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Mulheres criaram sociedade e compraram cemitério
da Reportagem Local
"Tradicionalmente, prostitutas
e suicidas são enterrados junto a
um dos muros nos cemitérios judaicos, para reforçar o estigma de
exclusão. É também fugindo disso
que as polacas criam seu próprio
cemitério", conta a historiadora
Beatriz Kushnir.
As polacas de São Paulo criaram
sua sociedade de ajuda mútua e
compraram seu próprio cemitério, mas agora seus corpos estão
enterrados sob lápides que nem
sequer trazem seus nomes.
Em 1972, a prefeitura desapropriou o Cemitério Israelita Chora
Menino, exclusivo das polacas,
sob alegação de abandono. Era
verdade.
A Sociedade Feminina Religiosa
e Beneficente Israelita fora dissolvida quatro anos antes, por falta
de associadas. Estavam todas mortas ou em asilos.
A prefeitura, então, anexou o
terreno do Chora Menino ao vizinho Cemitério Municipal de Santana. A Sociedade Cemitério Israelita de São Paulo, então, levou os
corpos para o Cemitério do Butantã -mas não inscreveu os nomes
das polacas nas novas lápides.
"Isso não deveria ter acontecido", afirma Henry Sobel, 53, presidente do Rabinato da Congregação Israelita Paulista. Na ocasião,
fazia dois anos que Sobel estava no
Brasil. "Acompanhei todo o processo e acho que se tratou de discriminação", diz o rabino, que
não foi consultado.
"Cada uma delas tinha um nome, mas houve uma decisão da
Sociedade Cemitério Israelita de
não dar muita atenção a isso. Uma
coisa é o ato da prostituição, que
condenamos categoricamente.
Outra é diminuir o valor da dignidade humana. Para mim, a peça de
Hillel ajudará a esclarecer um capítulo nebuloso da história dos judeus no Brasil."
Os diretores da Sociedade Cemitério Israelita da época não puderam ser encontrados pela Folha,
mas o atual presidente da entidade, Majer Chil Kochen, afirmou
que não pode inscrever os nomes
nas lápides sem autorização.
"Quem faz isso são os próprios
familiares. Não temos nenhuma
objeção se aparecer algum familiar
e quiser fazer a inscrição. Nós
identificaremos", diz Kochen.
Apesar de não trazerem os nomes, as lápides estão numeradas.
E os nomes correspondentes estão
nos arquivos da sociedade.
"Esse erro pode ser mudado,
desde que haja vontade", diz Sobel. Já o professor de história da
USP Nachman Falbel, 66, discorda
radicalmente do rabino. "Não
compete à Sociedade Cemitério Israelita fazer isso", afirma.
Falbel, que é também diretor de
pesquisa do Arquivo Histórico Judaico-Brasileiro, vai além: "Elas
foram excomungadas, uma vez
que feriram a lei judaica. Não deveriam nem ser enterradas em cemitério comunitário".
(IF)
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