São Paulo, domingo, 06 de setembro de 2009

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Arquitetos criticam novo neoclássico em SP

Shopping de Julio Neves, na Vila Olímpia, acentua onda de estilo dos "novos ricos"

Centro comercial que custou cerca de R$ 220 milhões será inaugurado em novembro: um caixote adornado com arcos e abóbada de vidro

Marcelo Justo/Folha Imagem
Fachada ainda em obras do shopping Vila Olímpia,
em São Paulo, que será aberto em novembro


MARIANA BARROS
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Terá ares neoclássicos o mais novo shopping de São Paulo. Cercado de espigões espelhados na Olimpíadas, rua apertada da Vila Olímpia, o complexo que leva o nome do bairro será um caixote que mistura preceitos da arquitetura clássica a aspectos modernosos, como o uso de vidro e metal. Serão 200 lojas, nove cinemas e um teatro distribuídos em seis pisos.
Segue a cartilha dos centros comerciais de luxo na cidade, como a Villa Daslu e o shopping Cidade Jardim, ambos concebidos pelo escritório do arquiteto Julio Neves, que também fez o desenho do Vila Olímpia.
Procurado pela Folha, Neves não comentou o projeto, dizendo que há um acordo de sigilo com o Grupo Victor Malzoni e com a Multiplan, que contrataram o arquiteto para desenhar o complexo de R$ 220 milhões.
Chamando o projeto de "bolo de noiva" e "arquitetura de novos ricos", arquitetos ouvidos pela reportagem criticam os traços.
Fechado num único volume bem demarcado, com formas simétricas, arcos e materiais nobres coroados por uma espécie de abóbada de vidro, é um prédio que, na opinião de arquitetos, não se encaixa na paisagem urbana nem no tempo.
"É uma pena, por se prender a algo que não é contemporâneo", afirma Felipe Aflalo, do escritório Aflalo e Gasperini.
Paulo Mendes da Rocha, vencedor do Pritzker, mais alto prêmio da arquitetura mundial, vê nesse tipo de projeto o "horrível para configurar o horror". "Surge uma arquitetura de caráter não atual para configurar o que já é horrível", diz. "É um curral de lojas."
Na opinião do arquiteto Carlos Lemos, professor da USP, há "uma espécie de ideologia que faz com que o estilo neoclássico seja próprio dos shoppings finos que vendem grifes".
Em vez de seguir critérios arquitetônicos, são projetos que respondem a supostas demandas de mercado identificadas por departamentos de marketing. "O empresário tem sempre medo de errar, fica querendo saber o que o público quer", conta o arquiteto Arthur Casas, que foi chamado para suavizar traços neoclássicos do interior do shopping Cidade Jardim.
Enquanto o arquiteto Paulus Magnus vê na tendência um reflexo da "arquitetura dos novos ricos", o crítico Guilherme Wisnik liga o neoclássico à herança colonial.
"É um estilo que serve muito bem para a burguesia de lugares sem tradição."
Nesse ponto, a Casa Branca em Washington, segundo Wisnik, não está tão distante dos excessos neoclássicos paulistanos -construções em países que buscaram um lastro estilístico na arquitetura europeia.
"Não sei de onde parte essa ideia, mas há outras maneiras de fazer algo interessante sem apelar para um estilo que tem tão pouca consistência, tão pouca identidade", diz Felipe Aflalo. Foi seu escritório que fez o projeto original do shopping Iguatemi, inaugurado em 1966 e forte referência para esse tipo de centro comercial.
"Ele se acomoda no terreno com aquelas rampas. Tem iluminação natural, coisas que foram mantidas ao longo do tempo, cada vez mais presente nos shoppings modernos", afirma.
É um conceito que deve ser repetido no centro comercial que ocupará o terreno da antiga mansão Matarazzo, na esquina da avenida Paulista e da rua Pamplona, no centro. Segundo Aflalo, o projeto buscará ser acolhedor, "mais ambiente de estar do que de corredor".



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