São Paulo, sábado, 06 de agosto de 2011

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Manguel lança antologia sobre Jesus

Novo trabalho do ensaísta tem como foco a infância de Cristo, na qual vê semelhanças com os contos de fadas

Livro reúne textos do Evangelho, Corão e dos irmãos Grimm; autor prepara mais um livro sobre o ato da leitura

JOSÉLIA AGUIAR
COLUNISTA DA FOLHA

Um deus que quis ser homem. "Não é uma personagem extraordinária?", pergunta Alberto Manguel, do outro lado da linha, sem esperar resposta.
"É tão ou mais extraordinária que Homero, Hércules, Hamlet ou Alexandre, o Grande", acrescenta o ensaísta de 63 anos que se tornou conhecido por obras sobre história da leitura e antologias de contos de amor e fantasia. Seu "As Aventuras do Menino Jesus", que chega agora às livrarias brasileiras, reúne vários relatos sobre essa figura central da história do Ocidente.
A ironia é que, num mercado onde obras sobre fé e escritas por padres viram best-sellers quase instantaneamente, seu livro que põe Jesus no título nada tem de religioso.
A obra talvez desagrade a quem procure conselhos espirituais. E quem lê Manguel? Vai estranhá-la?
"Acredito na inteligência e no senso de humor dos meus leitores", diz o autor, que participa neste mês da Jornada de Passo Fundo (RS).
Manguel admite, porém, que se publicasse o livro no século 17 seria levado à fogueira. Por receio, conta que não se atreve a fazer um similar sobre Maomé.
E por que escrever sobre Jesus, quando é conhecido por livros sobre autores e livros? "Não acredito que escritores estejam condenados a um tema apenas", explica.
E continua: não é por fé, mas por interesse histórico e literário que teve a ideia de fazer a antologia. Que pode ser também vista, claro, como um livro que trata de história da leitura e da literatura: sobre como nascem as narrativas e como variam no decorrer do tempo.
A primeira versão da Bíblia cristã surge 400 anos depois da morte de Cristo. A lista de textos canônicos, porém, é debatida até hoje, como lembra Manguel.
Católicos, protestantes e fiéis da Igreja Ortodoxa Grega divergem sobre quais livros podem ser incluídos ou devem ser descartados. "A Bíblia é um livro sem limites fixos", ressalta.
Na antologia que organizou, há textos do próprio Evangelho e do Corão. E também cancioneiros ingleses do século 14 e os irmãos Grimm, do começo do 19.
E por que a infância? "Porque se costuma acreditar que é nela que está a origem de tudo", justifica o autor. Ele diz que a infância de Jesus é principalmente uma invenção do período medieval.
O Jesus que encontra nas narrativas do período se parece mais com um personagem de contos de fadas.
Manguel conta que levou na empreitada menos tempo do que se pode imaginar, pois ao longo de décadas de leituras já havia encontrado os textos que deveria incluir. Como tem boa memória, diz que só precisou ir atrás. E foi difícil selecionar? "Não." E para quem escreveu a obra? "Para curiosos, gente que gosta de antologias ou que quer compreender como se desenvolve um personagem em várias narrativas."
É sobre o leitor como metáfora o mote do seu novo livro, que deve concluir até o fim deste ano. Usa fontes que vão da época da Babilônia aos dias atuais.
Manguel diz o título já em português: "Será algo como 'O Viajante, a Torre e o Rato'. Mas esse rato aí é o de biblioteca", completa.

AS AVENTURAS DO MENINO JESUS
AUTOR Alberto Manguel
EDITORA Planeta
TRADUÇÃO Luis Reyes Gil
QUANTO R$29,90 (192 págs.)



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