraçará" com o veto o camarada autor da indicação.

CEM
A dona manda embora
Uma cliente etilicamente turbinada se distrai e deixa quebrar um copo de vidro. Ouve-se um grito: "Criançada! Hora de ir para casa". É assim que Mary Lúcia Prado, a Meirinha, avisa seus clientes que precisa fechar o Clube Etílico Musical (CEM). Afinal, o local funciona na própria casa dela, na rua Fradique Coutinho.
 

Meirinha e o marido, o músico Paulo Kannec, alugaram a casa há oito anos e instalaram nela uma lavanderia, onde os amigos ouviam Kannec tocar piano. E assim, em 2002, nasceu o CEM. O casal não mudou a fachada, nem o quintal, onde colocaram algumas mesas e construíram um palco. Visto da rua, o imóvel é irreconhecível. "Quando está muito cheio, algumas pessoas batem e perguntam o que é aqui. Às vezes até deixo entrar, mas é raro isso acontecer."
 

Mesmo sem publicidade, a casa costuma atrair cerca de 70 pessoas por noite. Há 50 sócios de carteirinha, que pagam mensalidade de R$ 10 e, em vez de R$ 5 na entrada, pagam apenas R$ 2.


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