|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
cinema
CRÍTICA AÇÃO
Confuso, "400 contra 1" conta gênese do CV
Filme faz espectador se perder em idas e vindas temporais e explica Comando Vermelho pelo lado dos criminosos
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Se tivesse sido feito em
1930, "400 contra 1" seria um
filme "totalmente falado",
como se anunciava então:
um desses em que a imagem
era quase a ilustração dos
diálogos copiosos com que se
buscava demonstrar ao espectador que o filme era, de
fato, sonoro.
Se tivesse sido feito em
1960, poderia rivalizar com
"O Ano Passado em Marienbad", tais e tantas as idas e
vindas no tempo propostas
pela montagem (ou pelo roteiro?), nas quais o espectador se perde facilmente.
Como não é uma coisa
nem outra, o filme assinado
por Caco Souza tende a ser
visto como a tentativa um
tanto confusa de observar o
surgimento do crime organizado no Brasil, isto é, a origem do Comando Vermelho.
ENCONTRO
Admita-se: não foi um parto simples. Existe ali o encontro entre as condições desumanas a que eram submetidos os presos comuns na Ilha
Grande com os presos políticos, que lhes fornecem a, digamos, base teórica para
criar uma organização.
A história já foi contada,
pelo lado da guerrilha, em
"Quase Dois Irmãos" (2004),
dirigido por Lúcia Murat.
Ali, os guerrilheiros ensinavam aos bandidos princípios de organização militar,
com vistas a resistir à tirania
dos guardas.
Mal pensavam que os ensinamentos resultariam no
surgimento de organizações
criminosas capazes de, mais
eficientemente do que eles,
desafiar o poder instituído.
Vista do lado dos bandidos, contada por William da
Silva Lima, dito "professor",
a história traz contradições
não menos interessantes.
Exemplo: os presos políticos são chamados de "pequenos burgueses" pelos
bandidos, o que não deixa de
soar como bela ironia. Ou
ainda: ao assaltar um banco,
os bandidos esclarecem que
não querem "dinheiro dos
trabalhadores".
O QUE FAZER?
A salada ideológica não
vem do filme, mas da realidade. O filme apenas parece se
empenhar em produzir outras tantas: hesitando entre
filme político, de aventuras,
relato confessional e mesmo
não renunciando à épica, o
longa de Caco Souza passa
ao largo de uma questão essencial: o que significa o crime organizado e que atitude
tomar (do ponto de vista ético) em relação a ele.
Se busca, ainda que confusamente, mas de forma honesta, descrever quem são
essas pessoas tidas em geral
como monstruosas, "400
contra 1" passa batido pelo
que há de mais urgente nessa
história: a gênese do Comando Vermelho e congêneres
hoje é irrelevante; o que fazer
com eles é a questão.
400 CONTRA 1 - UMA
HISTÓRIA DO CRIME
ORGANIZADO
DIREÇÃO Caco Souza
PRODUÇÃO Brasil, 2010
COM Daniel de Oliveira, Daniela
Escobar, Lui Mendes
ONDE estreia hoje no Anália
Franco UCI, Frei Caneca Unibanco
Arteplex e circuito
CLASSIFICAÇÃO não indicado a
menores de 18 anos
AVALIAÇÃO regular
Texto Anterior: Literatura: Peruano Julio Chang debate jornalismo literário na Folha Próximo Texto: Crítica/Animação: Humor ácido ressalta valor de anti-herói fracassado Índice
|