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Portugueses resistem a adotar nova ortografia
Europeus se mobilizam contra o Acordo Ortográfico e despertam dúvidas sobre sua aplicação em Portugal
Grupo aposta nas eleições de setembro para conseguir força política na revisão do acordo; editoras não têm planos para adotar reforma
MARCOS STRECKER
DA REPORTAGEM LOCAL
Desde o início do ano, o novo
Acordo Ortográfico já é uma
realidade no Brasil. Mas em
Portugal, por enquanto, não há
acordo. As novas regras aprovadas no país em 2008 previam
sua adoção em até seis anos. Os
ministérios da Educação e da
Cultura cogitaram sua rápida
aplicação, de forma escalonada,
já a partir de 2009. Mas o movimento contrário à reforma, iniciado ano passado, se expandiu
e provoca dúvidas.
Um abaixo-assinado contrário ao acordo, liderado pelo tradutor e ex-deputado Vasco
Graça Moura, alcançou mais de
113 mil assinaturas. A petição
"Manifesto em defesa da língua
portuguesa contra o Acordo
Ortográfico" foi apreciada por
uma comissão parlamentar,
onde um relatório do deputado
Feliciano Barreiras Duarte foi
aprovado recomendando a
apreciação pela Assembleia
Nacional. Isso ocorreu em
maio passado. Na ocasião, a
maioria governista descartou
rever a sua aplicação.
O movimento contrário
aposta nas eleições legislativas
de setembro para conseguir
força política e forçar a revisão.
Editoras
Os dois maiores grupos editoriais do país (Leya e Porto
Editora) ainda não têm planos
de adotar a nova ortografia.
Principal crítico do acordo
ortográfico em Portugal, o tradutor Vasco Graça Moura diz
que o grande número de assinaturas que conseguiu reunir já
era esperado. "Não se esqueça
de que dispomos de nove pareceres qualificados contra o
Acordo, não havendo nenhum
a favor dele", afirmou.
Graça Moura diz que a petição antirreforma continua
aberta à subscrição e calcula
que dentro de alguns meses as
assinaturas terão duplicado. "É
sintoma da indignação geral
que o Acordo vem causando."
O político acha que a discussão está longe de terminar.
"Considero que é possível evitar a adopção [ele pediu para manter o "p" mudo na grafia da palavra] de um documento absolutamente aberrante em Portugal", disse. "É
certo que o acordo não foi
adoptado em Angola, nem em
Moçambique, nem na Guiné-Bissau, pelo que não vale nada
como acordo internacional e
não pode considerar-se em vigor. Sem contar que adoptá-lo
nessas condições seria estimular o fosso ortográfico que tanto
se dizia querer evitar."
Graça Moura diz que o acordo é inconstitucional e beneficia sobretudo o Brasil, já que as
adaptações são menos numerosas aqui. Para o tradutor, "o
Brasil quase não teve de fazer
cedências e vê abrir-se a porta
de grandes mercados à sua indústria editorial e a um reforço
de influência política e cultural
no plano transcontinental".
O professor de linguística
portuguesa e de fonologia António Emiliano, da Universidade Nova de Lisboa, diz que a publicação do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa
neste ano, pela Academia Brasileira de Letras, contraria o segundo artigo do acordo assinado em 1990, que previa uma
edição comum aos países.
Diante das críticas, a Academia das Ciências de Lisboa divulgou em 25 de junho um comunicado se comprometendo
a lançar uma edição portuguesa
do "Volp" até o final do ano.
"Isso não satisfaz. O "Volp"
brasileiro e o que a Academia
das Ciências de Lisboa tenciona elaborar até ao fim do ano
não cumprem os quesitos do
acordo", diz Emiliano.
Segundo Graça Moura, "a
edição do "Volp", se chegar a ser
feita, não pode escamotear a
questão do vocabulário científico e técnico também exigido
pelo Acordo".
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