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Crítica/"Do Luto à Luta"
Convenções da reportagem restringem força do filme
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
A naturalidade com que
trata da síndrome de
Down torna "Do Luto à
Luta" um documentário de notável função social, ao descortinar um mundo ainda cercado
de preconceito e desinformação. Essa tarefa é cumprida
com relativa simplicidade. Em
primeiro lugar, ouvem-se pais
cujos filhos ingressaram na estatística (cerca de 8.000 bebês
por ano nascem com esse problema genético no Brasil).
As histórias relatadas por
eles assinalam, entre outros aspectos, o peso da responsabilidade que surge na própria maternidade. É o momento descrito por uma das mães como
de "luto", em seguida substituído pela "luta" -o esforço de
tratar com amor e oferecer
oportunidades a alguém que a
sociedade tenderá a segregar.
Aos poucos, entram em cena
crianças, jovens e adultos
"downianos". Eles falam sobre
o que pensam, sentem e desejam, enquanto o filme os acompanha em plena inserção social
-na escola, praticando esportes, trabalhando, namorando.
Dar voz (e imagem) a quem
não costuma ser ouvido (e visto
além do estereótipo) é também
o procedimento-base de "À
Margem da Imagem" e "À Margem do Concreto", documentários de Evaldo Mocarzel.
Um dos "downianos" pergunta ao diretor por que está
fazendo o filme. A resposta possibilita que Mocarzel se revele
personagem do cenário que registra, assumindo a condição de
cineasta-participante, tão envolvido pelo assunto quanto
seus entrevistados.
A informação tem um quê de
intromissão, tardia e cercada
de alguma artificialidade autoral. Configura opção bem distinta, por exemplo, do procedimento que levou Kiko Goifman
a conceber "33" a partir da
coincidência entre sujeito e objeto do documentário.
A naturalidade e a simplicidade de "Do Luto à Luta" trabalham pela difusão de uma boa
causa, mas acabam também, ao
optar por procedimentos narrativos que giram apenas em
torno de recursos e convenções
básicos da reportagem, por restringir a sua força.
DO LUTO À LUTA
Direção: Evaldo Mocarzel
Produção: Brasil, 2005
Quando: em cartaz no Frei Caneca Unibanco Arteplex
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