São Paulo, segunda-feira, 06 de setembro de 2010

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67º FESTIVAL DE CINEMA DE VENEZA

Martin Scorsese faz homenagem a Elia Kazan

Cineasta exibe filme sobre diretor de "Um Bonde Chamado Desejo"

Em "A Letter do Elia", Scorsese faz uma "declaração de amor" ao realizador, que delatou colegas aos tribunais macarthistas

ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL A VENEZA

Não há artista que não tenha, no seu íntimo e nas frestas de seus trabalhos, um outro artista, alguém que o tenha feito descobrir que uma obra pode conter o mundo.
Para Martin Scorsese, um dos mais importantes diretores de cinema em atividade, esse farol acendeu-se quando ele viu, em 1954, "Sindicato de Ladrões", de Elia Kazan (1909-2003).
"Eu não sabia nem como se pronunciava aquele nome, Elia Kazan, mas os rostos, os corpos, a dureza e a ternura daqueles personagens me deixaram transtornado", diz Scorsese, com os olhos voltados para a câmera, em "A Letter to Elia" (Carta para Elia), exibido fora de competição em Veneza.
No ano seguinte, então com 14 anos, assistiria a "Vidas Amargas", clássico que mostrou ao mundo James Dean. Scorsese reviu o filme incontáveis vezes.
Dali em diante, nunca mais abandonaria Kazan. "Vi tudo que ele fez, estudei. Ele foi um pai para mim. Um pai diferente, mas um pai."

SORRISO COMO ARMA
É assim, em forma de declaração de amor cinematográfica, que Scorsese devolve à tela as impressionantes imagens de Kazan e também a sua fala.
Kazan, imigrante grego que jogou-se na árdua aventura de fazer cinema nos Estados Unidos de 1930, surge, com seu sedutor sorriso, em fotos e trechos de entrevistas. "Ele usou o sorriso contra o sucesso, a fama, as derrotas, a vergonha, a rejeição", diz a narração.
E a rejeição ele conheceu bem. Kazan tornou-se um pária após delatar colegas nos tribunais macarthistas. Nunca livrou-se dessa marca.
Em 1999, ao receber o Oscar pela carreira, despertou a ira de alguns colegas, que ainda consideravam a mancha política maior que sua obra. Coube a Scorsese e a Robert de Niro a entrega da estatueta.
No documentário, dirigido por Scorsese em parceria com Kent Jones, essa história é contada, em muitos momentos, por meio dos filmes.
São as cenas de "América, América" (1963) que nos permitem entender o que significou para Kazan, nascido na Grécia, virar artista nos EUA.
É também em cena que compreendemos a relação do cineasta com Marlon Brando, ator em "Sindicato de Ladrões" e "Um Bonde Chamado Desejo" (1951).
Ao falar de "Vidas Amargas", Scorsese diz que, quanto mais via o filme, mais entendia a presença do artista atrás da câmara. Em "A Letter to Elia", ele devolve essa construtiva experiência aos espectadores.


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