MARCELO NEGROMONTE
da Redação

O Dulôco 99, o maior festival de hip hop que o Brasil já presenciou, tem início hoje com palestras dos DJs Afrika Bambaataa e Grandmaster Flash, às 20h, no Sesc Belenzinho, em São Paulo.
Os shows de hoje começam às 22h com o carioca Black Alien, a dupla Nitro, o experimental e underground norte-americano DJ Spooky e o rapper de Chicago Common.
Amanhã, além dos shows de Grandmaster Flash, Thaíde & DJ Hum e Afrika Bambaataa, haverá um workshop de DJ com o DJ dos Racionais MC's, KL Jay, debate e demonstração de grafite, campeonato de break, além de uma feira de produtos ligados à cultura hip hop no Sesc Belenzinho (leia programação ao lado).
Uma das mais estranhas e originais criações dos EUA, o produtor, músico, intelectual e pintor DJ Spooky veio ao Brasil no ano passado, quando participou do Heineken Concerts e se apresentou no mesmo dia da banda Nação Zumbi. No show de hoje, o seu último álbum, "Riddim Warfare", prevalecerá, mas com "reconstruções". "Será um show de um homem só", diz ele.
Paul D. Miller, seu nome verdadeiro, é um dos fundadores do movimento nova-iorquino "illbient" -o lado negro, doente do ambient- e editor da revista de arte digital "Art Byte".
Em entrevista à Folha por e-mail do Japão, onde se apresentou no último sábado no maior festival japonês de música pop, o Fuji Rock Festival (cujas atrações incluíam Death in Vegas, Catatonia, Chemical Brothers e Blur, entre outros), DJ Spooky falou de Nação Zumbi e o seu aposto "That Subliminal Kid" (aquele garoto subliminar).

Folha - Você tem planos de trabalhar com a Nação Zumbi?
DJ Spooky - Eu adoraria trabalhar mais com a Nação Zumbi. Na verdade, se fosse possível gravá-los só tocando tambores por várias horas -e ficar sentado ouvindo a repetição de sons-, seria um sonho para mim. Toda a tradição dos quilombos é impressionante, e eu fiquei muito honrado em fazer parte dela.

Folha - O que você acha de um festival como esse num país como o Brasil?
DJ Spooky - Eu estou no Japão, e aqui é uma espécie de Brasil oriental pós-moderno. Japão e Brasil possuem conexões bizarras, e isso permite que suas próprias culturas absorvam com mais fluidez as sementes de diferentes aspectos da música do que outros países de posições semelhantes. Essa fluidez cultural sempre aponta para uma crise perpétua de como devemos ver as coisas: isso o força a ser aberto a diferenças -para mim, a cena de percussão brasileira é impressionante, e ver Bambaataa e Grandmaster Flash nesse contexto da diáspora africana... Bem, cria uma esperança em mim.

Folha - Por que o aposto de "That Subliminal Kid"?
DJ Spooky - That Subliminal Kid é um personagem do romance "Nova Express", de William Burroughs, que usava "loops" quebrados para destruir programas mentais de um grupo de pessoas que controlava as "mindscreens" da Terra.


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