São Paulo, sexta-feira, 06 de outubro de 2006

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De Palma ressurge com "Dália Negra"

Após 13 anos de produções ruins ou regulares, diretor filma assassinato controverso, baseado em livro de James Ellroy

"Ninguém está fazendo filmes muito interessantes nos grandes estúdios de Hollywood", afirma o cineasta norte-americano


Divulgação
Josh Hartnett e Aaron Eckhart (os dois ao centro) em cena de "Dália Negra", história clássica de crime e intriga em Hollywood


JAMES MOTTRAM
DO "INDEPENDENT"

Da última vez em que um filme de Brian De Palma seria exibido em um festival, ele preferiu não comparecer. Foi em Cannes, em 2002, e o filme, "Femme Fatale", sua penúltima produção, era um thriller corretamente descrito por um crítico como "uma forma de dejeto que só De Palma poderia criar". Já que esse trabalho se seguiu ao desastroso "Missão Marte", ficção científica lançada em 2000, havia muitos críticos dispostos a crucificar o diretor, que ganhou fama na mesma época em que Martin Scorsese e Francis Ford Coppola, com clássicos como "Scarface" (1983) e "Os Intocáveis" (1987).
Mas no Festival de Veneza deste ano, De Palma estava muito presente e entusiasmado, talvez porque seu novo filme, uma adaptação de "A Dália Negra", romance do escritor de mistério James Ellroy, é seu melhor trabalho em anos. Mas isso não quer dizer muito. Até mesmo os ávidos fãs de De Palma precisam admitir que pelo menos desde 1993, com "O Pagamento Final", o diretor não oferecia um bom filme.
Curiosamente, a recente perda de qualidade do trabalho de De Palma coincide com seu afastamento de Hollywood. Em 2000, ele decidiu que viveria na França e morou em Paris por dois anos. Foi lá que ele escreveu o roteiro de "Femme Fatale". "Eu simplesmente tinha de sair dos EUA. Queria saber como era a vida do outro lado do Atlântico. Transferi-me para lá, morando em um hotel, para ver o que acontecia." O que aconteceu foi um grande números de críticas cruéis e bilheteria de míseros US$ 6 milhões.
De Palma, 65, é uma sombra do homem que foi no passado. Aparentemente, Hollywood o demoliu. "Eu já estive dentro e fora do sistema muitas vezes", admite. "Ninguém está fazendo filmes muito interessantes nos grandes estúdios de Hollywood. Os filmes interessantes em geral são produções independentes ou financiadas por investidores europeus."

Três anos de trabalho
Bancado completamente por capital europeu, e com orçamento de US$ 45 milhões, "Dália Negra" talvez seja um dos filmes "independentes" mais caros de todos os tempos. "É a espécie de filme que eles não gostam de fazer", resmungou De Palma sobre os estúdios norte-americanos. Assim, não surpreende que, a despeito de ser estrelado por Josh Hartnett e Scarlett Johansson, o filme tenha demorado mais de três anos para ser completado.
O resultado final é elegante, trabalho de um diretor que parece ter redescoberto seu toque, bem como o número de telefone do lendário diretor de câmera húngaro Vilmos Zsigmond, com quem havia colaborado pela última vez em "A Fogueira das Vaidades", em 1990.

Obsessões
"Dália Negra" é uma história clássica de assassinato, corrupção e intriga no coração sombrio de Hollywood. Comprimido pelo roteirista Josh Friedman com base no denso trabalho de Ellroy, o filme é uma narrativa fictícia baseada no assassinato de Elizabeth Short, uma atriz de pouco sucesso que recebeu o apelido de "Dália Negra" devido aos seus cabelos escuros e ao filme "The Blue Dahlia", um noir estrelado por Alan Ladd e lançado no ano anterior ao assassinato de Short, em 1947. Depois do crime grotesco, tanto no romance quanto no filme a tarefa de capturar o assassino se torna responsabilidade de dois policiais, Lee Blanchard (Aaron Eckhart) e Bucky Bleichert (Hartnett), ex-boxeadores apelidados, respectivamente, de Fogo e Gelo.
Já que o assassinato real nunca foi resolvido e inspirou inúmeras teorias, trata-se de material perfeito para um diretor como De Palma. Um homem que pode ser definido como um obcecado pela obsessão, ele já tratou do tema inúmeras vezes, especialmente em "Um Tiro na Noite" (1981).
De Palma prefere trabalhar na Europa? Ele suspira. "Tudo gira em torno de quem estará no filme. Se você consegue Tom Cruise, ótimo... Mas, se eu tiver Tom Cruise, não preciso dos estúdios!" É duvidoso imaginar que De Palma volte a contar com grandes atores. Mas isso pouco importa, porque ele é sempre o astro de seus filmes.

Tradução PAULO MIGLIACCI

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