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67º FESTIVAL DE CINEMA DE VENEZA
Martin Scorsese faz homenagem a Elia Kazan
Cineasta exibe filme sobre diretor
de "Um Bonde Chamado Desejo"
Em "A Letter do Elia",
Scorsese faz uma
"declaração de amor"
ao realizador, que
delatou colegas aos
tribunais macarthistas
ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL A VENEZA
Não há artista que não tenha, no seu íntimo e nas frestas de seus trabalhos, um outro artista, alguém que o tenha feito descobrir que uma
obra pode conter o mundo.
Para Martin Scorsese, um
dos mais importantes diretores de cinema em atividade,
esse farol acendeu-se quando ele viu, em 1954, "Sindicato de Ladrões", de Elia Kazan
(1909-2003).
"Eu não sabia nem como
se pronunciava aquele nome, Elia Kazan, mas os rostos, os corpos, a dureza e a
ternura daqueles personagens me deixaram transtornado", diz Scorsese, com os
olhos voltados para a câmera, em "A Letter to Elia" (Carta para Elia), exibido fora de
competição em Veneza.
No ano seguinte, então
com 14 anos, assistiria a "Vidas Amargas", clássico que
mostrou ao mundo James
Dean. Scorsese reviu o filme
incontáveis vezes.
Dali em diante, nunca
mais abandonaria Kazan. "Vi
tudo que ele fez, estudei. Ele
foi um pai para mim. Um pai
diferente, mas um pai."
SORRISO COMO ARMA
É assim, em forma de declaração de amor cinematográfica, que Scorsese devolve
à tela as impressionantes
imagens de Kazan e também
a sua fala.
Kazan, imigrante grego
que jogou-se na árdua aventura de fazer cinema nos Estados Unidos de 1930, surge,
com seu sedutor sorriso, em
fotos e trechos de entrevistas.
"Ele usou o sorriso contra o
sucesso, a fama, as derrotas,
a vergonha, a rejeição", diz a
narração.
E a rejeição ele conheceu
bem. Kazan tornou-se um pária após delatar colegas nos
tribunais macarthistas. Nunca livrou-se dessa marca.
Em 1999, ao receber o Oscar pela carreira, despertou a
ira de alguns colegas, que
ainda consideravam a mancha política maior que sua
obra. Coube a Scorsese e a
Robert de Niro a entrega da
estatueta.
No documentário, dirigido
por Scorsese em parceria
com Kent Jones, essa história
é contada, em muitos momentos, por meio dos filmes.
São as cenas de "América,
América" (1963) que nos permitem entender o que significou para Kazan, nascido na
Grécia, virar artista nos EUA.
É também em cena que
compreendemos a relação do
cineasta com Marlon Brando, ator em "Sindicato de Ladrões" e "Um Bonde Chamado Desejo" (1951).
Ao falar de "Vidas Amargas", Scorsese diz que, quanto mais via o filme, mais entendia a presença do artista
atrás da câmara. Em "A Letter to Elia", ele devolve essa
construtiva experiência aos
espectadores.
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