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São Paulo, segunda-feira, 06 de outubro de 2003

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MÚSICA

Cantor, que pertenceu à Graforréia Xilarmônica, lança segundo trabalho solo, com arranjos de Marcelo Camelo

Frank Jorge condensa o rock'n'roll gaúcho

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Embora seja apenas o segundo disco solo de Frank Jorge, o álbum "Vida de Verdade" condensa em si e em seu autor uma fatia generosa do que possa ser o rock'n'roll do Rio Grande do Sul.
A autoridade de Frank vem de haver pertencido a duas das principais bandas da safra gaúcha do rock dos anos 80, Cascavelletes (com Flávio Basso, ou Júpiter Maçã, ou Jupiter Apple) e Graforréia Xilarmônica. No final dos 90, formou o trio Cowboys Espirituais com outros dois heróis obscuros do rock sulista, Márcio Petracco (ex-TNT) e Julio Reny.
Abandonando a ciranda em que um seleto grupo de roqueiros malucos andou se revezando de banda em banda, só em 2000 foi se aventurar na vida solo, com "Carteira Nacional de Apaixonado".
Criava ali o ápice de sua identidade musical, de um letrista extremamente romântico apoiado em sonoridade tributária de surf rock americano e, principalmente, jovem guarda brasileira.
Participando de um espírito que é quase grude para a maioria dos artistas pop gaúchos pós-anos 80, cantava "vou largar a jovem guarda" no exato momento em que aderia a ela.
Ou seja, era pura gozação -o que para nove entre dez roqueiros gaúchos rendeu a comparação desencaixada com o besteirol dos Mamonas Assassinas, que podiam ser no máximo aprendizes, nunca fundadores da tendência.
Frank Jorge deve ser um dos que sofrem com as comparações, pois extirpa do novo "Vida de Verdade" a linha mais próxima do nonsense pop. A jovem guarda continua ditando as regras do som esquisitão e dos vocais angulosos de Jorge.
O romantismo, que antes parecia ter uma intenção zombeteira, está mais compenetrado, mais sisudo. Se a intenção tem sido decalcar Roberto Carlos com boa dose de ironia, seu romantismo parece estar convencido das idéias sofridas e culpadas do amor jovem-guardista. É o que explica um setor lento e tristonho do CD.
É o que explica também que Frank Jorge, anti-heróico como gostam (ou sabem) ser os bem-humorados roqueiros gaúchos, use com tanta parcimônia a simpatia que provoca em gente como o Pato Fu e Los Hermanos.
Marcelo Camelo, dos Hermanos, fez os arranjos de sopros para "Vida de Verdade", "Concurso Literário" e "Canção Antiga". Fernanda Takai, do Pato Fu, faz vocais quase imperceptíveis em "Llamas" e "Novo Dia".
Frank sabe que influencia roqueiros Brasil afora. Mas, gaúcho teimoso que é, prefere fingir que não estar nem aí e viver a vida de verdade, bem longe das capitais.


Vida de Verdade   
Artista: Frank Jorge
Lançamento: YB Music
Quanto: R$ 28, em média



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