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MÚSICA
Cantor, que pertenceu à Graforréia Xilarmônica, lança segundo trabalho solo, com arranjos de Marcelo Camelo
Frank Jorge condensa o rock'n'roll gaúcho
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Embora seja apenas o segundo disco solo de Frank Jorge,
o álbum "Vida de Verdade" condensa em si e em seu autor uma
fatia generosa do que possa ser o
rock'n'roll do Rio Grande do Sul.
A autoridade de Frank vem de
haver pertencido a duas das principais bandas da safra gaúcha do
rock dos anos 80, Cascavelletes
(com Flávio Basso, ou Júpiter Maçã, ou Jupiter Apple) e Graforréia
Xilarmônica. No final dos 90, formou o trio Cowboys Espirituais
com outros dois heróis obscuros
do rock sulista, Márcio Petracco
(ex-TNT) e Julio Reny.
Abandonando a ciranda em que
um seleto grupo de roqueiros malucos andou se revezando de banda em banda, só em 2000 foi se
aventurar na vida solo, com "Carteira Nacional de Apaixonado".
Criava ali o ápice de sua identidade musical, de um letrista extremamente romântico apoiado
em sonoridade tributária de surf
rock americano e, principalmente, jovem guarda brasileira.
Participando de um espírito que
é quase grude para a maioria dos
artistas pop gaúchos pós-anos 80,
cantava "vou largar a jovem guarda" no exato momento em que
aderia a ela.
Ou seja, era pura gozação -o
que para nove entre dez roqueiros
gaúchos rendeu a comparação
desencaixada com o besteirol dos
Mamonas Assassinas, que podiam ser no máximo aprendizes,
nunca fundadores da tendência.
Frank Jorge deve ser um dos
que sofrem com as comparações,
pois extirpa do novo "Vida de
Verdade" a linha mais próxima
do nonsense pop. A jovem guarda
continua ditando as regras do
som esquisitão e dos vocais angulosos de Jorge.
O romantismo, que antes parecia ter uma intenção zombeteira,
está mais compenetrado, mais sisudo. Se a intenção tem sido decalcar Roberto Carlos com boa
dose de ironia, seu romantismo
parece estar convencido das
idéias sofridas e culpadas do
amor jovem-guardista. É o que
explica um setor lento e tristonho
do CD.
É o que explica também que
Frank Jorge, anti-heróico como
gostam (ou sabem) ser os bem-humorados roqueiros gaúchos,
use com tanta parcimônia a simpatia que provoca em gente como
o Pato Fu e Los Hermanos.
Marcelo Camelo, dos Hermanos, fez os arranjos de sopros para
"Vida de Verdade", "Concurso
Literário" e "Canção Antiga". Fernanda Takai, do Pato Fu, faz vocais quase imperceptíveis em
"Llamas" e "Novo Dia".
Frank sabe que influencia roqueiros Brasil afora. Mas, gaúcho
teimoso que é, prefere fingir que
não estar nem aí e viver a vida de
verdade, bem longe das capitais.
Vida de Verdade
Artista: Frank Jorge
Lançamento: YB Music
Quanto: R$ 28, em média
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