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São Paulo, segunda-feira, 06 de outubro de 2003
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Exposição com cerca de 140 obras no Masp permite acompanhar técnica do artista catalão A sagrada família de Gaudí
CYNARA MENEZES FREE-LANCE PARA A FOLHA No lugar das torres gêmeas, um hotel desenhado pelo arquiteto catalão Antoni Gaudí (1852-1926) em Nova York. No ano passado, um artista plástico de Barcelona chegou a propor que o arranha-céus de aspecto futurista, que teria sido encomendado por empresários norte-americanos a Gaudí em 1908 -e nunca realizado- substituísse o complexo World Trade Center, derrubado no atentado terrorista de 11 de setembro de 2001. Ninguém sabe ao certo se Gaudí realmente desenhou o hotel Attraction, conhecido apenas por meio de seu discípulo Joan Matamala, que o desenhou de memória e apresentou um esboço ao público em 1956, mais tarde aprimorado por uma estudante de arquitetura. Certo é que, a partir de hoje, projetos como esse poderão ser vistos de perto pelos brasileiros no Masp, em São Paulo, com a exposição "Gaudí". É uma mostra para iniciados na obra do arquiteto. Profissionais, estudantes, curiosos e fãs poderão apreciar sua técnica em ordem cronológica, que começa com os desenhos feitos ainda no período de estudante. São uma raridade, porque quase todos os projetos originais foram incendiados durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939); a maior parte dos que sobreviveram está presente nesta mostra. Os desenhos da época de estudante, por exemplo, só foram preservados por haverem sido cedidos em 1910 a uma exposição de ex-alunos na Escola de Arquitetura de Barcelona, que não os devolveu. "Foi um ótimo esquecimento", diz um dos curadores da exposição, Mario Andruet, membro da Cátedra Gaudí da Universidade Politécnica de Barcelona. Outros foram salvos por estarem no arquivo municipal da cidade. É o caso das plantas de uma das obras mais famosas do catalão, o parque Güell (1900-1914), que, quem diria, foi projetado para ser uma espécie de "condomínio verde". Encomendado pelo empresário Eusebio Güell, o parque, transformado em espaço público em 1922, teria 60 casas, mas foi um fracasso como empreendimento imobiliário: só teve um terreno vendido. O "apartamento decorado" para visitação dos possíveis interessados acabou sendo utilizado como morada por Gaudí durante mais de 15 anos. Entre os cerca de 140 itens, curiosidades como as peças pré-fabricadas, em formato hexagonal, que sobraram da construção do parque Güell e que foram descobertas em 1954. As peças ajudam a conhecer a técnica de Gaudí de pré-fabricação, além dos detalhes dos mosaicos imaginados pelo arquiteto com objetos de cerâmica defeituosos que adquiria nas fábricas da região -daí o parque ter tantos mosaicos. "Gaudí é um pioneiro dos reciclados", diz Andruet. Outro trabalho interessante é o primeiro desenho feito como profissional, o projeto de uma cooperativa de operários (1873-1885) que, segundo o curador Andruet, suscitou suspeitas posteriores de que o religioso Gaudí tivesse tido uma juventude anarquista. Andruet duvida: "Isso não é verdade, ele sempre foi religioso, mas era um profissional sensível a uma encomenda importante. Além do mais, recebeu durante esse período a encomenda da Igreja da Sagrada Família, que não dariam a um anarquista de 31 anos". Iniciada em 1882 por Francisco Lozano, a quem Gaudí sucedeu no ano seguinte, a Sagrada Família foi deixada inacabada. A exposição mostra fotos da construção e das maquetes em gesso que o arquiteto tomara cuidado em fazer porque não acreditava concluí-la antes de sua morte. Só para ter uma idéia, Gaudí deixou pronta apenas uma das 18 torres previstas. Hoje há oito e, de acordo com Andruet, serão necessários ainda 25 anos para que se conclua toda a igreja. GAUDÍ - Exposição com cerca de 140 peças, entre desenhos, peças de mobiliário, maquetes e fotos. Curadoria: Joan Bassegoda e Mario Andruet. Quando: abertura hoje, às 19h; de ter. a dom., das 11h às 18h. Até 7/12. Onde: Masp (av. Paulista, 1.578, São Paulo, tel. 0/xx/11/251-5644). Quanto: R$ 10. Patrocinador: Bradesco Seguros. Texto Anterior: Programação de TV Próximo Texto: Cinema/artigo: Roubar a beleza árida do sertão seria um esforço inútil Índice |
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