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COLEÇÃO
Títulos da VideoFilmes vão de Pasolini à inédita nos cinemas "Batalha do Chile", sempre com extras importantes
Conceito de "DVD de arte" cresce no Brasil
SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL
O segmento da indústria do entretenimento que mais aumenta
no mundo é o do DVD. Na porcentagem de crescimento e em
números absolutos de venda e
aluguel, o formato já desbancou o
combalido VHS, os ingressos
vendidos em cinema, os livros
consumidos e qualquer outro suporte artístico. São US$ 20 bilhões
(R$ 44,9 bilhões) em faturamento
e 60% das locações só nos EUA.
No Brasil, o mercado deve chegar
a R$ 1 bilhão em 2005, com crescimento de 79% na venda direta ao
consumidor, segundo dados da
revista especializada "Filme B".
Tamanha "exuberância racional" dá margem a nichos e subnichos. Um deles é o "DVD gourmet", ou "DVD de arte", que se
especializa em títulos que sejam
raros, estejam há muito tempo fora do mercado, tenham cópias
destruídas ou maltratadas ou
simplesmente não cheguem às salas de cinema. Pois o Brasil ganha
seu primeiro selo desse tipo digno
do nome. Vem da produtora VideoFilmes, que lança sua coleção
até o final de outubro, segundo
apurou a Folha.
O nome é redundante: Coleção
VideoFilmes. Criada em 1985 pelos irmãos João Moreira e Walter
Salles e o amigo Maurício Andrade Ramos, a produtora homônima é responsável pela produção
de longas como "Cidade de
Deus", de Fernando Meirelles e
Katia Lund, de 2002, indicado para quatro Oscars, e "Central do
Brasil", do próprio Walter, de 98,
indicado para duas estatuetas, entre dezenas de outros filmes.
Pois a empresa carioca chega
com uma lista inicial de títulos e
nomes de peso, que vai dos italianos Pier Paolo Pasolini (1922-1975), com seu seminal "Teorema", de 1968, e Federico Fellini
(1920-1993), com "Os Palhaços",
de 1971, a pelo menos quatro filmes do documentarista francês
Jean Rouch, o pai do "cinema verdade", morto no ano passado, cuja obra é virtualmente ausente das
locadoras do país, passando pelo
brasileiro "Onde a Terra Acaba",
de 2002, sobre Mário Peixoto
(1908-1992).
Documentários, aliás, devem
dar o tom da coleção, inspirada
francamente na norte-americana
Criterion, objeto de desejo de 11
em cada dez cinéfilos. Dois dos
primeiros lançamentos confirmam a tendência. São eles a trilogia "Batalha do Chile" (inédita no
Brasil até agora, mas com exibição programada para a Mostra de
SP), feita entre 75 e 79 por Patricio
Guzmán, e "A Batalha de Argel"
(65), de Gillo Pontecorvo.
O lançamento de "Chile" em
DVD será acompanhado da exibição em tela grande do filme, com
uma mesa de debates à qual serão
convidados brasileiros que tenham a ver com aquele momento
do país vizinho, em que um presidente socialista eleito democraticamente era derrubado por um
golpe militar liderado por Augusto Pinochet. A produtora fará
eventos do tipo sempre que o título for inédito ou esteja há muito
tempo longe dos cinemas.
Já o drama político dirigido por
Pontecorvo, que mostra o movimento de libertação da Argélia
centrado na figura do revolucionário Saadi Yassaf, está atualmente em cartaz no Cineclube Vitrine
de São Paulo, mas chega ao DVD
carregado de atrações extras que
o fazem valer à pena como item
de colecionador.
O critério da escolha dos títulos,
tanto os 17 já confirmados quanto
os cinco em negociação obtidos
pela Folha, é puramente pessoal,
confirma João Moreira Salles. "É
uma lista de afinidades, que reflete minhas preferências, as preferências do Waltinho e sugestões
de pessoas próximas nossas." Este
conselho informal é composto
por, entre outros, Nelson Pereira
dos Santos, Eduardo Escorel, Karim Aïnouz e Sérgio Machado.
Já o aspecto mercadológico não
parece ser a principal preocupação da coleção, embora um plano
ambicioso de vendas esteja em
marcha. Segundo cálculos de
Maurício Andrade Ramos, há um
mercado no Brasil para que este
tipo de DVD venda entre 1.500 e
3.000 cópias a cada lançamento,
embora um título parecido com
os da coleção, mas lançado antes,
que é o documentário sobre o pianista Nelson Freire, tenha chegado aos 16 mil até agora.
A VideoFilmes pretende colocá-los tanto nas locadoras quanto
para o consumidor via livrarias,
como Cultura e Saraiva, e sites,
como Submarino e Americanas.
Sobre sites, aliás, há uma história
curiosa. João Moreira Salles dá
aula de documentário no Departamento de Jornalismo da PUC-RJ, e uma aluna que fazia uma
monografia sobre sua produtora
veio lhe falar, envergonhada, sobre o endereço da VideoFilmes.
Ela procurava os filmes da produtora, "mas não aqueles que
aparecem no site", disse. A produtora não tem site, respondeu
ele. Tem sim, insistiu ela, sem o final ".br". Pois o cineasta entrou
em www.videofilmes.com. "É
um site pornô português do arco-da-velha", ri ele. "Você quer
anões com cavalos? Tem. Mulheres com touros? Tem também."
Não, nenhum dos títulos portugueses será lançado pela coleção,
que chega às lojas a um preço unitário de R$ 45, em média.
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